Além de trabalhar, o que podemos fazer por 8 horas seguidas?

Imagem de capa: PhotoMediaGroup, Shutterstock

Não faz muito tempo que li um texto sobre o sistema de trabalho que existe na maioria dos lugares ao redor do mundo. Um sistema no qual trabalhamos 8 horas por dia ou mais, muitas vezes até aos fins de semana. Um sistema ainda rígido e inflexível em muitos sentidos, que não está preparado para coisas simples, como o home office.

O grande questionamento que me veio foi: o dia tem 24h. Dessas 24h passamos uma média de 8h dormindo e 8h trabalhando. Sobram, então, apenas mais 8h, sendo que perdemos por volta de 2h por dia no trânsito e mais umas 2h nos arrumando para ir ao trabalho e fazendo coisas básicas como tomar banho e jantar. Resumindo: quantas horas nos restam para fazermos coisas que queremos e nos proporcionam verdadeiro prazer? Acredito que entre 2 e 3 horas por dia no máximo. Isso quando não estamos exaustos e só conseguimos ficar parados em frente à televisão pensando que o dia seguinte já está para começar.

Posso dizer por mim mesma que muitas vezes chego do trabalho tão cansada que nem ler um livro consigo. Falta energia e tempo para fazer o que gosto quando chego em casa após 8h de trabalho e 2h ou mais no trânsito. Então, vem a pergunta: por que trabalhar é a única coisa que podemos fazer por 8h seguidas? Por que o sistema trabalhista ainda é tão atrasado que não enxerga que mais pode ser menos?

O texto que li trazia justamente essa questão: dessas 8h que estamos no escritório trabalhando, uma média de 2h são desperdiçadas com redes sociais ou papo entre os colegas de trabalho. O cérebro não aguenta a exaustão e as 8h de trabalho acabam rendendo apenas por volta de 6h.

Enquanto isso, em alguns lugares do mundo, como a Suécia, já estão sendo testadas cargas horárias mais leves de 6h por dia, sem diminuição salarial. Os resultados são positivos: empregados mais dispostos, produtivos e felizes. Isso simplesmente porque eles têm mais tempo para si próprios. Não precisam sair correndo do escritório para enfrentar o trânsito e chegar a tempo à aula da academia, além de se sentirem mais dispostos porque descansam mais e conseguem praticar atividades que gostam nas horas livres.

A notícia boa é que em países em que essa mentalidade ainda não evoluiu, temos uma geração de jovens que está lutando por mudanças – aos poucos, mas com grandes feitos. Já é possível ver diversos modelos empresariais, como startups, que apresentam uma flexibilidade muito maior, permitindo ao ser humano trabalhar e viver ao mesmo tempo. Essa revolução ainda é embrionária, mas já transforma a vida de muitos ao redor do mundo. Mesmo assim, não há como negar que grande parte da população ainda sofre com um dilema ultrapassado: ficar mais uma hora no escritório ou ir para a aula de yoga? Esse questionamento, na minha opinião, não deveria nem existir. É claro que você deve ir à aula de yoga descansar sua mente, e seu trabalho deveria permitir isso.

Termino esse texto com a frase que mais me impactou e me fez refletir sobre o que eu quero para mim nos próximos anos: trabalhar mais de 8h por dia ou voltar a ter o prazer de ler o meu livro preferido em plena quarta-feira à noite?

“Uma das coisas mais tristes é que a única coisa que um homem pode fazer oito horas por dia, dia após dia, é trabalhar. Não se pode comer oito horas por dia, nem beber oito horas por dia, nem fazer amor oito horas – tudo o que se pode fazer durante oito horas é trabalhar. É esse o motivo pelo qual o homem torna, a si e a todos os demais, infelizes e miseráveis.” – William Faulkner



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Bruna Cosenza é paulista e publicitária. Acredita que as palavras têm poder próprio e são capazes de transformar, inspirar e libertar. É autora do romance "Lola & Benjamin" e criadora do blog Para Preencher, no qual escreve sobre comportamento e relacionamentos do mundo contemporâneo.

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