Todo oceano já foi barquinho e todo barquinho ainda vai ser um oceano

Imagem de capa: samantha cheah, Shutterstock

Oceanos e barquinhos cruzam destinos o tempo todo. Barquinhos em busca de novas rotas ou na espera de completar o percurso. Oceanos imensos e profundos que observam rios, mares, bacias e os barquinhos.

Enquanto alguns barquinhos navegam apressados com medo de perder o tempo da chegada, outros andam devagar para aproveitar a viagem. Barquinhos se formam o tempo todo, possuem cores diferentes, personalidades distintas e uma coisa em comum: navegam procurando o sentido da vida.

Somos barquinhos que se encontram e se perdem na imensidão no oceano. Podemos nos cruzar lá no início de tudo ou podemos encontrarmo-nos somente ao final do caminho. Alguns barquinhos chegam no meio da viagem e seguem conosco em busca do porto que nos dará segurança. Alguns nem desfazem a mala e já partem para outra aventura.

Já vi barquinhos afundarem por medo da força do vento. Também conheci embarcações que enfrentaram as piores tempestades, mas saíram intactos e destemidos. Há barquinhos que não entram para briga e ao sinal de tempo ruim, logo se escondem em uma ilha qualquer.

Não importa como o barquinho decide cumprir sua passagem, desde que não desista de seguir em frente. Nem todos os marujos serão fortes o suficiente para compreenderem as angústias do infinito e de tudo que os trouxe até aqui.

Porém, outros muitos marujos inflarão o peito ao saber que dessa batalha, entre mortos e feridos, o que se leva de mais importante não é o tempo de chegada, mas de que forma se chegou ao destino.

Enquanto os barquinhos se cruzam e se perdem, o oceano segue firme e pleno diante do universo, que incrivelmente o envolve por completo. O oceano está pronto para nos receber, nos orientar, nos fazer capazes de continuar navegando.

Oceanos não são melhores do que barquinhos, nada disso, mas é que são mais sábios e já percorrem esse mesmo caminho um dia. Já tiveram medo, talvez ainda tenham, porém, sabem exatamente o que fazer com ele.

Esses grandes e performáticos gigantes, que constituem mais de 70% da superfície da Terra, também já foram pequeninos como riachos e rios, e corajosos que são, enfrentaram as maiores adversidades para alcançar a benção de ser um oceano.

Gosto da ideia de ainda ser um barquinho. Claro que quero virar oceano, quem não quer? Porém, sei que ainda preciso terminar esse percurso e mais alguns outros que compreendem meu mapa. Devagarzinho, enfrentando as tempestades e os tsunamis, revendo o destino tantas e tantas vezes, sei que vou chegar lá.

No meu tempo, na minha condição de aprendiz, no meu afetuoso jeito de carregar minha tripulação, é assim que vou navegando. Aprendi que se eu não souber para onde ir, não adianta apressar a viagem ou encurtar o caminho. Paro, descanso o barquinho e me aprumo quando estiver pronta de novo.

Sabe, acredito que estamos todos enfrentando os mares da vida, que podem ser doces e salgados, depende de como direcionamos nosso pensamento – que acaba sendo sempre a bandeira branca da embarcação, o único capaz de nos manter em paz.

Todo barquinho vai virar oceano um dia. Ah, talvez nem todos, mas somente aqueles que acreditarem na fortaleza do seu casco e na grandeza do seu marujo.



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Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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