A fofoca não encontra morada no ouvido de quem é sábio

Com um pouco de atenção já percebemos que um falatório pode enaltecer ou denegrir, de forma determinante, algo ou alguém.

Desde que o homem passou a usar o fogo para se aquecer, há milhares de anos, em volta de uma fogueira, as conversas deixaram de ser exclusivamente urgentes. E dessa reunião social para o surgimento da fofoca foi um pulinho. Talvez o termo “jogar o outro na fogueira” tenha surgido aí.

Estudos dizem que a fofoca pode até promover uma certa coesão social, mas, a meu ver, ela quase sempre é uma importante ferramenta de manipulação muito usada por pessoas não muito bem-intencionadas.

A fofoca pode ser vista, quase sempre, como uma corrente de três elos. De um lado há o criador do falatório, ou seja, o manipulador, no centro da coisa o disseminador, ou fofoqueiro, aquele que busca notoriedade dentro do grupo e que trabalha, inconscientemente, para o manipulador e no fim de tudo o ingênuo que acredita no que ouve sem questionar. Pronto, o circo está armado!

O manipulador quase sempre é alguém que já calculou os danos ou benesses da fofoca inventada por ele. Traçando um perfil psicológico, podemos dizer que ele é uma pessoa invejosa e competitiva.

O disseminador ou fofoqueiro de plantão é uma pessoa que busca notoriedade e que provavelmente tem uma baixa estima e vê na fofoca uma forma de sentir-se mais forte.

E na ponta de tudo existe o ingênuo que nem sempre escuta o que lhe é contado de forma crítica. Logo, ele pode até mesmo amar ou odiar alguém, sem ao menos conhecer a pessoa em questão.

Há também aquela fofoca ou difamação direta, muito usada em abusos psicológicos, na qual a pessoa alvo da fofoca é levada a crer em coisas ruins sobre ela mesma, o que com o tempo pode se tornar um veneno emocional. Nesse caso o fofoqueiro é também o manipulador e o ingênuo é a pessoa alvo da fofoca.

De acordo com Richard Wiseman, professor de psicologia da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, quando uma pessoa fala mal ou bem de outra ela, inconscientemente, acaba, aos olhos dos demais, sendo associada às características citadas por ela. Logo, o fofoqueiro acaba recebendo comumente um estigma negativo, pois fofocas do bem são bastante raras.

Mas como escapar de tudo isso? Resumidamente, para quebrar uma fofoca precisamos romper um dos três elos da corrente. Pulemos o manipulador, pois ele dificilmente dispensará o que para ele é uma arma eficaz de poder.

Já o fofoqueiro, se houver interesse de mudança, poderá enaltecer qualidades ao invés de denegri-las, algo que o faria, de acordo com Wiseman, ser visto pelos outros como alguém mais confiável.

Quanto ao ingênuo, ou no caso, nós, é muito interessante que possamos ouvir com inteligência tudo que nos é dito.

Algumas perguntinhas podem nos ajudar com isso: O que estamos ouvindo é realmente verdadeiro? O que nos foi contado é algo bom? Pode ter alguma boa utilidade?

Se a informação que nos chegou não for verdadeira, boa ou útil provavelmente é uma fofoca, e nesse caso é melhor não passarmos para frente o que nos foi contado.

Assim diminuiremos o poder do manipulador, daremos uma nova chance para o fofoqueiro se ajustar e, de quebra, não assumiremos para nós o insalubre papel daquele que fala mal dos outros e bebe diariamente da própria infelicidade.

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Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain.



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Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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