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Saudade que machuca

Imagem de capa: ALEXEY DADANOV, Shutterstock

Hoje acordei com o sol nascendo na minha janela e com ele aquele mesmo nó na garganta. Aquele que aperta quando me dou conta de que você não está mais aqui. Nos meus sonhos você está sempre a sorrir e quando abro os olhos a cama está vazia. O ar falta aos meus pulmões e fecho os olhos abraçando os joelhos na ânsia de te materializar. Em vão. Algumas lágrimas rolam silenciosas quando preparo apenas uma xícara de café. Ele sempre me aquece o corpo e a alma porque sinto falta de calor, aqui é inverno desde que você partiu.

Você foi embora, mas não me deixou sozinha, deixou aqui uma monstruosa saudade. Uma sombra do que ainda viveríamos e uma montanha de lembranças doces. E entre recordações e delírios tenho me perdido de mim mesma. Mergulhado na fantasia de existir apenas no que é irreal. A vida vem acontecendo, mas observo sem entusiasmo. Reajo lentamente e apenas para sobreviver a mais um pôr do sol. Logo ele nasce de novo na minha janela e minha garganta é sufocada pelo nó da sua ausência prolongada.

Me arrasto da cama para o sofá, do sofá para a cozinha, da cozinha para a varanda e não te encontro em cômodo algum. Também não me encontro e sinto que o vazio tomou conta de tudo por aqui. Não tem mais você, não sobrou nada de mim e ficou só saudade. Uma saudade brutal que grita em silêncio, que tiraniza o relógio e impera em qualquer tempo. Ela devasta os sonhos, mói os planos e extermina as aspirações. Corrói os sorrisos, derrota a esperança e destroça a ambição. Ela é implacável.

Vivo na esperança de que essa saudade vá embora, esperando que ela se canse de me punir e pare de cutucar minhas feridas. Mas ela não vai e fica cada dia mais forte, mais cruel, mais impiedosa. É preciso despertar para o fato de que ela não vai embora sozinha, eu preciso expulsá-la daqui. Se eu permanecer inerte ela vai me engolir e não posso suportar a ideia de viver nessa lama de privação e ausência. Ainda me parece impossível, mas é do improvável que surgem os heróis. Preciso controlar o incontrolável, limitar o ilimitável e reduzir o irredutível. Nem toda saudade é boa, a sua é saudade que machuca e preciso estancar a hemorragia.

Monika Jordão

Atriz, escritora e paulistana. Acredita que o papel reflete mais do que o espelho. Apaixonada por livros, futebol, tequila, café e Coca-Cola. Buscando sempre o equilíbrio emocional e os amores inesquecíveis.

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Monika Jordão

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