O amor em primeira pessoa

Imagem de capa: Kichigin, Shutterstock

O amor é coisa séria, entenda isso. Além do que, olha só, poetas amam diferente, sabe? E não é que façam isso melhor do que os outros, nada a ver. É só uma questão de perspectiva. Poetas não amam fácil, também entenda isso. Porém, quando amam, amam muito.

Diante da simplicidade da alma do poeta é que as complexidades estacionam. Poeta fala com os olhos, quase nunca usa boca. Não para isso. Poetas amam pessoas mais do que qualquer outra definição que acompanhe o “ser” humano, independente do gênero, classe ou condição social.

Poetas amam pessoas de qualquer cor, idade, sexo e religião. Poetas amam com paixão, pois sem isso, olha que louco, eles não são. “E não ser” para um poeta é morrer devagarzinho, sozinho, abandonado no meio do nada.

Isso também não quer dizer solidão. Poetas lidam bem com a solidão, mas nunca com o vazio. Se não estiver cheio, lotado de sentimento e intensidade, eles também não são. E quando se sentem perdidos correm para dentro, mergulham fundo em busca do refúgio mais próximo.

Dizem que poetas são tristes, mas não são. Poetas lidam diferente com a decepção, mas não é que sejam tristes. Eles sentem muito, tanto que quase causam explosão. O fato é que poetas não aceitam não. Problema sério se pensarmos que sofrem demais da conta por conta do não que levam. Acontece que poetas entendem a dor não como tristeza apenas, mas como inspiração.

Em compensação, olha que lindo, poetas dizem sim para a paixão como as crianças para a imaginação. Poetas voam e quase sempre querem levar alguém para sobrevoar o mundo junto. Não é qualquer mundo, claro que não.

É o mundo das palavras que se juntam para tocar o peito. É o mundo do sujeito ser, ser amor, ser amante, ser seu e não de quem quiser. Poetas são difíceis, mas quando entram de vez, acredite, eles ficam. Poetas não ligam para o que você tem, não é disso que vive a rima. A poesia se faz do que é quase invisível aos olhos alheios. Só quem já amou um poeta entende isso.

Ah… para amar um poeta tem que ser paciente.

Poetas são difíceis, já disse isso? Não que sejam inabitáveis, nada disso. É que também não lidam bem com a insegurança. Poetas só fazem ninho em árvores de raízes fortes e alicerçadas em solo disposto. Ao menor sinal de abandono, se vão antes de você perceber sua falta.

Há de ser ter paciência, muita paciência para lidar com a sensibilidade exacerbada desses camaradas. Podem parecem esquisitos se percebidos de longe, mas são incomparavelmente amáveis por dentro.

Ah, jamais acredite na casca dura de um poeta, pois é puro fingimento. Poetas são duros apenas com eles mesmos, acredite. O maior inimigo de um poeta é a sua capacidade de sentir o que não deve. Nesse ponto, e é sempre melhor avisar antes, será bem mais interessante escolher um engenheiro.

Porém, e a gente sabe disso muito bem, o coração não escolhe quem se ocupará dele. Por isso, falando sem intenção de convencimento algum, ao primeiro sinal de paixão por um poeta, não tem jeito, se deixe levar pela rima. Eu sei, é difícil corresponder ao romantismo do poeta, mas é quase impossível não se encantar por ele.

E o poeta, não que todos sejam assim, mas o poeta de verdade não tem limite para amar, pois esse é o poema que melhor sabe fazer. Poetas parecem mais complicados do que são. A verdade é que fazem isso para chamar atenção, pois no fundo são muito mais simples do que a poesia que escrevem. Poetas amam como as crianças amam.

Pode ser até que lhes falte o juízo entre uma paixão e uma desilusão, mas não lhes faltará vontade para gostar de novo como se fosse a primeira vez. Entre tantas rimas, entregas, sorrisos e lágrimas, amar é o grande trunfo do poeta.

Para amar um poeta, além daquela dose extra de paciência, é preciso estar disposto para receber um amor romântico, banhado com flores na mesa da cozinha, cafés na cama todos os dias e uma dança despretensiosa no meio da sala após o jantar.

Poetas buscam uma asa para adormecer o espírito inquieto, um corpo para amar sem mistérios e um coração quentinho para guardar sua entrega, seu peito, sua admiração.

Amar um poeta é quase intuição.

É dar pouso alegre ao amor em primeiríssima pessoa.



LIVRO NOVO



Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui