Quando o amor responde, o coração é que ganha

Hoje o dia acordou chorando as dores do meu coração. Olhei para o céu e as gotas que lavavam as ruas me lembraram você. Pensei no nosso fim enquanto andava e desviava das poças. Coloquei os fones no ouvido e ao escutar as nossas músicas preferidas senti que o meu rosto era como aquele céu pesaroso e que algumas lágrimas passeavam por ele me lembrando que eu ainda me importava.

Tentei não pensar em você, mas o vento parecia gemer seu nome. As vozes dos outros continham o timbre da sua voz. Olhos alheios tinham as mesmas cores dos seus. Você estava no mundo. Estava em cada folha que caia, estava nas luzes dos faróis, estava no cheiro da terra, você estava em mim.

A razão me obrigou a te sufocar, mas a emoção te ressuscitou com um terno beijo e agora as duas brigavam feito gato e rato em mim.

O telefone tocou e eu me lembrei que você não iria mais me ligar. Lembrei que fui eu quem estragou tudo. Lembrei que a emoção se contorceu ao discutirmos e colocarmos os pingos nos is. Atendi ao telefone. Era engano. A outra pessoa tinha se enganado tanto quanto eu quando concluí que não daríamos certo. Que o fim seria um novo começo.

Eu só me esqueci que o começo depois de um fim capenga é triste de doer. Se eu pudesse voltar no tempo desejaria não ter te encontrado naquela tarde, desejaria não ter dito palavras tão mal escolhidas, desejaria poder estar agora nos teus braços e ganhar novos beijos, novos toques e confidências. Desejaria você perto de mim.

Pensei então que quando a gente cisma em terminar o que efetivamente não acabou as coisas ganham novas proporções. Notei que ao tentar esquecê-lo você se tornou ainda mais presente, ainda mais vivo, ainda mais profundo em mim. Você passou do real para o etéreo e sentou-se manso em meu coração. Fez dele sua morada, acordando com um doce chamado o desejo meu.

Então os seus beijos, na minha cabeça, adquiriram novos nuances. Eu passei a sentir o calor deles nos lábios meus, passei a desejar você em mim de novo, desejar suas palavras nos meus ouvidos. Passei a querer sua pele na minha, os seus pensamentos rápidos brigando com a calmaria dos meus e até as nossas implicâncias passaram a me fazer falta. Notei que se abriu um vazio imenso no meu peito depois daquele dia e que ele engoliu todo e qualquer bom senso, fazendo a minha razão chiar baixinho, quase inaudível.

Até o teu cigarro que tanto me incomodava, passou a me fazer companhia. Passei a caminhar com um maço no bolso e vez ou outra me pego com um entre os lábios para sentir o gosto seu.

Outro dia li que a dor emocional é como a dor física para o cérebro. Então eu fiquei hoje sentada no ônibus imaginando que se, de repente, eu parasse em frente da tua casa e te chamasse, se você me atenderia. E eu pensei nessa dor emocional e não consegui levantar. Pensei nessa dor emocional e não consegui te ligar, não consegui sequer digitar uma mensagem tola e sincera com um “desculpa”.

Então agora, de noite, olhando pela janela o mundo entregar-se ao deleite do sono, com um vinho branco mal acomodado num copo americano, eu resolvi que vou te escrever, que vou superar esse receio bobo que me sopra que você não me ama mais e vou te chamar no whatsapp.

Amor, me perdoa?”

Perdoo sim boba, tô indo ai te buscar. Te amo“.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.



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Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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