Terminei gostando de você

Imagem de capa: pyrozhenka, Shutterstock

Terminei gostando de você, era isso que esperava ouvir? Eu digo e repito: terminei gostando de você. Pode me culpar pelo fim, gritar ao mundo que acabei com tudo e crucificar minha dignidade em praça pública.

Não vou rebater, juro pelo amor que ainda sinto. Não por achar que você está certo, mas pelo fato de compreender sua raiva. Deixo que coloque o peso todo nas minhas costas, pois seria muito duro ver você carregando a sua parte.
Porém, deixe-me dizer as últimas palavras antes de partir. Tudo bem se você não concordar, está no direito de defender o seu lado, mas respeite o meu, não por mim, mas por tudo o que vivemos juntos.

Terminei gostando de você. De você, no singular mesmo. Nosso plural não conjugava mais, viramos dois carros desgovernados prestes a cair no precipício. Alguém precisava desligar o motorzinho antes de despencarmos morro abaixo.

Sim, eu cortei o cordão umbilical de uma relação em combustão. Explosão boa é aquela que acontece dentro do quarto, sem queimar, sem causar bolhas, sem arder em carne viva. Sim, sei bem que nosso encontro foi o mais bonito e isso talvez não mude nunca.

Sobrou amor, mas faltou resiliência, paciência, confiança. Sabe, muitas histórias terminam assim, cheias de amor, mas escorrem por entre os dedos do egoísmo. Conversei com você tantas vezes sobre isso.

“Precisamos ser mais pacientes, mais ternos, menos explosivos”. “Você precisa aprender a confiar e eu preciso aprender a ouvir”. Você atropelou tudo com sua impulsividade descontrolada e eu me deixei levar pela teimosia afoita de quem acha que controla tudo.

Ninguém controla nada, amor. A gente mal consegue coordenar a gente mesmo, quem dirá guiar o outro. Casamento é caminhar junto, nunca carregar nas costas. Uma relação que dá certo tem pilares que seguram a tempestade depois de uma discussão acalorada.

Não segurei e me rendi ao medo do barulho do trovão. Você disse que na queda do nosso avião, sem pensar duas vezes, decidiria morrer comigo ao invés de saltar de paraquedas para salvar a sua pele.
Eu não, amor.

Eu preferi viver com você, ainda que isso tenha me custado o abraço quentinho, os pés juntinhos após aqueles dias cansados, sua cabeça no meu ombro, seu beijo, seus olhos castanhos que sempre chegaram tão fundo.

Talvez você não me perdoe nunca por não ter morrido com você. Talvez eu me arrependa disso em alguma primavera que me faça lembrar o seu cheiro. Talvez a gente se reencontre no próximo verão, na próxima estação ou na próxima vida.

Terminei gostando de você, mas estou aprendendo a gostar mais de mim.



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Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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