“Quando você tiver um filho, você vai entender”. Vi a notícia da morte do filho de uma cantora e lembrei exatamente dessa frase. A verdade é que ainda não sou pai, mas acredito que não existe nome capaz de expressar a dor da perda de um filho.
Já acompanhei de perto a dor de duas mulheres: Dona Maria e Helena. Era um sábado do mês de maio. Dona Maria esperava sua filha chegar de viagem. Espera sem fim. Quando ela viu a sua médica de confiança entrando na sua casa, um filme passou na sua cabeça. Ela respirou fundo para suportar o que estava por vir. Sua filha sofreu um acidente de carro na estrada, foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. Eu também fui vítima desse acidente. Testemunhei a dor de uma senhora que teve que enterrar a sua filha em pleno dia das mães.
Quando eu tinha 9 anos, acompanhei a dor de Helena, vizinha do 301. Era mais um domingo corriqueiro. “Acorda, Vitor, já são 11 horas. Vamos almoçar na casa da sua avó”. O seu filho não acordou. Após uma intuição dilacerante, ela veio até o apartamento da minha família pedir ajuda para meu pai. Fomos até o seu apartamento. Quando meu pai arrombou a porta do quarto, o corpo do filho estava no chão manchado de sangue. Durante a madrugada, ele cometeu suicídio. O grito de dor daquela mulher ecoou o prédio inteiro. Meu pai tapou meus olhos rapidamente, mas guardo na memória a cena da mulher aos prantos com o filho no colo. Lembrei da imagem de Pietá, com Jesus morto nos braços de sua mãe.
Quando eu escutei a música “Pedaço de mim” do Chico Buarque pela primeira vez, revisitei a dor avassaladora de ter uma “metade amputada” daquelas mulheres. Compreendi através das histórias “que a saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”.
Mas descobri também que o período do luto pode ser acentuado pela ferida exposta da falta de respeito. Dois dias após a morte da sua filha, um advogado foi até a casa de Dona Maria para conversar sobre um possível processo. Na missa do sétimo dia do filho de Helena, uma senhora tentou consolá-la. “Helena, meus pêsames. Vou rezar por você e seu marido. Infelizmente, seu filho já foi condenado ao Inferno.”
Relembrei de todas essas cicatrizes quando abri a página do Facebook da cantora que perdeu seu filho e me deparei com muitos comentários desumanos. Perdemos a fé na humanidade quando vemos pessoas desrespeitando a dor de uma mãe que teve o filho morto, independentemente da razão da morte. Sei que muitas pessoas querem ter vez e voz na internet. Mas, precisamos buscar sabedoria para respeitar um momento de extrema vulnerabilidade. Vivemos um tempo em que se torna urgente ensinar empatia para as pessoas. Necessitamos respeitar a dor de quem vive um parto às avessas. Se não souber o que falar, silencie.
O mundo da música brasileira está de luto com o falecimento de Anderson Leonardo, aos…
Há quase três meses, a rotina incomum de duas mulheres tem chamado a atenção na…
No abrigo Vanderburgh Humane Society, em Indiana, nos Estados Unidos, uma história peculiar ganha destaque:…
A renomada cantora e ex-participante do reality show Big Brother Brasil, Linn da Quebrada, revelou…
Um laudo da Polícia Técnico-Científica revelou que o Porsche conduzido pelo empresário Fernando Sastre de…
No último domingo, 21 de abril, Davi Brito, vencedor do BBB24, recorreu às redes sociais…
View Comments
Obrigada,pela sensibilidade..faço parte das maes que vive esse parto aos avessos,confesso que a vida se tornou cinza sem razão de ser.A cada dia precisamos levantar determinadas a colorir nossos dias,por nos ...pelo que sobrou de nós...