Triângulos amorosos: quem nunca?

Imagem de capa: Volodymyr Tverdokhlib, Shutterstock

Aposto e ganho como já tem uma porção de gente balançando a cabecinha por causa desse título aí de cima. Há que jure de pés juntos que nunca, nunquinha mesmo, fez parte de um triângulo amoroso. Mas, e sempre tem um “mas”… preciso lhe contar um segredinho, meu incauto leitor: é mais difícil encontrar alguém que nunca participou dessa amorosa geometria, do que encontrar uma agulha no palheiro! Pode acreditar!

Inclusive, além dos triângulos, há retângulos amorosos; menos comuns, mas não impossíveis há pentágonos (além daquele lá da Casa Branca, tá ligado?!), hexágonos e por aí vai…

A questão é a seguinte: um triângulo amoroso nem sempre é algo concreto ou visível; alguns deles, inclusive, só se desenvolvem na cabecinha de um dos envolvidos. Isso acontece porque em pleno século XXI, muito tempo depois da passagem do filósofo Platão pela Terra, ainda há quem recorra ao alento afetivo de um amor platônico. Pois é.

O amor platônico é bastante útil para aquelas pessoas que precisam sentir que exercem algum poder na relação, ou não é capaz de sentir tesão sem que haja alguma disputa envolvida. Muitas vezes, esse tesão é tesão mesmo, ou seja, algo ligado diretamente à libido e ao desejo sexual. No entanto, há um outro tipo de tesão que, não tem nada a ver diretamente com sexo, mas tem ligação direta com o desejo pelo controle do outro, sem que ele saiba, é claro!

Ahhhhh, sim! A nossa cabeça é extremamente complicada! O fato é que, complicada ou não, é a cabeça que sente amor, paixão, desejo, raiva, repulsa, inveja, e todos os outros tipos de emoções que temperam a nossa vida. O pobre coração, coitadinho, não tem nada com isso.

Mas, voltando à nossa questão angular sobre relacionamentos. Muitos casais, acabam sucumbindo a um tipo de relação que não vai nem para frente, nem para trás. Isso acontece com mais frequência do que se possa supor. Todo relacionamento no início – ou, a sua maioria -, tem como pano de fundo aquela situação inicial de encantamento; um quer desbravar o ouro; ambos apostam na felicidade e, nesse início de “jogo”, dão o seu melhor.

Uma vez que se caminhe desse estado primeiro de paixão para um outro nível, aquele das relações mais estáveis, ingressa-se também em terrenos mais escorregadios que atendem pelo nome de rotina, acomodação, choque de realidade, incompatibilidade de manias e bla, bla, bla… Todo mundo sabe do que é que eu estou falando, não é mesmo?

Bem… se o casal, em questão, tiver a sorte de madurecer junto com a transformação da relação, ganha de presente – mas, não de graça -, uma chance muito maior de fazer essa história dar certo. Porque há também um encantamento genuíno na partilha das conquistas do cotidiano, na capacidade de acolher as imperfeições do outro, na oportunidade de evoluir emocionalmente, a partir de um relacionamento saudável, onde há lugar para tudo, incluindo conflitos e fases de calmaria.

Porém…. Ahhhh porém… não raras vezes, um dos envolvidos – às vezes, ambos -, ficam ressentidos com a descoberta de que a tal sonhada felicidade não pode ser entregue pelas mãos do outro. Além disso, a maior parte de nós tem uma visão bastante romantizada e ilusória acerca do que vem a ser de fato uma relação à dois que dure além da paixão.

Nestes casos, a motivação advinda das expectativas iniciais pode gerar alguns filhos inesperados – filhos simbólicos ou filhos humanos mesmo. No caso dos filhos simbólicos, estes são constituídos por aquisição de bens materiais, animais de estimação ou projetos em comum, algumas vezes profissionais, inclusive. No caso dos filhos humanos, estamos falando de crianças, é claro – sejam elas nascidas por vias biológicas ou não. A questão é que, se construir uma relação à dois já é um desafio enorme, incluir outros elementos à essa tarefa desafiadora, requer um grau ainda mais elevado de maturidade emocional e disponibilidade afetiva.

O que complica, então, é esse quase despreparo generalizado para nos envolver em jornadas de longo prazo, que nos torna alvos tão fáceis para escolher atalhos. E um desses atalhos são as relações externas à relação do casal.

Algumas vezes essa “pulada de cerca” não passa de uma ideia, surge uma atração – física ou mental -, por outra pessoa; em geral alguém que represente a antítese do perfil do parceiro estável, mas pode acontecer de rolar essa atração por outro alguém bem parecido; afinal de contas, o que não falta é gente que nunca encontra a felicidade amorosa, justamente porque fica repetindo um padrão de escolha. Muitas vezes essa relação de flerte acontece entre colegas de trabalho, entre amigos virtuais, entre amigos de faculdade, enfim, pode nascer em qualquer parte ou circunstância.

Essa atração fica no imaginário, alimenta uma carência de encantamento que foi solapada pelos percalços inevitáveis de uma vida cotidiana. Apoiado nessa relação triangular, a pessoa vai tocando a vida, como se tivesse arranjado um pezinho extra para um móvel que estava em vias de virar com tudo o que lhe ia por cima. Mas, como essa história não passa de um flerte e nunca se concretiza, isso funciona por um tempo. Por um tempo. O resultado pode ser desastroso de muitas formas, dentre elas, levar a relação real ao fim, em troca de um amor idealizado que pode não dar em absolutamente nada. Neste caso, entre mortos e feridos, ninguém se salva.

Outras vezes, o triângulo assume uma estrutura realmente concreta. Um dos elementos do casal, por julgar tem encontrado finalmente alguém que atende suas expectativas, ou simplesmente por forçar o caráter inocente da aventura, embarca com malas e cuias numa relação extraconjugal. E aí, não interessa se o tal elemento geográfico é reto, agudo ou obtuso, vai dar em desastre.

Há pessoas que sustentam relações triangulares por toda uma vida. E, são capazes de recitar uma infinidade de justificativas para a impossibilidade de colocar um fim a essa situação.

Na ponta daquele que se esticou para fora em busca de uma relação alternativa, chovem desculpas para manter os dois polos afetivos; esta pessoa é como um malabarista tendo de equilibrar uma pilha de pratos em cada mão: é cansativo, desgastante e vicioso.

Na ponta daquele que fica na relação mesmo desconfiando ou tendo certeza de que o outro esticou-se para fora, vale tudo para fingir que não é real o que se passa, inclusive, porque pode ser que essa tal pessoa estivesse apenas esperando por uma deixa para dar uma “puladinha de cerca também”, no melhor estilo “chumbo trocado não dói” – então, teremos aí um retângulo e não mais um triângulo; há ainda aqueles que não vejam essa escapada como traição; e há ainda, aqueles que não enxerguem uma saída de acabar com isso sem acabar com tudo. É! É complicado mesmo!

Na última ponta da relação triangular tem aquele que foi incluído na confusão emocional do outro, consciente ou inconsciente de que estava se metendo numa tremenda duma encrenca. Por incrível que pareça, é essa pessoa que tem a mais difícil escolha a fazer. Supondo que ela tenha entrado “de gaiato no navio”, quando ela se der conta, pode ser que já esteja muito envolvida ou acredite que o triângulo se romperá um dia e ela passe a configurar a idealizada forma de um feliz casal. Por outro lado, supondo que ela entrou no esquema sabendo dos riscos que corria, pode ser que ela tenha avaliado mal suas chances, ou pior… pode ser que ao conseguir romper o triângulo, ela se dê conta de que não era bem isso que ela queria.

A verdade, a verdade mesmo, é que nenhum de nós pode jurar de pés juntos que jamais beberá dessa água. Até porque, pode ser que a nossa parte seja bem aquela do elemento que não sabe de nada, inocente!



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"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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