Não me venha com desculpas tortas

Eu poderia começar citando o maior abandonado Cazuza, cantando desafinada que mentiras sinceras me interessam, mas as coisas não são bem assim. A verdade é que estou farta dessas falsas verdades que você conta, cada vez que vem com as mãos no ar, rendendo-se e me presenteando com qualquer desculpa. É sempre o trânsito que está caótico. É sempre o trabalho que está cheio. É sempre os amigos que precisam de uma companhia para uma cerveja. E eu ali, esmagada entre um horário vago e outro, escondida entre teus lençóis, catando migalhas do teu amor por qualquer canto dessa casa vazia.

Não pense que é mesquinharia minha. Eu não menti nenhuma das vezes quando disse que estava tudo bem para mim. Porque estava. Você era sincero quando me contava que havia a turma e havia o futebol. Você antecipava tuas horas extras e me mandava mensagens, dizendo que chegaria mais tarde e que sentia saudades. Mas hoje eu vejo que não sou mais suficiente. E todas as vezes que tentei te mostrar isso, você veio cheio de desculpas tortas, dizendo que eu estava transformando em tufão uma brisa qualquer.

Você não vê a tempestade que está aqui dentro. Você não enxerga o caos que mora dentro de mim e não faz ideia do tanto de amor que sinto. É uma merda, boy, porque eu sei de todas as tuas mentiras, de todas as tuas desculpas esfarrapas e, ainda sim, eu fico. E vejo você ir, pouco a pouco. Vejo você se aventurar pouco a pouco. Vejo você ficar bom nessas desculpas que me dá cada vez que madruga, cada vez que deita ao meu lado, beijando doce minha testa e desejando um boa noite sussurrado, para logo virar de lado e me deixar ali, sozinha, guardando o amor debaixo dos lençóis.

Eu cansei, boy. Cansei das tuas desculpas, cansei de mendigar e cansei desse amor que sinto. Quero jogar tudo fora. Pôr os pingos nos is. Chorar tudo que há para chorar e dizer tudo que há para te dizer. Porque há muito para dizer, boy. Tem tanta verdade enclausurada aqui dentro que temo morrer de silêncio. Mas aí eu calo. E fico. Porque maior que as tuas desculpas tortas, são as desculpas que invento para ficar.

Imagem de capa: Chayanin Wongpracha, Shutterstock



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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