Sentir-se isolado provoca grande sofrimento afetivo

A sensação de isolamento pode ocorrer em diversas circunstâncias. Em todas elas, é uma experiência dolorosa. Dolorosa, difícil de identificar e ainda mais difícil de resolver.

A resolução no caso de uma situação de isolamento, quase sempre passa pelo envolvimento de outras pessoas, pessoas que por alguma razão sentem-se maldispostas em relação àquele que foi isolado, pessoas que enxergam motivos para ver no indivíduo que foi colocado de lado, alguém com quem não é bom conviver.

Há episódios em que se isola alguém baseado na crença de que essa pessoa representa uma ameaça. Neste caso, o mais comum é começar a se formar no ambiente um movimento de aglutinação entre pessoas que se sentem da mesma forma: ameaçadas pelo outro.

Essa situação é bastante comum em ambientes de trabalho, sobretudo naqueles onde há excessiva competição entre os componentes, ou onde os líderes não têm capacidade para gerir conflitos ou mediar relações profissionais que envolvem seus subordinados. Líderes pouco preparados para administrar equipes, podem desenvolver um padrão de relações pouco éticas entre aqueles que as compõem.

Pessoas que convivem neste tipo de agrupamentos de trabalho, podem adoecer seriamente. E isso pode acontecer em todas as esferas. Mas aqueles que são colocados à margem, seja por qualquer tipo de exclusão – gênero, faixa etária, formação acadêmica – sofrem sobremaneira, e podem chegar ao extremo de não ver outra solução que não seja demitir-se.

Entretanto, o processo de isolamento não atinge apenas as pessoas adultas. Entre crianças, é muito comum haver aqueles que não são queridos ou bem-vindos a determinados grupos. Há crianças que são mais tímidas, ou que têm poucos recursos sociais, tornando-se arredias e até mesmo agressivas. Essas crianças são facilmente excluídas pelos outros, em razão de seu comportamento desagradável.

Ocorre que quanto mais essas crianças vistas como problemáticas, forem rejeitadas, mais acentuadas se tornarão suas dificuldades de convívio. Em pouco tempo, esses pequenos terão uma coleção de experiências negativas relacionadas ao seu envolvimento social; e, assim, crescerão com medo de se aproximar do outro, e com a sensação de que são inadequadas e estranhas.

Uma criança isolada de seu grupo de convivência pode desenvolver distúrbios de aprendizagem, ansiedade e depressão. Nenhuma criança é capaz de aprender se estiver tomada pelo medo de ficar sozinha na hora do recreio, se estiver inquieta pela perspectiva de não ser escolhida para um time de brincadeiras ou grupo de trabalho.

Nestes casos é indispensável que haja adultos preparados para interpretar e ajudar os menores a “ler” seus sentimentos e encontrar maneiras de interagir com seus pares para serem incluídos e aceitos. O estabelecimento de laços de amizade tem um papel indiscutivelmente importante no desenvolvimento afetivo, cognitivo e social das crianças; e a falta deles pode determinar o aparecimento de desajustes psicológicos no futuro.

Ambientes que proporcionam experiências por meio das quais se desenvolve recursos de convivência saudável, previnem a ocorrência de problemas emocionais e cognitivos na adolescência.

A adolescência, por si só, já representa um considerável desafio no processo de amadurecimento. Ser adolescente e sentir-se excluído representa uma potencial situação de risco, que pode criar circunstâncias graves e preditoras de desequilíbrios psicológicos.

Para o adolescente, ser aceito por seus pares significa muito, significa fazer parte de um todo e encontrar acolhimento para suas naturais inquietações e volatilidade de sentimentos. A falta de vínculos afetivos entre pares na adolescência pode ser o disparador para a ocorrência de transtornos do comportamento, com consequências desastrosas, envolvendo estados depressivos e até pensamentos suicidas.

A despeito de sua indiscutível relevância, as interações sociais ainda são extremamente negligenciadas. Muitas vezes, a criança socialmente isolada pode ser interpretada pelos adultos ao seu redor como crianças boazinhas, tranquilas e que conseguem se divertir sozinhas em seu cantinho.

No entanto, essas crianças quase invisíveis precisam ser percebidas à luz de uma compreensão que só os adultos têm condições de oferecer. É preciso enxergar com urgência o quanto a situação de isolamento pode fazer sofrer e trazer para a essência da personalidade dessa criança um encontro prematuro com a dor da solidão.

Imagem de capa: Kharaim Pavlo, Shutterstock



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"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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