Essa não é mais uma carta de amor

Desculpa esses garranchos e essas linhas tortas, mas não conseguiria te dizer tudo que está engasgado aqui dentro se eu ficasse olhando para esses teus olhos miúdos. Você sabe o poder que teus olhos tem de me desestruturar inteira e hoje não estava afim de me sentir desmoronar como das outras vezes. É patético e infantil, mas eu não conseguiria terminar meus pensamentos. Você mesmo disse que coragem não era meu segundo nome e, pois bem, não é.

Quero que entendas que foi um processo dolorosamente lento esse de partir. Não decidi de uma hora para outra, mas vim decidindo nas últimas semanas. Eu tentei de todas as formas acreditar no futuro incerto que desenhei para gente, mas cada dia quem passava me via mais perto de você e mais longe de mim. Isso foi me correndo aos poucos, boy. Dia após dia me sentia menos eu mesma e estava um caos tão grande do lado de dentro que, num dado momento, eu percebi que a bagunça toda só existia porque eu permitia você entrar e bagunçar tudo do lado de cá.

Entendo que permiti a tua entrada e gostei da maneira como você entrou feito um furacão na minha vida, roubando o ar, desestruturando meus ideais e sacudindo-me da zona de conforto. Esse caos era uma delícia. Essa montanha-russa era uma delícia. Mas em cada frio na barriga que eu sentia quando despencava, sentia que parte de mim fica lá, parada. Cada vez que eu caia, eu era menos eu. Lentamente, eu estava me tornando uma pessoa vazia.

Precisei decidir por mim, por mais que te ame. Nosso amor é louco, irracional, inconsequente, improvável. E eu não sou essa pessoa que desenhei ser para te agradar, desculpa. Permiti escorrer pelo ralo tudo de amor próprio que eu tinha quando aceitei mendigar teu amor e, desculpa, não dá mais. Eu preciso de mim agora, eu preciso saber quem sou e preciso de alguém que fique comigo pelo que sou e não pelo que posso ser. Eu aprendi muito de mim contigo e, desculpa, descobri que posso mais. Mas para poder mais, preciso ir.

E eu vou.

Não me procura. Entenda, é melhor assim. Eu estou me mudando para outra cidade, aqui não dá mais para mim. Ah, aquele celular que você me deu, deixei na mesa da cozinha. O número continua sendo seu, pode dar para a próxima que conseguir ser aquilo que você deseja, mais tempo do que eu fui. Te desejo um amor verdadeiro, tal qual o amor que eu sentia por mim, mas deixei escapar.

Eu vou te esquecer. Repito como um mantra. E sei que vou. E vai ser melhor assim.

Imagem de capa: Roma Black, Shutterstock



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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