O pior tipo de estranhos: aqueles que já se amaram

Nós, que dividimos durante anos as eternidades de uma vida inteira, hoje, mal nos cumprimentamos na fila do supermercado. Temos sido, portanto, o pior tipo de estranhos: aqueles que já se amaram.

Nos tornamos recém desconhecidos há pouco mais de um ano e, até a presente data, ainda costumam aparecer novos desconectados para me questionarem sobre nós. No começo eu costumava levar na esportiva, explicava com riqueza de detalhes cada um dos motivos da nossa separação. Depois, passado um certo tempo, já um pouco fatigado do assunto, passei a responder somente que não estávamos mais juntos e que não tínhamos mais contato. Hoje, respiro fundo e me silencio, não sou obrigado.

Não posso dizer que não valeu, nem tampouco posso te agradecer por tudo. Talvez acreditamos ter feito uma boa escolha ao resolvermos ficar juntos, todavia, certamente tomamos uma decisão ainda melhor ao decidirmos nos separar. Se tivemos bons momentos? É claro que sim! Mas estes não foram suficientemente bons para compensar cada uma das dores de cabeça.

Espero que tenha encontrado alguém que não deixe a toalha molhada sobre a cama, que não arrote após um copo de Coca-cola (o que acho difícil) e que dê valor para as músicas indecifráveis que você tanto aprecia. Pois eu ainda procuro alguém que goste de Los Hermanos, que não suporte sequer a ideia de frequentar uma academia, e que tenha como esporte favorito uma saudável e infinita maratona de seriados.

No mais, até o próximo aperto de mão na fila do pão.

Imagem de capa: Martin Novak, Shutterstock



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Fellipo Rocha é poeterapeuta, músico e idealizador da página Corpoesia. Além disso, escreve pelos sorrisos que perde, todas as vezes em que não sai de casa.

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