A morte é uma ignorância

Imagem de capa: Captblack76, Shutterstock

Quanto tempo ainda temos para viver, para desfrutar dos momentos dessa vida com suas mais diversas imperfeições e qualidades? A morte é difícil de imaginar, mais ainda é difícil de prever, de se preparar. Muitas vezes nos faltam palavras para sequer iniciar o assunto. É praticamente impossível explicar o sentimento de vazio que permanece quando perdemos pessoas que nos são tão queridas. Afinal de contas, ninguém está pronto para perder.

Não fomos ensinados a perder, a deixar partir. Desde sempre fomos educados para buscar métodos e práticas para alcançar o sucesso, a vitória. Crescer na vida pessoal e profissional, ser uma pessoa mentalmente realizada, ter um lar, uma família, realizar sonhos sejam eles quais forem. Encontrar a felicidade em diversos momentos. A derrota não é algo cogitado e nem pensando por mais que possamos assumir um discurso que enalteça a caminhada, o percurso, a linha de chegada sempre é o ponto principal. Se o importante é competir, o gosto da vitória é sempre mais saboroso.

Durante toda a vida não aprendemos a perder, a nos desfazer das coisas que gostamos, ou a dizer adeus a pessoas que imaginamos que deveriam estar em nossas vidas para sempre. Talvez em parte seja egoísmo nosso manter esse sentimento tão possessivo a uma coisa que pertence ao mundo, que da mesma forma que surgiu uma hora irá se apagar, assim como a vela do aniversário que a cada ano mostra que a força se esvai até chegar um momento em que nem mesmo será acesa. Somos educados e preparados a ganhar mais que perder, e o desespero da perda é iminente e parece gritar aos quatro ventos e se espalhar por todo o peito de uma maneira inimaginável.

Como agir ao confrontar mortes prematuras, perdas ignorantes, fora do tempo, fora da curva. Partidas que rasgam o peito e ferem a alma e deixam um vazio sem tamanho mensurável. Partidas que abrem uma série de dúvidas e levantam mil questões sobre quem somos e o que fizemos durante nossa vida para marcar nossa passagem. De acordo com a ordem natural das coisas, os filhos deveriam enterrar os pais, chorar a perca deles depois de muitos anos de vida, depois de ver seus netos e talvez até mesmo os bisnetos nascendo. Quando há uma alteração nessa ordem a dor é ainda mais agravada, o sentimento de vazio que insiste em permanecer é ainda mais forte. Os pais não deveriam nunca enterrar seus filhos e/ou netos, não é assim que deve ser não há lógica nessa matemática da vida.

Mas o problema maior é que a morte não se importa com essa lógica, não se importa com a ordem natural das coisas, afinal a morte é uma ignorância. Ela não pergunta se você está pronto ou não. Se a família irá sentir falta ou não. Ela não dá aviso prévio. Não manda carta e nem comunica nada. Quando ela chega, é implacável. Derruba a porta e lhe toma o bem mais precioso que você tem que é a vida. Para aqueles que ficam só resta as lembranças, as memórias daqueles que se foram. Os sonhos e os planos que deixaram de fazer. A carne que estava na geladeira para o churrasco do fim de semana, a roupa suja que estava dentro do cesto, à prestação do carro que estava parcelado em 48x, o rascunho daquele último artigo não publicado, as ideias no caderno que estava jogado embaixo da cama. Ficam as roupas novas que ainda não tinha usado. As velhas que já estavam com o seu perfume em cada parte. Ficam as fotos da infância e da juventude, e sobra imaginação de como seria se tivesse envelhecido como ficaria depois que tivesse seus cabelos brancos, será que teria muitas dores, alguma doença, algumas memórias.

Memórias e mais memórias, lembranças de um futuro passado que jamais existiu e vai ficar apagado e enterrado no dia da sua partida. Tão prematura tão inconsequente. A vida é um sopro. Como o pássaro que voa tão veloz e desaparece na imensidão azul, a vida também é. Ela passa na nossa frente e se não vivermos com toda a verdade e desejo, iremos ser apenas espectadores da nossa própria vida. E a morte… Essa é implacável, rápida e ignorante. Depois que ela age já não há mais formas de voltar atrás. Devemos aprender a viver e valorizar cada pedaço dessa nossa vida e já que um dia todos vamos morrer, precisamos tratar de prolongar a cada dia vez cada momento dessa nossa louca vida.



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Arquiteto, urbanista, escritor, podcaster e editor. Escrevo em busca de algo que me conecta com o outro, que me faz emergir em uma onda de amor e pensamentos sobre o que a vida ainda pode ser. A escrita é uma ponte que nos conecta há um novo mundo cheio oportunidades e conhecimentos. Cabe a nós e somente nós, dar o primeiro passo para atravessar essa ponte. Podcaster no InFormais Podcast.

1 COMENTÁRIO

  1. Se eu vou viajar para um país mas não me preparo pesquisando o clima, o idioma, onde me hospedar e quem será meu guia, impossível desembarcar nele sem insegurança ou medo do que me espera. A morte é isso. Para quem se prepara para o que vem depois, beleza. Mas para quem acredita que tudo termina em cinzas, azar o dele. Vai sofrer o diabo por antecipação e vai sofrer durante e depois como quem acorda em um hospital, perguntando quem é onde está. A morte não existe, dança quem acredita nela, quem joga todas as fichas nessa vida física, perecível que pode durar apenas alguns minutos após um bebê ter nascido doente mas que pode chegar aos cem anos, se o vovô é saudável, um mistério isso. Agora, facinho saber para que país você está indo, dando um “confere” na vida que você leva, no que gosta de fazer e ser: “Solte uma serpente e ela buscará uma toca. Liberte uma andorinha e ela voará para o céu”. Quer outra dica? Leia Kardec, Chico Xavier e vai chegar do outro lado sem traumas, pronto para curtir todos os seus amados que já foram antes, inclusive seu animais de estimação, cães, gatos, papagaios e tartarugas, que, assim como você, não morreram não, claro. “Para quem acredita, nenhuma palavra é necessária; para quem não acredita, nenhuma palavra é possível” (D.Inácio de Loyola).
    Dicas de Livros (Em PDF) para baixar pela Internet:
    “Ninguém morre” (Chico Xavier)
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