Tentar esquecer é um jeito de continuar lembrando

Imagem de capa: areebarbar, Shutterstock

Certas coisas são inesquecíveis.

Eu fico cantando “O Vento”, dos Los Hermanos: não te dizer o que penso, já é pensar em dizer e penso que, num aproveitamento da música, tentar esquecer, é um jeito de continuar lembrando. Não que eu queira esquecer, longe disso. Eu lembro de você com uma quantidade de detalhes surreal! Não preciso de esforço, sabe?

Eu fecho os olhos e ali está você, inteiro. Teu perfume vem no vento e me faz tremer. Sou capaz de escutar o tom do teu riso, e ele fica refletido no meu durante o resto do dia. Eu lembro do jeito que você sorri antes de roubar um beijo e de como tua sobrancelha dá uma franzidinha antes de você aprontar, como quando vai me encher de cócegas. Tua testa também franze quando você está arquitetando alguma coisa, seja na escolha da trilha sonora, ou na inversão do beijo, no meio da praça.

Eu lembro do toque da tua pele na minha. De como teus dedos colocam meus cabelos para trás da orelha, de como desenham meus lábios e de como são suaves riscando minha face. Eu lembro do toque da tua pele na minha, quando desenho você com os dedos trêmulos e curiosos. Lembro do toque da tua pele minha, enquanto você prende minhas mãos. Eu lembro do toque da tua pele minha, quando estamos deitados, enlaçados, aproveitando cada pedaço de pele para manter contato, para manter atrito. Lembro do toque dos lábios na pele. Lembro do gosto da pele nos lábios. Lembro do arrepio.

Lembro da intensidade que teus olhos brilham quando eu permito que mergulhem nos meus, e de como o brilho intensifica, loucamente, quando estamos entre lençóis. Você rouba todo o mundo quando me olha desse jeito e eu me arrisco dizer que caio para cima, no abismo que tua íris tem quando está sobre mim.

Lembro do abraço. Daquele abraço. Eu me espichando na ponta dos pés para não me sentir tão pequena, tão encaixada, tão despida. Lembro do encaixe, do teu rosto apoiado na minha cabeça, da respiração serena. Lembro do aperto que o abraço tem, que ecoa no peito quando o laço desmancha.

Eu lembro de você com detalhes demais. Tem cheiro, tem música, tem rua, tem toque. Tem olhar para longe, tem olhar para dentro. Tem rosto se escondendo, tem rosto de revelando, impossibilitado de se esconder. Tem eu e você. E mais um punhado de clichê…



LIVRO NOVO



Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui