O que passou não basta

Imagem de capa: Oksana Yurlova, Shutterstock

Depois que a poeira baixa e o coração se aquieta, o peito volta a se encher de sentimentos bons e a cabeça de memórias felizes. Eu percebi o momento de transição entre a incredulidade de tudo e a tranquilidade. Eu vi o sorriso que se expandiu nos meus olhos e refletiu nos lábios. Foi uma nostalgia bonita.

Aproveitei a serenidade do momento e as coincidências, e fiquei repetindo lembranças como um disco arranhado. O destino me apresentou duas músicas que me remeteram à lugares, cheiros e pessoas – e deixei. Foram dois dias de boas histórias, recordadas com carinho e embaladas por melodias cheias de detalhes.

Jão cantarolava Medo Bobo. Fechei os olhos. Flashes rápidos. O teu sorriso ecoando no carro, o teu rosto menino, os olhinhos que brilhavam. O beijo. A urgência. Uma mão enlaçada na outra, um ‘vem cá’, um lençol amarrotado. Teus olhos, rosto e sorriso emoldurados na fraca luz da cabeceira… Repeti cenas e cenários, enquanto repeti a melodia, consecutivamente. Dormi no meio de uma lembrança tua.

Amanheci, tarde e, tão logo abri os olhos, esbarrei em outra música, carregada com outro tanto de memórias bonitas – e algumas nem tanto. Lembrei da esquina. Da rua. Do pisca alerta ligado. Fechei os olhos. Mais cheiro, mais pessoa. Invadiu cada pedacinho de mim, me roubando aquele sorriso molhado de saudade. A melodia riscava minha face, trazendo gosto de um beijo de cinema, de uma ausência cheia de silêncios e de um abraço apertado.

Deixei.

Repeti até cansar – e ainda não cansei.



LIVRO NOVO



Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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