Categories: REFLEXÕES

Tem amor, mas no dia a dia o relacionamento não funciona

Por Jader Pires – via Papo de Homem

Eles se gostam. Muito. Se amam de paixão. Porém, a dinâmica já não funciona, ficam a maior parte do tempo chateados um com o outro, com os momentos felizes do outro. O cotidiano lhes oferece várias chances de êxito e bem-estar, prazer em dupla, mas uma desgraça apaga dezoito sucessos, como bem sabemos.

Quando em público, você já não vê mais o brilho nos olhos dela e daí passa a vontade de estar ali, rindo com todos e se divertindo. A física no amor também dita regras e atrito e turbulência dissipam energia. Perde força. Muito calor gasto à toa.

Mas como é que pode, um relacionamento com duas pessoas apaixonadas ficar esgotado e falho? Velho prematuro, gasto de nem se usar?

Há a hipótese de que um deles não estaria, de fato, pronto para uma relação “séria”, que um ciclo vicioso possa ter se instaurado feito parasita no rolê amoroso, a vontade de fazer coisas fica abafada pelo receio da reclamação da outra parte, as desculpas para estarem em lugares diferentes, não porque é saudável, mas pelo ato maquinal de repelir, mais que o confronto, a troca. Pombas, pra quê vou despender da minha energia propositiva se sei que isso vai render cansaço e gritaria, o famoso “ah, vai você”, o costumeiro “faz o que você quiser, a vida é sua”?

E aí vem a bad. Porque se distanciar de um contato tóxico, arbitrário e prepotente traz junto só benefícios. Mas e se a gente ainda se ama, como faz? Querer distância quando o que mais se deseja é estar pertinho?

Não é o relacionamento que não dá certo no dia a dia. As pessoas envolvidas são confusas e perdidas, depositando no “relacionamento” os erros que são só delas. Colocamos um namoro ou casamento ou qualquer que chamemos a relação como algo além de nós, quase que como uma aura mística que nos abençoa porque escolhemos estar juntos. E tercerizamos, com essa glamourização do que é estar juntos em uma relação amorosa, nossas responsabilidades. Não sou eu que sinto ciúmes, mas a relação que faz com que eu fique assim. Eu não sou uma pessoa nervosa ou controladora, mas no namoro ele ou ela me deve satisfação, um auxílio maior do que na vida comum. Somos amantes! A gente precisa que o outro seja especial com a gente.

Amor é logística e cada um lida com isso de um jeito diferente. Não tem nada mais complexo nesse mundo do que se encaixar em um relacionamento. São muitas variáveis e vai depender de como as pessoas enfrentam as imprevisibilidades da vida no recorte de tempo em que estão juntas.

Em algum momento, por mais azeitada que a coisa que esteja, o trabalho de um dos dois vai pesar e eles terão de encarar com isso, dar mais espaço, se anular por um instante. Momentos em que as amizades farão um sentido maior, sair com os amigos ou amigas, como trabalhar com esse não protagonismo, dinheiro, como seguir quando as finanças falharem, a liberdade individual de cada um dentro e fora de casa. É muita coisa. E vai dar cagada.

A brincadeira tá em sacar essas falhas todas e observar, em vez de a relação como um terceiro, como um ser superior que rege os humores e as casualidades dessa vida a dois, algo individual e interno. Espiar melhor como opera a nossa mente com esses deslizes, raivas, frustrações, anseios, esperanças.

Se a gente souber ganhar e perder, se entendermos o ridículo das nossas posturas diante das falhas, a pequenez do nosso desapontamento diante da expectativa exacerbada do outro, aí fica tudo mais claro e simples. Simples até demais.

A gente consegue fazer isso. Mantemos relações leves com a família, com pessoas no trabalho, na nossa vida pessoal com amigos e amigas, com estranhos na rua. Se eles não querem ir em algum lugar, não nos rasga o coração. Se eles ficam mais ausentes em determinadas situações, não ficamos com a alma gelada. Rimos, entendemos, damos espaço e auxílio, seguimos com nossas atividades e costuramos tudo em uma relação de parceria. Mas, estranhamente, no relacionamento isso parece ser bem difícil, já que depositamos toda a nossa fé na relação. Porque ela tem que milagrosamente se sustentar.

“Porra, é amor, cara!”.

Maior balela que já inventaram.

A Soma de Todos Afetos

Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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