Desde pequena disseram para ela ser Amélia… E ela foi… Capitu!

Alice é de longe a mulher mais incrível que já conheci. Mistura agridoce que escorre pelo cantinho do lábio inferior, e que rapidamente é atirada à dedo para dentro da boca, porque seria um desperdício perder-se em gota.

Alice é daquelas que tira a paz, te rouba a sanidade e devolve em glória toda tua essência servida à garfo e faca. Já foi do tipo inocente, mas sempre impôs respeito, pelo menos seus recados eram sempre dados. Alice é do tipo de mulher que suga toda tua expectativa no mundo feminino. Aquela junção que dá vontade de riscar de fora a fora, só pra acrescentar defeito. Porque até os próprios defeitos à tornam indispensável. É quase inaceitável deixá-la ir.

Alice é benjamim consciente. E dá raiva só de pensar. Mas a raiva que ela provoca tem um “Q” indecifrável, que te atira na cama com a glande latejando à libido. É, pode confessar que tu já provou dessa cólera que SÓ ELA germina. É meu caro, se tu já provou… tsc tsc tsc.

Alice, depois de muito dar com a cara na parede, aprendeu a olhar para si, e olhar com mais inteligência para a natureza humana. Entendeu, entre muitas coisas, que é do tipo de mulher que nunca fica sozinha se não quiser, que é insigne mesmo não sendo célebre. Sua existência ela entrega à poucos. Estritamente seletiva.

Às vezes garota, às vezes mulher. Usa de um artefato para lhe mostrar o outro. Te ganha na manha. Avassala na marra. Aquela marra que tu se atira e goza de pirraça.

Às vezes cantora, outras cronista. Às vezes santa. Outras meretriz, mas só entre quatro paredes, porque não é e nunca foi do tipo que gosta de aparecer. Às vezes me pergunto se ela não age assim só para que os marmanjos questionem a sorte absoluta de outrem.

Essa mulher não é de riso fácil. Muito me admira que o arranquem sem esforço. Alice é do tipo que só se deixa ser por quem conquista sua total confiança. Ah isso faz dela a mulher mais apaixonável e intrigante que tive o desprazer de deixar partir. É o tipo de garota que se rasga de amor, não conhece meio termo. Me lembro de ter dito diversas vezes o quanto me sentia sufocado, sem nem sequer cogitar a possibilidade de um dia me sentir vazio com sua ausência.

Porque ela é assim, entra na sua vida e transborda. Mas quando resolve dar um passeio definitivo, leva tudo consigo. Furacão. Ladra. Olha pra trás com uma auto-suficiência interminável. E te deixa atirado em qualquer beco da cidade à perguntar por ela e por ti.

Uns chamam isso de egolatria, eu, de petulância. E ela sabe, cara. Ela sabe que você dará vários passos, pode alcançar o sucesso, ter uma família, viajar, se acabar nas taças de choop por aí, mas ela também sabe que nada disso terá o gosto que ela dá pras coisas. E ela sabe também que você não vai procurá-la, não porque você não se importa mais, mas porque atina que a presença dela te incomoda, e que você é incapaz de controlar seus instintos diante de tanta provocação.

Alice é a melhor luxúria dos homens que já caçou. Sim, eles a chamavam de caçadora. Porque ela é o tipo de mulher que não tem pudores na cama. Ela nem sempre foi assim, mas agora, se tornou o sonho erótico de qualquer varão.

Essa petulante não se preocupa mais que a deixem para trás, porque teve de aprender a se erguer sozinha nas inúmeras vezes em que foi abandonada às traças. Se tu pudesses enxergar a força que essa mulher pariu, ficarias orgulhoso.

E sabe o por que de tanta soberania? Alice não é do tipo “boa em alguma coisa”. Ela é uma junção de vários dotes. E ela não está preocupada em te manter por perto só porque tem destreza entre os lençóis, ela sabe que pode te manter por perto porque não é só o tipo que te satisfaz na sexta ou no sábado à noite, mas é o tipo de mulher que você quer acordar numa segunda às seis da manhã só para admirá-la enquanto ela dorme.

Ela não é dessas garotas comuns que você encontra em todas as baladas que vai. Ela é excêntrica. Alice é a mulher que tu escolhe para levar ao altar, ou ao motel. É a mulher que tu quer pra ser a mãe dos seus filhos, porque ela carrega valores que você sabe que não vai achar, ou vai demorar muito para encontrar de novo. Alice é a mulher que te ergue quando o mundo te vira as costas, e te diz olhando nos olhos, feito um treinador de MMA “Vai, e mostra quem é que manda!”. Ela é a mulher que te faz olhar pra si através dos olhos dela, e que enaltece ao extremismo tua masculinidade.

E ela sabe, cara. Ela sabe de tudo isso. Mesmo que às vezes caia nas redes da paixão, e se esqueça pelo caminho. Algum dia ela tem um estalo e se lembra de quem é. E ela não permite, em hipótese alguma que lhe digam como ela deve ser ou agir. Ela não permite porque só ela sabe das suas noites mal dormidas, você não chorou suas lágrimas, nem doeu suas dores. Ela te entrega o melhor dela, te arranca do fundo do poço e te olha no palanque sem reconhecimento algum, com um sorriso absoluto no rosto só por te amar. Porque Alice também é coração.

Mas nem sempre foi assim, acredite. Ela era adepta da abnegação. E ela sabe que ganhou mais do que perdeu sendo assim. Sobre sua desambição, não sei onde foi que ela decidiu abandonar, nem quando, nem por quem.

Ela se reconhece no outro quando o outro conhece suas facetas. E reconhece o desdém na mesma intensidade. Tu sabes que ela é melindrosa. E tu sabes também que assim como você, ela tem vários abutres à espera da carniça de uma falha tua.

Se eu puder te dar um conselho parceiro, é, diga à ela quantos motivos ela tem para ficar, todos os dias se possível.

Porque Alice, não é mulher bumerangue. É determinada.

Ah, se eu soubesse disso antes.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena da minissérie da Globo: “Capitu”.



LIVRO NOVO



Ana Carolina Santos Mãe em tempo integral; Apaixonada pela ética e pela liberdade; Escrevo por amor às causas perdidas! Instagram: @cronicasdeumavidanaovivida

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