A geração das pessoas que não se amam

Por Fábio Carvalho

Esses dias eu estava com meus amigos e decidimos sair para curtir o final de semana como de costume, chegamos ao local e enquanto decidíamos o que fazer, acabei ouvindo sem querer a conversa de duas pessoas, quando uma delas me chamou a atenção quando disse:

“Você não pode dar muita atenção, senão ele não vai te valorizar, você tem que mostrar quem manda, eu sei porque eu fiz isso e deu certo”. Notei que eu já havia escutado algo parecido anteriormente, mas nunca havia parado para refletir sobre o assunto, mas isso me fez perceber que estamos vivendo uma realidade em que pessoas precisam de “reféns” para reafirmar suas convicções, para ter a certeza de seus próprios sentimentos. Isso pode parecer uma crueldade quando dita desta forma, mas o problema começa quando isso se torna uma “técnica” para suprir suas carências de atenção.

CRIOU-SE UMA GERAÇÃO DE PESSOAS QUE NÃO SE AMAM

Ter sentimentos ou demonstrá-los se tornou sinônimo de fraqueza e vulnerabilidade, seria mais ou menos como “tudo o que sentir ou disser, poderá e será usado contra você no tribunal”. E pum! Batido o martelo, a sentença está dada, você é culpado por demonstrar seus sentimentos (ou simplesmente por tê-los), sua pena será um aperto no peito, estômago revirado, crises de ansiedade, noites de insônia, desânimo, os seus pensamentos serão roubados, e você está fadado a sentir saudade, caso tente expressá-la, a sua pena aumentará.

É a geração que não aceita ter seu orgulho ferido, não aceita ser “menos” que o outro, por isso precisa deixar de se importar com quem os quer bem, só para que se eleve seu “status social” quando o outro vier procurá-lo. E quando se machuca no meio disso, usa como desculpa que “o amor só traz dor, então vamos beber, porque a cerveja nunca me traiu”, se livrando da responsabilidade de sua imaturidade. Aí quer mostrar para todos que apesar das consequências, saiu vitorioso e mostra que nunca será um “refém do amor”, alimentando esse orgulho com suas fotos e vídeos junto dos amigos, com seus copos de bebida dançando na balada, ostentando sua vida baseada em quê mesmo? Isso mesmo, apenas em uma falsa auto-afirmação de que “nada pode o abalar, nem mesmo o amor”.

Essa necessidade de mostrar que são queridas atingiu uma proporção tão absurda, que pessoas COMPRAM curtidas em suas fotos nas redes sociais, só para provar para o mundo que são bem-vindas no meio social que vivem, que significam algo para alguém, embora saibam a verdadeira origem de todo esse “sucesso” e ainda assim teimam em não acreditar que o amor vale a pena. Demonstrar que você se importa com alguém, que você valoriza uma amizade ou um relacionamento não quer dizer que você vai sair beijando todos pela frente, você pode demonstrar seu afeto ao desejar um ótimo dia para alguém, ao fazer uma gentileza, ao elogiar alguém, ao presentear sua namorada com uma flor, mesmo que seja do arbusto do quintal da vizinha, pode ser inúmeras coisas. As pessoas estão carentes de atenção, e aposto que até você que está lendo esse texto agora já se sentiu bem ao receber um elogio sobre sua roupa, cabelo, seu perfume ou seu jeito, não tem problema ficar com vergonha, mas RETRIBUA esse afeto, valorizar um gesto cria uma ligação entre as pessoas, você pode até nem gostar tanto dessa pessoa, mas cá entre nós, isso melhora um pouco as coisas, não é mesmo? Não tem nada de errado em demonstrar seus sentimentos, isso não é e nunca será um sinônimo de fraqueza, muito pelo contrário, mostra que você é forte o bastante para compartilhar suas felicidades e incertezas com as pessoas, que não tem medo de mostrar quem é de verdade.

Os sentimentos nos tornam seres únicos, não importa o sentimento, APENAS MOSTRE QUE VOCÊ SENTE ALGO, mostre que você tem qualidades e defeitos, mas que também está disposto a aprender com o outro, permitindo que obstáculos sejam superados e diferenças toleráveis. Não tente esconder o que sente, isso não te faz mais forte, só ocupa o espaço que poderia ser de alguém tentando te fazer feliz. Quem ama, perdoa. Quem perdoa, aceita. Quem aceita, não visa os defeitos, e sim as qualidades. O amor não faz guerra, o amor edifica, ele constrói, corrige imperfeições e eleva nosso espírito.

Eu gosto muito de um trecho da música “Ainda há tempo” do Criolo que representa bem essa ideia:

“(…) O que você quer nem sempre
Condiz com o que o outro sente
Eu tô falando é de atenção
Que dá cola ao coração
Que faz marmanjo chorar
Se faltar
Um simples sorriso
Ou às vezes um olhar
E que se vem da pessoa errada
Não conta
A amizade é importante
Mas o amor escancara tanto
E o que te faz feliz

Também provoca a dor (…)”

E se no fim “nada der certo”, pelo menos você entendeu o sentido de amar.

Esse texto foi feito para despertar uma consciência de que devemos perceber mais as pessoas que estão a nossa volta, pois um pequeno gesto realmente importa, criando um ciclo, é o famoso “gentileza gera gentileza”. Então peço que só compartilhem caso realmente entendam o sentido desse texto e não para mandar “indireta” para alguém, ou algo do tipo.

Que todos vocês tenham a oportunidade de sentir o que é o amor de verdade.

Juntando Mínimos erros



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

5 COMENTÁRIOS

  1. Eu sempre fui uma pessoa que demonstra os sentimentos, mas todos meus amigos vivem falando: “cara, vc não pode falar o que sente pra ela, nunca se declare, seja homem”

  2. Excelente texto. Apenas senti falta de você render mais o assunto em relação às pessoas que não se amam e na verdade são incapazes de amar verdadeiramente. Visto que, são doentes, sociopatas…
    No mais, seu texto é revoltante. Bom dia e que seu talento sempre seja visto. Um abraço.

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