Você deixa a minha casa (e o meu coração) uma bagunça

Isso está longe de ser uma reclamação. De forma alguma. Está mais para uma lamentação de saudade ou uma confissão de vício.

Eu adoro a bagunça que você faz, porque essa, só você sabe fazer. Não é uma bagunça qualquer, é uma bagunça deliciosa de se viver. Eu nem ouso pensar em arrumar a minha cama depois que você se vai, como se isso, de alguma forma, te fizesse permanecer aqui. Cada almofada jogada pelo quarto, é uma lembrança maravilhosa da noite passada e cada hora passada contigo, é uma tatuagem a mais no meu coração.

Você tem essa mania de deixar tua toalha molhada em qualquer lugar e, quando vou arrumar, não tenho coragem de a por pra lavar, pois ela tem o seu cheiro e pode muito bem se acoplar ao meu travesseiro, servindo de alívio quando a crise de abstinência de você bater…e ela vai bater, eu sei. Porque eu sei que você tem que ir. Eu sempre soube a besteira que estava fazendo quando decidi me envolver com você, mas de todas as besteiras que eu faço, você, com certeza, é a mais gostosa…e se persistir parece loucura, eu sou muito louca, tenho que te advertir!

Tenho que te advertir também que eu sou sua por inteiro. Não adianta mais fugir… Eu já nem consigo ligar o meu chuveiro, sem começar a rir! Não tem um canto dessa casa que não me faça lembrar de nós. Eu já liberei espaço no meu armário, você pode vir.

Como se você precisasse de convite (e de espaço), pra estar aqui… Mais do que invadir meu quarto e revirar os meus livros, você invadiu o meu coração e revirou todas as minhas ideias tão organizadas. Você transformou em Sim, vários dos meus “Nãos”. Me fez perder a compostura…as chaves de casa; A razão.
Você deixa o meu mundo uma bagunça!

Me fez ignorar todos os meus alertas de auto preservação. Por falar nisso, tem roupa sua pelo chão…
Tem seus copos com resto de Coca Cola e rum lá pela sala. Tem seus sorrisos sentados á minha mesa para o café da manhã. Tem sua playlist ainda tocando baixinho no meu computador, com a Janis Joplin no repeat, podia ser trilha sonora do nosso intenso longa de amor.

Tem camisa tua embolada nas minhas roupas, tem lugar vazio no meu sofá; Tem tuas séries preferidas salvas na minha conta, tem a sua tapioca na dispensa. O teu tênis de correr ficou aqui e teu short preferido pra dormir, daqui a pouco está rachando o aluguel. E você esqueceu um par de meias da última vez que saiu com pressa. É, eu acho mesmo que você se vai muito depressa…poderia ficar pro fim de semana. Pro fim de semana de dezembro do ano que vem, por exemplo. Por mim, estaria tudo bem.

O lance é esse: Tem muita coisa sua aqui, mas não tem você. Tem muito de você em mim, talvez mais que você imagine, mais do que eu mesma pude prever.

Eu me viciei no teu caos. Agora, sou dependente confessa.

Você ignora todos os meus TOCs! Pega meu lugar na cama, muda minha mobília e sempre coloca o edredom embaixo do lençol, não importando o quanto eu venha a reclamar. Mas, eu já nem quero mais reclamar. Você me ofereceu a felicidade como rotina; O amor como companhia e beijos de despertador. Você fez a minha cozinha virar cenário de comédia romântica, e essa casa nunca havia visto tanta vida na vida. E o que era vazio, agora tem flor. O que era frio, agora é calor. A minha querida bagunça preferida.

Quem diria que eu, ah, logo eu! Que sempre tento ser tão organizada e politicamente correta, iria me apaixonar por uma bagunça tão alcoviteira e indiscreta?! Por um sedutor e sutil desleixo… Quem diria que me pegaria desejando, numa segunda feira, com todas as forças que tenho, mais bagunça, mais coca com rum, mais Joplin baixinho, mais cama desarrumada, mais roupas pelo chão…mais panelas sujas de macarrão em plena madrugada, mais consciência deliciosamente pesada, mais suor no meu colchão… Quem diria que um dia, eu teria verdadeiro pavor de chegar e encontrar a minha casa arrumada, sem vestígios nossos, ao acordar de cara lavada, e não encarar nos olhos, meus vizinhos tão puritanos, pois desconfio que o mundo inteiro nos escutes, e pior ainda, escutem as minhas súplicas quase impronunciáveis, para que você fique mais um pouco.

Sem você tudo perde a graça. E não há rum que dê jeito. Eu não quero mais o edredom do lado certo, não quero mais chegar na hora. Eu quero dormir tarde, mesmo tendo que acordar cedo. Eu quero a tua escova de dentes junto da minha. Sem demora.

Você realmente deixa as minhas coisas uma bagunça, mas bagunça maior que essa, é a que fica dentro de mim, quando você vai embora.

Imagem de capa: Hrecheniuk Oleksii, Shutterstock



LIVRO NOVO



Carioca, criada na Bahia, quase paulistana e atualmente moradora de Porto Seguro-BA. Mãe de duas garotinhas lindas, geminiana, ascendente em Câncer e uma eterna sonhadora. Quando me perguntam, sempre brinco com as pessoas, dizendo que eu não sou escritora, apenas passo para o papel o que a minha alma dita. Por tanto, o mérito é dela! Sou aficionada pelas palavras, desde que me entendo por gente, quer dizer, na verdade, até hoje não me entendo direito por gente, mas amo as palavras desde que as conheci e que elas começaram a fazer sentido pra mim.

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