As decepções ensinam o coração a agir com a razão.

Ninguém desiste de acreditar nos relacionamentos amorosos por acaso, certamente, alguém que decide, ainda que temporariamente, recuar diante de uma possibilidade de envolvimento afetivo, possui as suas razões para isso. É muito fácil rotular alguém como frio, calculista, egoísta, solitário ou algo do gênero, difícil é encontrar alguém interessado em compreender, ao invés de julgar, as escolhas do outro.

As rupturas amorosas estão no rol dos grandes desgastes que enfrentamos nessa vida. Independente das motivações que levaram ao término de uma relação, o luto é inevitável. Então, chega uma fase em que é perfeitamente normal a pessoa dar uma recuada e focar em outros interesses alheios à esfera sentimental. Quando alguém opta por dar férias ao coração, certamente, é porque vivenciou alguns dissabores que acabaram por minar o seu otimismo, afinal, as experiências pelas quais passamos nos marcam, de uma forma ou de outra, e sentir receio de envolver-se novamente, expondo-se à possibilidade de viver outro luto pode ser um possível mecanismo de proteção para um coração que sobreviveu a tantos desatinos.

É previsível que uma pessoa torne-se cada vez mais ressabiada conforme vai acumulando vivências que a fizeram sofrer. É como se, a cada decepção, a sua inocência e a sua capacidade de confiar no outro fossem comprometidas. A situação se agrava quando a pessoa se dá conta de que viveu alguns sofrimentos que poderiam ter sido evitados, ou seja, ela olha para alguns relacionamentos fracassados e percebe que se envolveu por pura carência ou porque o outro, também por carência, insistiu muito e ela acabou cedendo, atuando como uma espécie de muleta para quem atravessava uma fase sombria da vida e não teve dignidade suficiente de viver o próprio luto sem envolver outra pessoa. Diante disso, a pessoa terá que lidar com a dor da ruptura e, de brinde, com aquele sentimento assolador de ter sido usada pelo outro e ter sido descartada tão logo perdeu a sua utilidade como muleta. Sim, é muito comum isso: uma pessoa totalmente machucada chega na vida de outra e acaba sendo acolhida, o outro oferta a ela o que tem de melhor e tal. Daí, após algum tempo, o ferido recupera suas forças e percebe que não é bem ali que ele quer ficar, então, simplesmente alça voo e vai em busca de outros ares e dane-se aquele que o acolheu quando estava no fundo do poço.

Há ainda outro fator que considero desanimador nesse contexto: os tempos atuais são de amores descartáveis, então, tornou-se uma prática rotineira as pessoas, ao romperem um relacionamento, tratarem o ex companheiro(a) como algo totalmente inutilizado, uma espécie de lixo tóxico que deverá ser mantido completamente isolado. Diante disso, não é de se estranhar que um ex casal, que um dia foi só romantismo e promessas de amor eterno, hoje não passa de contatos bloqueados nas redes sociais. Fica nas entrelinhas a seguinte mensagem: agora que não preciso mais de você, não quero sequer correr o risco de receber uma mensagem sua, vou te bloquear. Dane-se. Então, creio que muitas pessoas estão cada vez mais se protegendo da possibilidade de serem tratadas como objetos descartáveis, afinal isso machuca, isso fere a dignidade de qualquer um, podendo, inclusive, ser um desencadeador de uma doença emocional como a depressão, por exemplo.

Como diz o velho ditado popular: cada um sabe onde o sapato aperta, não é mesmo? Cada um sabe muito bem das bordoadas que já levou da vida, especialmente, no território do amor. Então, é perfeitamente compreensível uma pessoa puxar o freio de mão, ainda que por uma fase. É mais ou menos assim que as pessoas pensam: se eu tiver que arriscar, que seja por alguém que mexa muito com a minha estrutura, não estou afim de correr risco desnecessário. E pensando bem, se não cuidarmos de nós mesmos, quem fará isso por nós? Ninguém!

Imagem de capa: sergey856, Shutterstock



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Sou uma mulher apaixonada por tudo o que seja relacionado ao universo da literatura, poesia e psicologia. Escrevo por qualquer motivo: amor, tristeza, entusiasmo, tédio etc. A escrita é minha porta voz mais fiel.

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