A difícil realidade da vida acadêmica

Precisamos de mais uns cem anos de vida e de mais 24 horas por dia.
Ah, também gostaríamos de ter saúde e de vida social.
Seria pedir muito?

Recentemente têm surgido algumas notícias de que o professor brasileiro é o que mais trabalha. Não tenho dúvidas.

Já cansei de ver professores dando 8 disciplinas de 4 horas, junto com a tese de doutorado para ser feita e entregue no prazo. Além de trabalharem em outros lugares e tentarem ter uma vida ainda prazerosa.

Isso fez com que eu passasse a pensar sobre alguns aspectos do desenrolar desta história.

Eu, assim como muitos de vocês, leitores, pretendo fazer um mestrado, um doutorado e elevar meu papel social, tentando passar adiante alguns conhecimentos que julgo como básicos para uma sociedade. Inclusive para ajudar na contribuição de debates, afim de que o futuro de nossa geração não se sinta perdido politicamente como está agora. Não digo que sou a dona da verdade ao escrever isto, mas meu posicionamento, junto com tantos outros, deverá contribuir para algum amadurecimento, afinal, lutei por uma vaga na universidade federal e luto para uma vaga de mestrado em alguma universidade bem conceituada também. Certo? Não sei… Estudos levam a algum lugar ainda?!

Levam…. Devem levar né? Mas….

É difícil não estar desamparado neste cenário atual brasileiro. Não me refiro aqui à Defesa de Impeachment ou não, de Dilma ou não. Basta assistir às votações do Senado e da Câmara e ver a lavação de roupa ao vivo. Descrente. Desacreditada. Fraca.

Assim que nos sentimos.

Queremos estudar, mas com que dinheiro? Com quais condições? A carreira acadêmica é um luxo que poucos possuem pois, para estudar, é preciso trabalhar menos. É preciso tempo em sala, em casa, nos finais de semana, de madrugada, tempo de deslocamento… É um investimento alto. E para quê? Para ficarmos com medo dia e noite de nossos futuros. Se conseguiremos empregos decentes, se conseguiremos pagar nossas contas. Se um dia teremos condições de termos uma família e quando a tivermos, se teremos algum tempo de vermos nossos filhos, ou se estes se tornarão abandonados e estranhos a nós mesmos.

Pois trabalhar tanto, ganhando pouco e ainda tendo que fazer doutorado para que tentemos ganhar melhor no futuro, ou mesmo pela realização de se tornar especialista em algo é uma tarefa quase impossível quando se pensa em filhos.

É tanta sobrecarga, tanta expectativa que quase todos nós precisamos de fazer análise para descobrirmos quem somos. Se vale à pena nossas lutas pessoais e se seria melhor mudarmos o foco ou abrir uma padaria, afinal todos comem pão. Se não vale mais à pena mudar de área e se endividar fazendo medicina para esperar por um futuro melhor. E pasmem, medicina não é a melhor saída. O salário dos médicos é o que mais se desvalorizou nos últimos 20 anos e a aposentadoria chega a bater 400,00 (!) depois de uma vida dedicada a isso…

Toda a vontade que tínhamos de aprender, de debater, vai se esvaindo quando ficamos cansados. Mente livre, jovem e fresca aprende, absorve muito mais. Mas hoje em dia a sociedade sobrecarrega, as escolas sobrecarregam, a universidade sobrecarrega. É tanta informação que é como se os professores fizessem: “leiam todos estes mil livros em um mês porque eu não tenho saúde para explicá-los.”

E assim vamos formando bricks in the wall porque não há o debate. Não há tempo. Não há saúde e não há concentração. Precisamos rever urgente esta situação. Precisamos rever as universidades e os critérios acadêmicos. Dizem ser verdade que na Europa ou a pessoa pesquisa ou a pessoa dá aula e eu acharia muito justo que fosse assim. Não digo apenas por este lado. Todos trabalhamos muito. Muito a ponto de não vermos nossas vidas passarem.

Me desculpem, mas se acham normal sobrar duas ou três horas dos seus dias para se lembrarem que são seres humanos, lhes sobrando apenas sono e mais sono e sem um tustão para ir ao cinema distrair, ou tomar um sorvete na praça, eu não acho.

Fica difícil ter e manter concentração com essa falta de perspectiva. Fica mais difícil ainda estudar, pois se fosse para fazermos algo que não exige um bom estado emocional, como ser um robô por exemplo, seria mais fácil.

“Mas você não escolheu um caminho muito difícil?” Olha, financeiramente pode ser. Mas difícil seria se eu me preocupasse apenas com meu bolso. Quem quer ser professor vê um propósito nisso e, ainda que mude o foco, vai continuar querendo modificar a situação, a sociedade e o mundo para melhor, não tem jeito. Nasceu com a gente.

Mas…. se dizem que os sonhos são realizados através do suor e da luta… Virão, porque lutamos. Ô! Se lutamos né?

Mas não, quem estuda AINDA não é bem percebido pela sociedade… “Mas você só estuda?” Ou quando se é professor: “Mas você só dá aula?”

SÓ DÁ AULA?

Não entendi sua pergunta, colega.

Ora, precisamos mudar essa desvalorização aí minha gente… Sem professores vocês não são nada. Repito. Nada. NADA. NA-DA. N-A-D-A.

Entenderam?

E sim, apesar de todas essas circunstâncias, eu ainda acordo e estudo. Ainda acordo e me encaro no espelho. Ainda luto para ler alguma coisa durante o dia. Porque esse país vai mudar. Ah, se vai.



LIVRO NOVO



Nasceu em Petrópolis-RJ, mestranda e graduada em Relações Internacionais pela Universidade do Brasil! Tem interesse em tudo que se pode imaginar, até química, física, logaritmo e quadrantes. Sempre adorou escrever e coleciona caixas de textos que escreve desde a infância. Seja sobre poesia da vida cotidiana ou sobre assuntos políticos, filosóficos, antropólogos, científicos, sua vida é de uma forma ou de outra ligada à tentativa de olhar o mundo com mais profundidade do que a correria da rotina nos permite. Nada lhe escapa, dos assuntos cotidianos às condições políticas que acontecem ao redor. O que varia é o horário, a inclinação do olhar ou da cabeça também... Quer falar todas as línguas do mundo... ou quase. Quieta de vez em muito, nada como a introspecção para refletir a vida um pouquinho. Mas também pode fingir ser a pessoa mais extrovertida do mundo se quiser. E engana bem. Da personalidade mais rara do mundo, INFJ com muito prazer!

2 COMENTÁRIOS

  1. Eis aqui um desabafo
    Apesar de todos os percalços ( e olhe que não foram poucos, diga-se de passagem) que eu enfrentei até aqui e que ainda hei de enfrentar, não me farão desistir do meu ideal de vida, que é a dedicação ao campo acadêmico. Problemas de falta de grana, oportunidade, reconhecimento, tudo isto faz parte do meu cotidiano. Quem bem me conhece, sabe dos leões que tive que matar até aqui para estar dando este depoimento (não aprovação em concursos e seleções de doutorado, apesar de toda uma dedicação e de noites de sono muitas vezes perdidas). Ainda mais na conjuntura hodierna do país, em que, o ensino e a pesquisa nunca foram do interesse da classe política em sua maioria, nem mesmo este fato fez-me modificar o horizonte que tracejei para minha vida. Aliás, esta é feita de escolhas, que por sua vez, envolvem altos custos, não apenas no tocante a aspectos financeiros, mas também, e até mais, sociais. Ainda mais no âmbito jurídico, meu intento se torna ainda mais hercúleo, porque, vencer nesse campo acadêmico pelos próprios méritos, sem qualquer espécie de apadrinhamento, nem apoio de outra natureza, está longe de ser um mister fácil. Desistir? Esta palavra não existe em meu dicionário, pois meu nome, por natureza, é determinação. Minhas convicções, as defenderei até o fim, enquanto lucidez e saúde eu tiver, pois não são críticas, indiretas, dificuldades de toda ordem que irão me tornar um fracassado. O caminho é hercúleo, é verdade, mas se o sentido da vida consiste na busca pela realização dos sonhos, nem que para isso se tenha de abrir mão de diversas coisas, que para outras pessoas significam dinheiro, status, posição social, para mim, meus sonhos acadêmicos não são aferíveis monetariamente. Confesso que teve momentos na vida que pensei em “chutar o pau da barraca”, mas isso foi uma fase de minha vida já superada, em que eu estava em um momento de fragilidade exacerbada. A estrada até agora espinhosa, apenas me fez fortalecer ainda mais como ser humano em busca de um mister maior, e que não vai ser a censura que inexoravelmente me cerca, com palavras desencorajadoras e com críticas de todas as ordens (destrutivas em sua maioria), que irá fazer eu deixar de ser fiel às minhas convicções. Estas reverberam minha formação moral construída ao longo desses quase 34 anos de vida. Pode até estar demorando tempo demais para o colhimento dos frutos por mim lançados, mas quem sou eu para questionar os planos divinos acerca de minha vida? Não é deixando de cair que o indivíduo se engrandece, mas quando isto acontecer, encontrar forças para sair do abismo da tristeza, da frustração e da incerteza. O importante é o indivíduo crer em si mesmo, pois se assim não fizer, quem o fará? Que se dane prestígio, status, posição social (que muitos perquirem como verdadeiro ideário de vida, o que acontece em todas as profissões, mas no Direito, isto é muito mais proeminente); do que adianta tudo isso se a pessoa não fizer o que lhe dá satisfação, o que lhe imprime um sentimento de cumprimento de seu papel social? A vida se torna vazia, no meu humilde entendimento, se não se tiver esse conteúdo nocional intrínseco. Reflitamos.

  2. Eu li isso em 2021 e fiquei meio triste. Me sinto assim há alguns anos e me questiono demais se devo continuar meus estudos e ser professora, mesmo… Que saco :/

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