Carta aos meus filhos

Oi.
Não sei bem como começar, mas essa sou eu. A mãe de vocês.
Não exatamente ainda. Mas, quem sabe vocês me escolham entre tantas outras.
Eu não sei ao certo quando vocês vão aparecer, mas eu quero muito que vocês venham.

Bem, acho que não preciso dizer muita coisa, já que teremos bastante tempo pra conversar, eu espero.

O que eu posso dizer…Eu já sou uma adulta. Eu acho. Pelo menos é o que minha carteira de trabalho diz. (Se depender do meu peculiar senso de humor e estranho gosto por trocadilhos e piadas ruins, já não tenho tanta certeza Heheheh)

Queria dizer que já fiz bastante coisa nessa vida. Já vivi uma vida chata, uma vida louca, uma vida calma, uma vida intensa. E sabe, tudo valeu a pena, tudo mesmo. Mas ainda falta algo. Eu sinto isso. Talvez esse “algo” seja vocês.
Talvez esse vazio que carrego fique um pouco menor quando vocês vierem.

E não tenho muito como convencer vocês. Porque sabe, o mundo aqui anda um pouco “confuso”. Viver nesse planeta é atualmente uma tarefa não exatamente “fácil”. Não estou falando isso para assustar vocês, mas é só pra dizer que o desafio é grande.

De qualquer maneira, quero dizer que já até imaginei formas muito criativas de contar ao pai de vocês quando chegar a hora.

Bem, já devem ter notado que eu sou um pouco apressada, não é!? Adultos têm disso. A ansiedade é comum na gente.
Aliás, eu preciso falar um pouco sobre os adultos. Queria que soubessem que os adultos são estranhos. Alguns muito, muito estranhos. Alguns malvados. Alguns malvados que fingem ser bonzinhos. Alguns bonzinhos que fingem ser malvados. E alguns bonzinho que… são bonzinhos mesmo. E muitos são indecisos. A maioria, na real.

E muitas vezes a indecisão nos afeta de tal maneira que só queríamos por um pouquinho de tempo voltar a ser criança, pra não precisarmos decidir tudo sozinho. Decidir tudo é bem cansativo, sabe?! Porque não, a gente NÃO tem certeza de tudo. Mas a gente faz de conta que sabe, só pra parecer adulto. E não há como negar, nesse quesito somos ótimos: fingimos MUITO bem. Fingimos saber as respostas e o caminho. Fingimos não estarmos tristes. Fingimos que não dói. Mas a gente sente tudo. Tudinho. E a gente chora. Na maioria das vezes escondido. E sabe, juro que não entendo o porquê.

Dizem que é pra não precisarmos explicar e não mostrarmos que também sentimos ‘coisas’. Eu sei, é bem estranho alguém não poder ‘sentir coisas’ e chorar na frente dos outros. Adultos são sim estranhos. São complicados, cheios de manias e muitos são bem chatos. Mas muitos são bem legais, sabe. Guardam com cuidado a criança que possuem dentro de si. Sabem rir e não se preocupam tanto se colocaram a blusa do avesso. E muitos ainda guardam brinquedos em casa. Vou te contar um segredo: uns até brincam e jogam vídeo game. (Esses não sei se são considerados exatamente adultos e eu me encaixo neste grupo)

Pois é, não sei dizer quando me tornei adulta. Será que foi no dia que fiz 18? Ou no dia que me formei? No dia que comecei a namorar? Ou no dia que paguei meu primeiro boleto? Talvez no dia que comprei talheres de gente grande e fui morar sozinha…? Juro que não sei. Vai ver nunca me tornei adulta. Só passei o primeiro estágio da infância.

Talvez agora esteja no segundo estágio. Aquele onde a vida te cobra. Cobra que você seja perfeito. Que saiba direitinho o que quer. Que tenha um emprego estável e guarde dinheiro. Que seja educado, que não estacione em fila dupla, vote consciente e pague todas as contas e impostos em dia. Saiba o hino nacional todinho, como abrir uma garrafa de vinho e trocar pneu. É… ser adulto não é tão simples não. Mas tem lá suas vantagens. Como por exemplo: poder comer chocolate a hora que quiser. (É, embora alguns pareçam mesmo ser adultos, no fundo somos todos eternas crianças.)

Bem, um dia vocês vão entender. E vão perceber que por mais que o mundo ainda gire em torno do dinheiro, o que vai importar mesmo é quem nós amamos nessa vida. Que ainda existem pessoas boas e que sorriem de verdade. Que tem coisas que nem todo o dinheiro do mundo comprará. Que tem momentos que foto nenhuma vai capturar. Que sonhos se realizam, sim.

E que por mais que algo pareça difícil, se há amor envolvido, sempre vale a pena. Então, não sei se fui muito convincente. Não queria assustá-los. Este mundo é louco, imprevisível, incerto e vai dar medo… Viver aqui não nos dá muitas garantias.

Mas de uma coisa tenham certeza: o meu amor por vocês será o maior do mundo.

Um beijo,

Mamãe.

Imagem de capa: NadyaEugene, Shutterstock



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Admiradora da simplicidade e dos bons corações. Inquieta, curiosa e viajante. Adora boas histórias, risadas, cafuné e chimarrão. Faz piada de si mesma e ainda acredita nas pessoas. Anseia por um mundo com mais sensibilidade, roupas de capuz e pijamas com bolsos. Sua mais nova aquisição é um longboard.

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