“Que o amor nos salve da vida…”

Esta semana recebi o email de uma leitora, brasileira residente em Dallas, contando sua história. Me pediu um texto. Embora não costuma fazer textos sob encomenda, algo me despertou, e recordei a frase atribuída ao poeta e escritor Pablo Neruda (na realidade a frase é de Javier Velaza), que diz:  “Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida”… Pois a vida é uma experiência dura, muitas vezes confusa, incompreensível e incerta; e reconhecer um abrigo no meio de tanta inquietude é acolher o tempo da clareza, em que tudo passa a ser suprido de sentido.

Alguns amores nos salvam da vida. Por resgatarem quem somos depois que partes de nós mesmos são deixadas pelo caminho. Por fazerem de nossas cicatrizes parte de suas estruturas também. Por acolherem nossa história com delicadeza, transformando o que era imperfeito numa nova possibilidade. Por permitirem o encontro com a esperança, o cortejo com a fé. Por dividirem as angústias do existir, permitindo que nossos fantasmas sejam lapidados, nunca enterrados.

O amor nos torna vulneráveis. Ainda assim, percebemos sua urgência quando compreendemos que a vida é uma faísca, um piscar de olhos entre o nascente e o poente de nós mesmos.

Como diz a canção, “a vida tem sons que pra gente ouvir precisa aprender a começar de novo…”
E descobrimos que começar de novo não significa retroceder, mas entender que não haverá mais de nós em cada esquina ou aeroporto. Que não há outro tempo em que estaremos juntos além do tempo presente que se descortina diariamente. Que não seremos melhores ou maiores além do que podemos ser nessas horas em que vivemos e permanecemos lado a lado.

De vez em quando torna-se necessário fazer o caminho de volta para que o amor nos reconheça também.

Desistir das corridas, dar trégua aos projetos ‘imprescindíveis’ , abandonar rotinas desgastadas pelo tempo, apaziguar o contrato com a pressa. Resgatar os laços, valorizar os momentos, perceber-se merecedor daquilo que não se toca nem se vê. Arriscar a travessia, suportar os desvios do percurso, desistir de antigas rotas, aplacar a saudade do que ainda está lá.

O tempo leva embora de diversas maneiras, enquanto a vida traz sem grande alarde.

Que haja lucidez. Lucidez para enxergar os presentes que recebemos e poucas vezes enxergamos. Lucidez para valorizar o que nos pertence de fato. Lucidez para aceitar o fim de um tempo e o começo de outro, diferente, mas nem por isso pior. Lucidez para acolher o que é verdadeiro, real e provido de sentido.

Lucidez para amar e ser amado. Lucidez para finalmente permitir que o amor nos salve da vida…

_ Em tempo: Terminado o texto, recebi da leitora a frase: “Saudade é o amor que fica”. Que possamos identificar o que realmente amamos, pois é ali que residirá nossa saudade. A esta leitora, com carinho e admiração, dedico este texto.

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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

16 COMENTÁRIOS

  1. Oi Fabíola, acompanho seu blog há um bom tempo e embora eu adore todos os textos nunca publiquei um comentário mas hoje eu não poderia deixar de fazer. Sou irmã dessa leitora tão especial e estamos sempre lendo seu blog. Também sou dentista e gostaria de te parabenizar por toda sensibilidade , otimismo e esperança que encontro em seus textos assim como seu olhar tão inteligente a respeito da vida e tudo que a envolve entre dores e realizações….naqueles dias chatos ou mais difíceis entro aqui e leio alguma coisa e sempre volto para meus afazeres com o coração melhor , fico ansiosa por um texto novo na certeza de que terminarei a leitura tendo aprendido algo de bom e a ver que vida com outro olhar…felicidades e sucesso!!!

  2. Compartilho do mesmo sentimento que a Claudia (acima) sou leitora do seu blog há um bom tempo, seus textos me tocam de uma forma tão profunda… bom a intenção deste post é apenas para te agradecer pelas palavras! Que Deus guarde sua vida e a proteja, sempre te abençoando para que continue a iluminar nossas vidas com belos pensamentos, você consegue colocar em palavras tudo que sinto e não consigo transcrever, mais uma vez obrigada!

  3. Fabiola,

    Obrigada! Você é muito talentosa, escreve de maneira brilhante; seus textos são sempre muito agradáveis de ler, cheios de emoção, sensibilidade e otimismo. Fontes de inspiração.

    Cora Coralina escreveu – "..Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas". Você consegue isso através dos seus textos. Desejo vida longa e prospera para você e seu blog que encanta tantas pessoas, principalmente a mim.

    Com muita admiração, um abraço Texano para você!

    Felicidades e Sucesso!!!

  4. Olá Cláudia! Que bom conhecê-la também! Conhecer a história da sua irmã, que de certa forma é sua também, foi muito especial. Escrever o texto, uma surpresa. Aprendi muito e agradeço a oportunidade de ter me envolvido nesse projeto. Obrigada por acompanhar o blog e pelo carinho que demonstra! Beijo grande, com afeto!!!

  5. Viviane querida! Obrigada por seu carinho e por tanta emoção compartilhada nos últimos dias. Que sua vida seja inundada de paz e realizações! Adorei a experiência de "trabalharmos" juntas, e sua história é muito bonita _ apesar de todas as dificuldades, você ainda tem esperanças e um largo sorriso no rosto! Felicidades!!!

  6. Que lindo! o amor arrebata os males, a solidao, faz nascer outra vez a vida ou, quem sabe, nascer nascer de verdade. Nao recomeça. Começa!
    O que seria das caravelas sem as velas? E dessas sem o sopro?
    Seus textos são fantasticos! 😉

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