O maior patrimônio: as viagens que fazemos, os lugares que conhecemos

Estive ausente na última semana, de férias, viajando com minha família. Foi momento de abandonar meu cotidiano apertado e experimentar ser eu mesma sem as exigências da rotina.

Visitamos museus e vinícolas, experimentamos novos sabores, atravessamos pontes, subimos e descemos morros e montanhas, vimos o pôr do sol do alto de um mirante, conhecemos a casa de um grande poeta.

Porém, a gente não precisa ir tão longe para descobrir que a vida pode ser decodificada de uma forma mais leve, doce e sensível _ se estivermos abertos e dispostos a isso.

Como diz o poema de Fernando Pessoa: “Para viajar, basta existir”. O que precisamos é aprender a perceber o mundo de forma diferente. Aprender a perceber nós mesmos longe daquilo que pensamos ser essencial e que muitas vezes não é.

Viajar pode ser a oportunidade de aprendermos a reagir positivamente diante dos imprevistos, e descobrir que somos capazes de reinventar nossos planos usando a criatividade e a coragem. E agora me lembro da última animação da Disney Pixar, o desenho “Procurando Dory” , que assisti esta semana no cinema com o filhote. Num dado momento, Marlim, o peixe preocupado e certinho, se pergunta: “O que Dory faria nesta situação?”, e descobre que a amiga, “doidinha” e tranquila, tem muito mais recursos para sair de apuros do que ele.

No nosso primeiro dia de viagem pelo Chile, descobri que tinha reservado o hotel de forma errada. No lugar de sete diárias, tinha reservado apenas uma! Foi a oportunidade de sermos criativos como Dory e, com muito bom humor, arranjar outro hotel para a viagem continuar.

Viajar é a oportunidade de nos recriarmos de formas mais simples e descompromissadas, descobrindo que nosso mundo pode caber no espaço de uma mala, e que nossos pés ficam muito mais leves usando apenas chinelos de dedo ou meias confortáveis.

Nos apegamos ao nosso mundo, nossas coisas, nossos objetos… como se isso pudesse nos definir. Ter uma casa, um ou dois carros na garagem, um closet cheio de roupas e sapatos… tudo isso é bom e nos dá segurança, mas somente deixando tudo isso pra trás e seguindo com uma mala de rodinhas, podemos experimentar o que aguça nossos sentidos e nos sensibiliza por completo. Como quando nos emocionamos diante de uma música nova, um pôr do sol deslumbrante ou um sabor que nos faz suspirar.

De repente descobrimos que a vida pode ser declamada como pura poesia, basta a gente estar pronto e aberto a enxergar.

Fora do barulho e poluição das ruas, distante da urgência dos despertadores, longe das mesmas paisagens e sabores… podemos acolher quem somos de fato. E nos percebermos crianças diante do mundo que acontece como grande novidade.

Visitando a casa do poeta Pablo Neruda, e pouco a pouco entrando na história que ele vivenciou, poetizou e imortalizou, me senti inspirada a olhar minha própria existência com olhos de poesia, transformando minha antiga atmosfera numa nova possibilidade.

Talvez o maior patrimônio seja esse: viajar, ultrapassando as fronteiras de nosso universo particular, descobrindo o que nos comove a ponto de voltarmos renovados.

É gostoso investir num sapato bacana, numa roupa nova, numa bolsa diferente. Mas investir num voo que nos conduz por novos horizontes, onde poderemos nos reciclar e recriar por algum tempo, é aquilo que todos dizem: “não tem preço”.

Não há dinheiro mais bem gasto do que aquele que usamos para viajar. Que permite que nossos pés toquem um solo desconhecido e nossa pele sinta o frio dilacerante ou calor reconfortante. Que desafia nossa percepção e instiga nosso olhar; que nutre nossos sentidos e aguça nosso paladar; que nos oferece caminhos onde iremos pisar e jornadas que irão nos transformar.

“Para viajar, basta existir”. Que você descubra o que lhe move, o que lhe comove, o que desperta seu desejo de reciclar-se perante o mundo. Que possa fazer as malas de vez em quando e sair à rua cantarolando. Que possa abandonar partes de si mesmo que não têm mais significado e descobrir novos territórios para ocupar os espaços vazios. Que haja mar, brisa suave e cheiro de terra molhada. Que chova à noite e faça sol de dia. Que o dia branco prometido seja compensado pela nevasca da madrugada, e que a água salgada deixe escorrer tudo o que já lhe causou dor no passado.

Faça as malas se puder. Faça planos, trace rotas, decifre mapas. Vá a lugares que só conheceu em seus sonhos, pise firme no chão que escolheu e respire fundo na atmosfera que te acolheu. Abandone bagagens desnecessárias e despeça-se do que não faz mais sentido. Olhe-se nos olhos frente ao espelho e encontre uma pessoa renovada. Lave o rosto, penteie o cabelo e tome uma xícara de café. Sinta-se vivo, sinta-se outro, sinta-se pronto pra começar de novo…

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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

7 COMENTÁRIOS

  1. Passei por experiência semelhante semana passada! Após cumprir um compromisso profissional em SP no primeiro fds de julho, escolhi ficar na capital a minha primeira semana de férias para visitar museus e outros espaços culturais que nunca dá tempo de ir. Foi incrível!!! Vi inúmeras exposições de pintura, gravura, fotografia, poesia, etc. Vi a exposição do Picasso, Volpi, van Gogh. Visitei o MaM, o Mis, o MuBe, instituto Tomie Ohtake, FAAP, etc. Tb provei comidas diferentes e o caldinho de sururu, em uma filial de um restaurante nordestino, foi uma grata surpresa. Aproveitei pra fazer um mini-curso em um laboratório de café e isso despertou meu paladar, que até então, não sabia identificar cafés. Foi muito interessante! Aprendi muita coisa, abriu meu olhar! E o mais legal: fui publicando no face o “tour cultural” e recebi um feedback super positivo. Várias pessoas sentiram vontade de fazer passeios assim. E detalhe: praticamente todos os museus são gratuitos. O que paguei mais caro, custou R$ 7,00 a inteira. Vale muito a pena! Renova nossas energias e nosso olhar pro mundo.
    Hj, qdo sai pra ir ao banco já na minha cidade, passei próximo a um dos museus daqui. E então, me dei conta de que nestes 7 anos que moro aqui, nunca fui visitar os museus da minha cidade. Já me programei pra fazer isso semana que vem. O tour em SP serviu pra isso tb…prestar mais atenção no que tenho aqui, pertinho de mim!

  2. Fabíola, realmente viajar é como o conhecimento: um patrimônio, ninguém tira, rouba ou vive por você.
    É fantástico conhecer novos lugares, culturas, línguas e mergulhar num ambiente que você passa a decifrar. Estive na Europa em março, sonho realizado! e como professora de história vivi tudo o que via e me encantava nos livros, mas o que mais me encanta em tudo isso é que nunca me esqueço dos aromas, das tardes de pôr do sol, do sorriso estampado e o melhor de tudo poder contar para filhos e netos tudo o que os nossos olhos viram.
    “Viajar é trocar a roupa da alma”
    Grande Abraço!

  3. Viajar pelo mundo a fora, sempre foi meu sonho desde a minha infância, até hoje carrego comigo o desejo enorme de um dia poder sair viajando por aí, conhecer vários lugares, várias cidades, vários países, conhecer as variadas culturas, os vários costumes, respirar ambientes diferentes. E essa breve leitura que fiz com texto acima, só aumentou ainda mais o meu grande sonho de viajar.

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