A delícia de ter um amor cheio de afinidades

Mesmo não procurando, a verdade é que a gente, lá no fundo, desejamos alguém para dividir os momentos: apaziguar as tristezas e exponenciar as felicidades. Ser meio doido juntos; sérios e imaturos juntos, bem assim. E isso é bom. Não quer dizer que passar um tempo sozinho seja ruim, porque não é. Mas, uma vida inteira, sozinho, é impossível. Fere a alma e encurta a vida. Ter alguém do lado da gente é duplicar a vida. A gente vive duas vezes mais. E o Tom, realmente, estava certo ao cantar que fundamental mesmo é o amor, e é impossível ser feliz sozinho – dei uma reajustada nas palavras, mas a ideia se manteve; que poeta!

E, no meio da rotina diária, a gente se relaciona com diversas pessoas, no caminho e dentro da faculdade, naquele grupo improvisado para entregar a atividade ou na fila da lanchonete; no trabalho, no cliente, na reunião chata do início ao fim do expediente; naquela força a mais na academia; na mensagem de bom dia, bom almoço e “secou o cabelo antes de dormir?”; no aconchego que aquela voz traz ao telefone na madrugada; no abraço inesperado; no “estou aqui na tua porta, desce”. Não importa onde, aonde, como, quando ou se são encontros rotineiros ou não. Estamos rodeados de pessoas. Mas, pessoa por pessoa, não é o suficiente. É preciso observar, absorver. Cativar e ser cativado.

Antes da vida te dar alguém, ela dará pedacinhos de sentimentos dessa pessoa ao longo do dia; diariamente, por semanas e, às vezes, por meses. Saber receber esses pedacinhos é simples: basta observar o que recebemos e reconhecermos isso como “uma prévia” de algo maior; que pode durar uma vida inteira ou só um final de semana. Vai saber quando se permitir. Quando encontrar.

Às vezes, insistimos na pessoa errada. Eu sei que, por obra do destino ou poesia, alguns opostos se atraem, acontece. Não é a regra. Mas, além dos dispostos, os sintonizados são os mais propícios para darem certo. Eu gosto de calmaria, o outro de baladas; eu tomo café e aprecio meu livro, o outro energético e a folha unitária da comanda – apenas; eu penso no futuro, amigos, família e um amor estável para chamar de meu, o outro no momento “fast-love”, nos contatos, nos colegas do rolê e a quantidade imensurável de bocas para se beijar – não vou listar tudo que me vem à cabeça para não ser cansativo. Você sabe. A gente sabe. O resumo é que não dará certo. Não a longo prazo, óbvio.

E, de repente – ou não, pode estar diante da tua cara –, a vida nos dá aquela pessoa que é tão parecida com a gente que, nossa, assusta. Conforta, também. E passamos a dividir, muitas vezes sem perceber, com ela, os minimalismos do dia-a-dia e, é tão bom. Os gostos pelos os mesmos filmes fazem a gente discutir as cenas mais gostosas durante horas. Respeitamos o espaço um do outro para o estudo, a leitura, o cuidar dos sobrinhos. Ansiamos o final de semana para dividirmos a quietude da tardezinha, da noitinha, e o aconchego da presença um do outro que já é mais do que o suficiente. Passamos a planejar as viagens do futuro. Os passeios com os pets que ainda nem temos.

Encontrar alguém que, além de interessado, tem afinidade com a gente, é ganhar da vida a mais delicada prova de sentimento recíproco. Porque, por mais que estamos felizes sozinhos, ter alguém que ameniza com a própria presença as dores – porque elas virão – da vida, é ter um lar para se proteger por onde quer que caminhamos.

Imagem de capa: Jacob Lund, Shutterstock



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Nasceu no Piauí e cresceu em São Paulo, mora atualmente em Santo André – SP. Apaixonado pela área de exatas, mas tem o coração nas artes e escrita; trabalha e defende o meio ambiente e, as causas naturais: sentimentos; afetos; amor.

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