Embaraço

Imagem de capa: SunKids/shutterstock

O cabelo está embaraçado e o nó cisma em atrapalhar. Dói fininho quando alguém que a gente gosta vai embora. Machuca e incomoda como esse nó no meu cabelo que eu não consigo tirar. Dói no cabelo que já não fica o mesmo. Dói em mim que não consigo resolver o impasse. Permanece a dor de cabeça como brinde de um empate curioso dessa espera. É ruim quando a gente ama e se desespera porque o amor já não cabe mais na mesma caixa, no mesmo frasco. É estranho perceber que ele mudou de formato. Que o que antes se esparramava todo na imensidão bonita de seus laços, agora se desembrulha tímido pela fresta do desmaio. E é fato que já não é mais como era antes. Mas isso tem que ser pior? Se o que era antes acabou é porque não era tão bom assim. Ou assim eu gosto de tentar pensar. E me distraio com o cabelo que faz tempo que assim como esse amor já não é a mesma coisa a brilhar. Viço que tira férias. Brilho que desacostuma. E a vida passa a ser de repente uma festa de pontas duplas pra todos os lados. Quer colorir. Experimenta pôr de lado. Inventa um novo penteado, mas a estrutura do fio ainda é a mesma que teima em nascer de novo enrolado, enrolado, enrolado. Até fazer cacho. Ainda que suave. Só na ponta. Faz tempo que anda muito agressiva e tem certeza de que não é nenhuma progressiva que vai trazer resultado. Precisa é de tratamento. Banho de creme e de choque. Cuidar da raiz com cuidado. Benção de hidratação. Precisa é tentar proteger a alma desses efeitos nocivos de começo de verão.

Crônica do livro “As Maravilhas do País de Alice”, Scortecci Editora, São Paulo, 2008.



LIVRO NOVO



“Burila as palavras com a maestria de quem enxerga as veredas do ser como pontos de passagem, onde tudo é passível de transformação. Os sentimentos se entrelaçam, vão da risada escancarada à mágoa que mancha as horas com um encardido que não sai fácil. As palavras dela não saem fácil da gente, perpetuam-se nos recônditos espaços, proliferam sentidos e criam raízes fundas. A “Palavra” que estilhaça e esfuzia sentidos é a mesma que embala e cura a alma das mazelas cotidianas. Chega para sublinhar a sofisticação do simples, para propor o jogo poético das imagens que se entrelaçam desvelando tudo que vibra e faz vibrar. Fotógrafa, poeta, produtora artística e professora são algumas das nuances dessa carioca de alma furta-cor que vive suscitando diálogos entre os diversos campos artísticos e convocando à emoção, ao delírio ─ ao voo. Formada em História da Arte pela UERJ, Alice tem um livro publicado, “As Maravilhas do País de Alice”, pela Scortecci Editora, 2008”. Ester Chaves

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui