Moça, esquece dos que te viram uva. Fica ao lado de quem te sabe vinho

Estou andando no meio de antigas parreiras. Delicados cachos de uva pendem por todos os cantos. São uvas Pinot Noir. Dizem que essa é a rainha das uvas tintas. E é verdade, eu concordo. A Pinot Noir é uma uva delicada, que exige muito empenho e cuidado no cultivo, no entanto, os vinhos feitos dela são os mais misteriosos e perfumados do mundo.

Quando olho para essas parreiras me lembro de você, mas não a vejo como um cacho de uva a ser degustado de pronto, eu te enxergo como um vinho sedoso e suave, capaz de adoçar os mais duros corações.

Moça, nem todos sabem fazer vinho, e bem poucos sabem como cultivar essa uva. Ela é difícil e temperamental. Não se adapta a qualquer solo, não se adapta onde a querem plantar. Ela vai bem onde sente que pode ser exatamente o que é. Você é assim, já reparou?

Eu imagino que no passado muitos devem ter achado essa uva caprichosa demais. Julgaram-na presunçosa por preferir a proximidade com o mar. Acharam-na pouco prática por não poderem plantá-la junto das outras. Mas um dia houve um alguém que a olhou de um jeito diferente e entendeu que ela precisava de outros toques, de novas técnicas, que ela exigia entrega. Que o que era ideal para as outras, não funcionava bem com ela.

Moça, você é a doçura e a insensatez juntas, assim como essa formosa uva e eu que nasci em terras antigas, que vi os que vieram antes de mim fazerem alquimia com o solo, vejo a uva que hoje você é, e o vinho que amanhã será.

A vida me ensinou a transformar a terra, o vento, o sol e a lua em vinho. E é por isso que eu te conto que a poesia da vida está no amor que cuida. O amor é soma e transformação. Só ele é capaz de enxergar o vinho que há em um cacho de uva.

Moça, esquece quem um dia te viu pequena. Quem te listou pelas suas particularidades, dizendo serem ruins. Não dê ouvidos aos que te quiseram efêmera. Busque no mundo quem te ame e transforme em alguém melhor.

Mas seja você a primeira a acreditar naquilo que pode ser. Acredite na magia da vida. Na transformação amorosa daqueles que cultivam o solo com amor. Espere o tempo certo. Receba com carinho o sol, a chuva, a luz da lua e o vento. Todos têm sua razão de ser.

Tire das suas raízes forças e não permita que te colham antes do tempo. Cresça com as intempéries e evolua. Moça, transforme-se naquilo que você nasceu para ser.

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Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain



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Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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