Não precisa dizer nada

Imagem de capa: Maksim Shirkov, Shutterstock

E aí, como você tá? Eu não queria perguntar nada, sequer queria pensar em você, mas me bateu uma puta vontade de saber como você tá. Ok, eu sei que você jurou que eu nunca mais saberia de você, que você seria só um fiapo de lembrança nesse passado, que tu sumirias de vez ou qualquer coisa desse tipo, mas é a quinquagésima vez que eu passo aqui debaixo do teu prédio em todo esse tempo e hoje me bateu essa vontade de saber de você… Então eu estacionei o carro naquela ruazinha ali do lado, porque agora não tem mais a minha vaga aqui na frente, e toquei o interfone do teu apartamento, temendo nem acertar o número, mas foi a tua voz quem me atendeu e eu me tremi inteira e até pensei em dar meia volta e deixar tudo pra lá, mas resolvi tacar o foda-se e então comecei a falar, falar, falar. Eu gosto de você e sonhei com você esses dias e, ao contrário do que você pode até pensar, não me arrependo de nada, sabe? Sério, tudo isso é porque, sei lá… não sei dizer, só sei que queria saber de você. Oi? Você está aí ainda? É, bom, tudo bem, não precisar dizer nada, eu escuto tua respiração e, bom, que bom então, que você não me deixou falando sozinha e desculpa, por favor, desculpa por tudo isso, por vir aqui e tocar teu interfone e destrambelhar a falar, mas já tem alguns dias que precisava saber de você. Tudo bem, você não precisa dizer nada agora, mas eu espero, por favor, por favor, por favor!, que algum dia tu me digas como vão as coisas, que tu me digas que sentiu minha falta, como amiga mesmo, e que pensavas em mim com frequência, que se lembrava dos detalhes, dos cafés da manhã, qualquer coisa. Que se lembrava de mim, é isso. Que bom que você está aí ainda e perdoa esse mundaréu de palavras atropeladas. Não, por favor, não desliga… Não já… Prometo que já estou indo embora e não vou mais lhe importunar, só me deixa concluir… Obrigada. De verdade. Eu quero que tu sejas feliz, muito! Quero alguém que te faça feliz, que te complete, alguém que não seja morno, que não se acomode… E, por favor, que um dia tu esqueças isso tudo, digo, que esqueças aquele dia que eu fui embora e me perdoe, que a gente volte a ser amigo, a trocar músicas, compartilhar devaneios de seriados, agregar filmes na minha lista tão pequena… Qualquer coisa, entende? Que a gente fique amigo. É, é isso. Que a gente fique amigo… Desculpa mais uma vez. Quando der me manda um alô, só pra contar que está tudo bem… Então, tudo bem, não precisa dizer nada. É. Não precisa. Fique bem, te quero bem. Tá? Tchau…



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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