Poema de amor partido

Desde que dormi inverno, não mais acordei verão. Que me perdoe a ditadura do otimismo, mas, tenho preferido a minha solidão. Bebo café como um dia beijei-te a boca – compulsivamente. Apego-me à fé com o resto da minha carne oca – desesperadamente. Coleciono dúvidas e arrependimentos que costumam ocupar boa parte dos meus dias e, de tanto colecionar médicos, tornei-me, também, um colecionador de terapias.

Escrevo-te sete cartas por semana desde aquela terça-feira, e como não sei onde moras, guardo-as na tua penteadeira. Tenho preferido a cama, mesmo sem ter conseguido dormir. Tenho preferido o drama, visto a minha atual impossibilidade de sorrir. O descaso com o nosso jardim é um reflexo da tua ausência, pois, se não posso cuidar de mim, como sustentarei uma outra existência?

Tenho o direito de ser triste pelo tempo que for preciso. Tenho o direito de ser noite e de agir como um morcego. Tenho o direito de escolher se um dia terei sossego e, de quando, como e onde, darei meu próximo sorriso. Voltei a ouvir tango e a culpa é toda nossa. O que seriam dos poemas de amor partido, se não fosse – verdadeiramente – funda, a fossa?

Imagem de capa: stockfour, Shutterstock



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Fellipo Rocha é poeterapeuta, músico e idealizador da página Corpoesia. Além disso, escreve pelos sorrisos que perde, todas as vezes em que não sai de casa.

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