A estranha geração que venera o desapego

Não consigo me encaixar na minha geração. Preciso dizer que tem horas que sinto uma alienígena no meio das pessoas da minha idade. Nas rodas que participo, nas postagens do Facebook, nas conversas paralelas, há sempre uma pessoa tentando nos convencer que essa coisa de desapego é normal e que o que importa mesmo é você ser autossuficiente o bastante para não depender de ninguém.

Existe uma cultura nesta geração que celebra, incentiva e reforça que a solidão é a melhor das liberdades. Fico me perguntando o que aconteceu comigo que não consigo pensar dessa maneira. Por onde eu passei todo esse tempo enquanto diziam aos jovens que estar solteiro é muito melhor do que estar acompanhado?

Não consigo me encaixar na minha geração. Preciso dizer que tem horas que sinto uma alienígena no meio das pessoas da minha idade. Nas rodas que participo, nas postagens do Facebook, nas conversas paralelas, há sempre uma pessoa tentando nos convencer que essa coisa de desapego é normal e que o que importa mesmo é você ser autossuficiente o bastante para não depender de ninguém.

Existe uma cultura nesta geração que celebra, incentiva e reforça que a solidão é a melhor das liberdades. Fico me perguntando o que aconteceu comigo que não consigo pensar dessa maneira. Por onde eu passei todo esse tempo enquanto diziam aos jovens que estar solteiro é muito melhor do que estar acompanhado?

Até entendo que quem não conseguem ficar só tem um problema gravíssimo consigo mesmo, ou que aqueles que se enfiam em relacionamentos apenas para se sentir melhor, mais aceito, mais completo não está no melhor caminho, mas agora essa história de optar pela solteirice para mim é não querer crescer e assumir certos compromissos.

O relacionamento é uma direção em rumo à maturidade, talvez seja essa a questão. Amor-próprio não tem a ver com se amar mais do que amar o outro, mas é apender uma maneira de se envolver com o outro sem que precise deixar de amar-se. São coisas diferentes.

Entendo que muita gente, no desespero de não querer se amarrar não queria estar envolvida em todas as responsabilidades de um amor mútuo, mas agora, achar que sair com varias pessoas ao mesmo tempo é sinônimo de liberdade, de juventude, de independência afetiva, autonomia de si, de soberania nas escolhas, de emancipação sentimental, é uma tremenda de uma ingenuidade infantil.

A nossa geração precisa amadurecer

Precisamos de pessoas. E isso não tem a ver somente com necessidade emocionais, físicas e sexuais. Não podemos usar as pessoas como se elas fossem consumíveis, precisamos levar a sério os seus sentimentos, dedicar a construir um amor duradouro, ter um envolvimento com a intenção de ligação, empenhar afetos, ter afeição pela vida a dois. Não podemos viver apenas de entusiasmos e paixões velozes. Precisamos de pessoas com mais convicção além de emoção.

O amor precisa colecionar as melhores coisas de alguém. As risadas, os jeitinhos particulares, as palavras, os afetos, a meiguice. Se apenas quisermos nos divertir não tem porque entrar em nenhum tipo de amor.

Você precisa saber que não se basta. Se a solidão fosse posição confortável não haveria mais humanidade. Só encontramos nas relações, mesmo as mais banais a possibilidade de ser gente de verdade. É só no contato profundo com alguém que podemos encontrar descanso. Desconfio de pessoas que se intitulem não precisar de um bom amor longo duradouro e profundo, que esteja satisfeito em ser como um beija-flor que se alimenta e jamais saberemos se ele vai voltar.

Um dia a gente aprende que não faz sentido ver suficiência na isolamento voluntário. Estar em sua própria companhia é bom, mas não fazer questão de permanecer na presença do outro já é puro narcisismo egoísta. Essa geração anda estranha. Acho que precisamos repensar essa história de desapego, antes que acreditamos para sempre que podemos seguir sozinhos e felizes consumindo pessoas.

via Casal do Blog



LIVRO NOVO



Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

4 COMENTÁRIOS

  1. Veja bem. Essa geração que não quer se apegar, preza pela liberdade, não quer se envolver em um relacionamento sério, que por muito tempo se tratou de quase que uma obrigação e até mesmo hoje vemos aqueles casos de “porque você está solteira)?” “uma moça tão bonita…”, é a mesma geração que olha em volta e não consegue encontrar motivos pra realmente se apegar em alguém, é a geração que tem outras prioridades, que tem outros objetivos na vida. Eu mesma prego o desapego, até porque, não tem nada de errado em curtir minha vida sozinha, com meus amigos, com meus rolos. Isso de forma alguma me torna uma pessoa descompromissada ou irresponsável, pelo contrário, sou muito mais comprometida e responsável com que quer que seja. A cada dia que passa gosto mais da minha vida assim, encontro mais motivos pra não mudar isso nela, porque simplesmente EU QUERO SER SOLTEIRA, EU AMO SER SOLTEIRA, EU AMO MINHA LIBERDADE. Aos que gostam de mergulhar, ir fundo em uma relação séria a dois, dou os parabéns e com toda certeza eles têm minha total admiração. Pessoas intensas têm o meu respeito. Eu optei por viver minha vida sem depender sentimentalmente de alguém e sou muito feliz assim. Acredito que não sou a única e por isso deixei esse comentário.
    Caso não tenha sido clara, indico a leitura do texto que está no link abaixo, ele descreve com perfeição o que sinto. http://meninasdesaltoaltooficial.blogspot.com.br/2015/08/e-o-namorado-alguem-vai-me-perguntar-ai.html

    • Desculpe mas você está vivendo uma vida egoísta. Relacionamentos são para se entregar a outra pessoa e não apenas pensar em sua felicidade. Famílias existem para nós fortalecer como seres humanos. Existe limite de idade para sermos solteiros, pois uma hora precisamos criar bases sólidas para que tenhamos onde segurar se um dia cairmos nos diversos tropeços da vida.

    • Concordo com a Jéssica totalmente, mas… se estivermos tratando do “mundo” da Jéssica… Ela é mais feliz sozinha, com certeza… Mas… os seres humanos são seres sociais… e A sociedade como um todo depende dos seus membros individuais… a sociedade sofre com o excesso de individualismo, com o excesso de desapego… pra Jéssica é ótimo a forma que ela pensa, mas e para o outro? Na verdade, nós nos esquecemos do outro…

  2. Parabéns para a autora. Disse tudo que ando pensando nos últimos tempos. As vezes me sinto meio “anacrônico” também. Vejo as pessoas querendo viver como eu vivia com meus 16 anos, daí penso, será que elas não tiveram adolescência ou na verdade tem medo de experimentar coisas mais verdadeiras, que podem doer, mas nos tornam humanos.

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