Resposta ao discurso preconceituoso no qual o jornalista Luiz Carlos Prates fala sobre depressão.

Fiquei em choque quando ouvi as tuas palavras. (vídeo no final da matéria)

Você desafiou o Presidente da Associação de Psiquiatras para falar sobre depressão. Não sou ele. Não sou psiquiatra. Sou paciente. Mas teu discurso me desafiou também.

Sofro de Síndrome do Pânico desde a adolescência e já passei por Depressão algumas vezes na minha vida.

Sem dúvida, os atletas paraolímpicos são um exemplo de adaptação.

Mas falar para um sujeito que tem depressão, que assistir o esforço deles curaria a doença foi muito ignorante da tua parte.

Sim, existe uma grande diferença entre tristeza e depressão.

A primeira cura com o tempo. A depressão, se não tratada, pode levar a pessoa à morte.

É fácil para você chamar um depressivo de preguiçoso. Mas você não tem ideia do quanto uma pessoa com depressão luta todo santo dia para levantar da cama e executar tarefas simples como tomar banho, trabalhar, sair de casa, cuidar dos filhos, etc.

E quem sofre de depressão se sente impotente. Porque mesmo com as duas pernas e os dois braços. Mesmo com visão, audição e inteligência, tem saúde e simplesmente não consegue viver.
E ainda sofre preconceito. Por sujeitos como você. Que gritam na TV de maneira sensacionalista e desrespeitosa para tanta gente que está sofrendo.

Sou uma pessoa de sorte. Desde os 12 tinha crises de pânico, fiz todos os exames possíveis para descobrir o que eu tinha, passei anos sem saber até consultar um psiquiatra aos 18.
Sofria crises de pânico terríveis que me deixaram presa em casa. E sair para atravessar a rua e comprar pão na padaria do outro lado da rua era tão angustiante que não tenho palavras para descrever.

Nesse mesmo ano que tive meu diagnóstico e comecei a tomar antidepressivos, passei 40 dias no Nordeste. Viajei sozinha e fiquei na casa de parentes lá. Eu, que cheguei ao ponto de não conseguir atravessar a rua sozinha.

Fiz muita terapia. Sou professora de Yoga há 15 anos. Busquei conhecimento. Estudei. Ajudei muita gente que sofria preconceito com a própria doença. Ajudei muita gente que não entendia a doença. Confortei amigos que tentaram o suicídio. Convivi com pessoas com transtorno bipolar. Pessoas que buscaram a fuga nas drogas e álcool, por não terem sido diagnosticadas e tratadas de acordo com o que tinham. Porque nem todos tiveram a sorte que eu: APOIO.

Conheço uma escritora que está há sete anos sem sair de casa porque sofre de agorafobia e depressão. Ela faz tratamento e mesmo assim luta diariamente. Desabafa comigo seus altos e baixos e eu tento ajudá-la como posso. Sei que um dia ela vai dar a volta por cima como eu dei. Outra amiga minha, por ter sofrido assédio moral, passou dois anos internada numa clínica psiquiátrica por causa de depressão. Hoje está bem e é uma lutadora, guerreira mesmo.

Mas para as pessoas que sofrem qualquer transtorno mental, uma pessoa pública e formadora de opinião é um perigo. Vai que elas te escutam? Vai que elas acreditam mesmo que são deficientes no sentido pejorativo que você as expôs? Só pra te lembrar, estamos no mês de Setembro. Com a campanha Setembro Amarelo, que busca a conscientização na prevenção contra o suicídio. Espero que ninguém se mate depois do teu discurso de ódio.

Minha família sempre buscou o melhor pra mim. Mesmo não entendendo o que se passava comigo, ficaram do meu lado. Me apoiaram quando eu não conseguia trabalhar. Me apoiaram depois de uma depressão grave que eu tive, onde cheguei a arranhar meu rosto todo com as minhas unhas. Minha dor era tanta que eu tive que torná-la visível. Nesse momento achei que tinha enlouquecido, mas meu psiquiatra me acalmou e eu superei depois de fazer terapia familiar. Uma doença mental não afeta só o doente, mas todos que convivem com ele. Por isso o tratamento tem que ser do ambiente todo.

Sempre tive o maior amor pela vida. Nunca pensei em me matar. Meu maior medo era morrer. Meu coração acelerava, meu corpo tremia, minha boca secava e eu tinha certeza que morreria ali mesmo, na crise de pânico que eu me encontrava. Ficava paralisada, desnorteada e com a maior sensação de impotência. Então, não me venha falar que depressão é frescura.

Conto aqui o que passei porque hoje entendo minha doença e não me envergonho dela. Dei a volta por cima. Comecei a trabalhar com marketing digital e hoje vivo do trabalho que construí nas redes sociais. Já passei por dois casamentos, muitos namoros e fui chamada de louca algumas vezes.

As pessoas adoram cutucar os pontos fracos do outro. Já ouvi de ex, coisas como vai tomar teus remédios, vai se tratar. E isso por eu sempre ter sido transparente como estou sendo agora e nunca ter escondido o que passei e o que eu tinha. Mas isso não me afeta. E nunca afetou.

Achava covardia demais da parte deles. Até porque alguns deles eram muito mais problemáticos do que eu. E quanto mais uma pessoa é problemática, mais ela tem atitudes como a tua. Julgar os outros.

Ainda bem que antidepressivos existem e melhoraram muito a minha qualidade de vida. Vai falar para um diabético não tomar insulina porque ele vai viciar no remédio. Já ouvi isso de muita gente – mas você vai ter que tomar remédio para o resto da vida? Tomo sim. Ainda bem que eles existem.

E sabe o que eu faço da vida além de escrever e trabalhar? Eu surfo, pratico Stand Up Paddle, Yoga, ando de bicicleta e iniciei o SUP Yoga no sul do Brasil. (Yoga em cima da prancha).
Dei aulas de Yoga durante muitos anos e de SUP Yoga também. Viajo sozinha. Dirijo. Sou mãe. E, minha filha, como eu, passou também por depressão. Hoje também toma remédio e está super bem e feliz. Ela teve o meu apoio. Eu entendia a dor dela e ela passou a entender melhor a minha dor depois do que ela passou. Faz anos que estou bem. Tenho meus altos e baixos como todo mundo. E me considero uma pessoa muito feliz.

O vídeo está aí como um exemplo a não ser seguido nem ouvido. Ele é a voz do preconceito. A voz do que piora o tratamento da depressão.
Por isso, se você que está lendo sofreu ou sofre algum transtorno mental, não ouça o que esse homem diz. Ele não sabe do que está falando. Procure ajuda e jamais se envergonhe da tua doença.

Depressão tem tratamento e cura. Síndrome do Pânico também.
Todos os transtornos mentais, se tratados, melhoram muito a vida do paciente.
Mas você precisa se ajudar em duas coisas: aceitar que tem um problema e buscar ajuda para resolvê-lo.

Já para o jornalista que falou tanta besteira, sinto muito por você ser tão infeliz.
Desejo que você reveja os teus conceitos e passe uma semana em uma clínica psiquiátrica. Que converse com os doentes, com psiquiatras e psicólogos. O que te falta é informação.

Carolina Carvalho



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Nina como é chamada por todos, sonha em morar na praia, pega onda, é Professora de Yoga e SUP Yoga, viciada em seriados, vive no mundo da lua, ama escrever e trabalha com mídias sociais. Ela é mãe da Bianca e apaixonada pelo Nunis, o bulldog francês das duas. Na internet é conhecida pelas suas artes e frases assinadas ByNina.

18 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns Nina!!! Falou tudo para esse jornalista que não sabe NADA! Até, que muitos dos deficientes também passam por depressão! Antes desses comentários ridículos ele deveria ter se informado mais e visto que depressão é uma doença, como vc mesma disse, igual a diabetes, câncer e tantas outras! A diferença é o preconceito que existe por trás delas!
    Eu, como você, me sinto uma vencedora tanto quanto os deficientes que o Prates cita…

    • Sim, Ana! Eu também me sinto uma vencedora cada vez que entro no mar, que vou mais longe, que supero meus medos.
      O que acaba com o preconceito é a nossa voz.
      Não podemos nos envergonhar.
      Expus minha vida e foi por uma causa nobre.
      Quanto mais as pessoas aceitarem e buscarem ajuda para a depressão e outros transtornos, mais chances elas têm de se curar.
      Estamos em mês de campanha de prevenção ao suicídio e um idiota desses sai falando um monte de bobagem na TV. Não pode ficar assim. E tem até nome pra isso que descobri nos comentários da Fanpage aqui do blog: Psicofobia.

  2. Parabéns Carolina! Sua resposta foi necessária. Somente quem passa por uma depressão profunda, pela síndrome do pânico, é capaz de compreender que não é escolha, que não é uma crise existencial vazia e passageira como esse senhor tentar dizer. Respeitar o outro, a dor do outro, a história e o histórico do outro é fundamental!! Aliás respeito é tudo! Quando um ser humano verbaliza “tapa na cara”, seja qual for o contexto, o que está por trás de suas palavras? Compreendemos então que muitos foram ensinados erroneamente que amor rima com dor. Tão feio e tão triste assim! Amor é uma coisa e violência é outra! Quando agredimos com palavras, quando exigimos que o outro seja como pensamos que devem ser, quando não respeitamos, quando acreditamos que impor é amar, tudo torna-se vazio. Aí sim, é preciso rever os conceitos existenciais. Talvez por haverem tantos perpetradores, tantas pessoas agressivas e violentas, por haver tanta dor e crueldade, que as pessoas mais sensíveis entram em depressão e pânico. Quem sabe se Van Gogh pudesse explicar talvez para esse senhor que depressão não cabe em lente de quem julga. Talvez lendo o Demônio do Meio Dia ele pudesse se sensibilizar…Aos que como nós sabem que é um dia de cada vez, levantando, forrando a cama, saindo pra trabalhar, cuidar de nossos filhos, executando tantas tarefas… Pensemos que dias melhores virão: ” Do mesmo modo que aquele que fere ao outro fere a si próprio, aquele que cura, cura a si mesmo.” Jun.(lindo Jung!!)

  3. Esta criatura está cada vez mais senil!!! A única frase decente que ouvi ele falando foi “receita para a depressão é enfrentar a vida!”, porque não deixa de ser, uma batalha para viver cada dia, lutando com medos, desafios diários, quedas, vitórias, recaídas, recomeços,… de resto… internem essa pessoa num asilo pelo bem da humanidade!!!

    • A propósito, Carolina, tua resposta foi a melhor possível para este ser que se digna a julgar dotado de inteligência e a sair esbravejando tanta besteira junta de uma única vez… me admira uma emissora como o SBT, mesmo que seja local de Santa Catarina, ter alguém tão imbecil e cheio de preconceitos em seu quadro de jornalistas e cronistas, no lugar de alguém dessa classe, teria vergonha alheia…

  4. Como puderam deixar ir ao ar uma absurdo desses? Nunca desejei mal à ninguém, mas vaesse sujeito, bem que poderia passar por uma depressão para avaliar e saber a insanidade que , infelizmente vomitou.

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