Quando foi que deixei de amar você?

Imagem de capa: racorn, Shutterstock

Não lembro o dia que deixei de te amar. Eu parei para pensar como as coisas deixaram de ser, mas, de fato, não sei mensurar dia, hora e local que deixei de te amar. Você vai dizer que parei de te amar quando bati a porta e saí para a rua, mas a verdade é que aquela porrada doeu mais em mim do que na madeira que estremeceu com o impacto.

Não foi fácil, sabe? Eu precisei reunir tudo de coragem e força de vontade para sair para o mundo que me chamava lá fora e te deixar para trás, porque simplesmente não te via comigo lá na frente. Mas eu fui te amando muito. Cada passo dado doía e a gravidade me puxava – loucamente – de volta para você.

Venci. Te amando muito, mas venci. E parece um bocado estranho essa vibe de dizer que fui embora sentindo amor e você ficou sentindo amor, então, porque porra a gente não ficou junto, grudados, enlaçados sentindo e fazendo amor? Eu amava esse grude, entre panelas e lençóis, então não sei porque parti sabendo que te amava demais.

Sufocava, confesso. Eu deixei de ser eu e passei a ser quem você queria que eu fosse. Adorava essa nova versão de mim, mas cada dia me via menos nela. Num rompante de falta-de-ar-preciso-ser-livre, assim, sem pausas, eu decidi que era hora de ir embora. E fui.

Sabe, mais do que ir embora amando você, doeu o fato de você ficar me olhando partir. Você não moveu um dedo sequer pedindo para que eu ficasse – simplesmente me deixou ir. Enquanto descia o elevador, vendo minhas lágrimas rolarem naquele espelho, acho que te amei um pouco menos.

Minha cabeça não para de pensar… Eu gosto de pontuar tudo na minha vida, saber quando, quem, poréns. Então busco saber quando foi que botei um ponto final no meu amor e ele deixou de ser, para ser qualquer outra coisa: carinho, gratidão, indiferença. E não sei dizer.

Vez por outra arriscava dizer que não tinha pontuado ainda, porque ainda sobrava um tico de amor do lado de cá. Vez por outra arriscava dizer que não tinha pontuado ainda, porque ainda tinha esperança de ter um pouco de amor do lado de lá. Vez por outra arriscava dizer que não tinha pontuado ainda, porque eu esperava você vir atrás de mim, me segurar pelos braços, me olhar no fundo do fundo da minha íris e implorar para eu ficar, derramando clichês atrás de clichês sobre mim.

Mas cutucando essa ferida já bem cicatrizada, não sinto mais amor-amor. É mais uma saudade daquela que fui e isso, de fato, não tem nada a ver contigo, sabe? Ou tem? Me assusta essa falta de ponto final na nossa história. O não saber como, quando ou porquê…

Desculpa, mas não lembro o dia que deixei de te amar.



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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