O legado

Imagem de capa: Kiselev Andrey Valerevich, Shutterstock

Todos os traços tão marcados em seu rosto revelam o que eu já sei de cor e salteado: ela nunca fugiu da vida.

Pouco estudou e muito trabalhou. Parece até que nasceu assim, trabalhando.

E isso ela ainda o faz, numa cisma relutante contra os limites do tempo.

Ela é de uma força turrona. De quem não teve tempo para aprender o que é medo ou desejo.

Ela exagera. Ela ama.

Assim, com ponto final mesmo.

Da vida me ensinou que essa soberana senhora da razão é injusta por vezes.

E ainda assim não se pode perder a fé, mesmo diante do inconcebível.

Fé. Às vezes, ela me faz pensar que quanto mais se tem, mais provações há de se passar.

E ela passa, uma por uma, com a sua fé ou loucura inabalável, já nem sei mais dizer o que é.

Solitária. Mesmo vindo de onde outros 23 vieram.

Em uma luta que parece ser só dela.

E, ainda assim é doação, entrega e devoção.

Simplesmente segue dona de si.

De pudor quase pueril.

De olhos esverdeados, marejados na esperança.

De dores cravadas, na alma e no corpo.

De mãos de fada, com calos e veias saltadas.

De simplicidade abundante, esculpida na alma caipira e desconfiada.

E de cortes rasgados e nem sempre cicatrizados.

Ela segue guiada por sua fé, que eu sinceramente não sei de onde vem.

Eu acredito por nela acreditar.

Se ela não é coragem e suor, eu não sei o que ela é.



LIVRO NOVO



Aquela entre as palavras que escondo e revelo quase sem querer.

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