Aceite-se como ser falho e imperfeito que é e trate de evoluir.

Imagem de capa: Ditty_about_summer, Shutterstock

Eu aprendi há muitos anos atrás com um amigo que o meu verbo favorito era o verbo “devir”. Na verdade, era o verbo favorito dele, entretanto, com paixão e fervor, ele discursou sobre o significado imponente deste verbo desconhecido e eu o adotei como sendo criado para mim. Devir é um conceito filosófico que engloba o “tornar-se” e o processo de vir a ser; todo o caminho pelo qual devemos passar para nos tornarmos algo. A coisa mais importante não é quem nos tornamos, mas tudo que nos ocorreu para que chegássemos ao resultado final, pois foi este processo que nos fez ser quem somos. Antes de aprender a resiliência, todos deveriam aprender a deviniência.

Eu sustento que todas as pessoas cometem os 7 pecados capitais. Especialmente, porque ninguém, NINGUÉM, é perfeito e livre de pecar. Enquanto humanos, somos todos pecadores e falhos; somos imperfeitos, não apenas do ponto de vista religioso, mas do ponto de vista de nosso desenvolvimento pessoal. É hipócrita aquele que diz não cometer algum dos 7 pecados capitais. E, se tem uma coisa que me incomoda profundamente é ouvir o discurso: “eu não tenho inveja de ninguém, minha vida me basta.”. Veja bem, diferentão, seja em maior ou menor monta, em grande ou em pequena quantidade, todos cometemos um destes pecados, ao menos uma única vez na vida: ira, gula, avareza, preguiça, inveja, luxúria e soberba (vaidade/orgulho). Quando você olha para a vida de alguém bem sucedido em alguma área da vida (afetiva, profissional, social etc) e questiona a Deus os motivos pelos quais o fulano tem isso e você não, isso é inveja. Ainda que você não deseje para si aquela mesma vida, aquelas mesmas coisas, o fato de você questionar é inveja. Da mesma forma, ocorre com os demais pecados, então, paremos de ser metidos a besta e a perfeitinhos. Vamos tratar de engolir nossas hipocrisias e aceitar o quão imperfeitos somos. ACEITAR e reconhecer nossos defeitos são os primeiros passos em busca de aperfeiçoamento e evolução pessoal. Eu aplaudo de pé quando ouço alguém falar: “Ah, eu sou preguiçoso mesmo. Odeio trabalhar!” ou “Eu não sei comer pouco. Não consigo. Como até sentir o estômago doer.”. Sabe por que aplaudo? O reconhecimento é o princípio da mudança e aquele que se reconhece imperfeito já está passos adiante daquele que ainda está iludido que é o perfeitinho. Sejamos humildes e nos aceitemos como seres em deviniência e evolução. Isso está longe de ser uma questão religiosa, é, antes de qualquer coisa, uma questão de evolução da psique humana.

Sabemos que estamos nesta vida para evoluir como seres, afinal, se fosse para ficar como nascemos, não haveria sentido algum em nada do que construímos ou vivemos; as dores e alegrias seriam todas em vão. Aceitar-se como um ser imperfeito e cheio de falhas é acima de qualquer coisa uma declaração de que se quer evoluir e ser alguém melhor. Por outro lado, estufar o peito para pregar que não comete um ou outro pecado, simplesmente, nada mais é que a tal soberba, apontada acima.

Aceitar que somos falhos não é vergonhoso. Vergonhoso é viver toda uma vida, anos e anos, escondido atrás de uma mentira, cuidadosamente elaborada, de que era um exemplar raro de humano dotado de um caráter tão especial que o pecado jamais poderia ser cometido por você. Isto é sinal de fraqueza. Apenas pessoas fortes podem confrontar o próprio eu e aceitar as suas mazelas. Mais fortes ainda são aqueles que se propõem a melhorar, a mudar, porque a mudança é dolorida. Não existe mudança de um ser sem dor. Talvez por isso seja mais seguro se fingir como alguém pronto e perfeito. Assim evita-se a dor, não é mesmo?!

Aos corajosos, eu digo que se aceitem como falhos e imperfeitos. Esquadrinhem o seu eu, descubram quais são seus defeitos e se exponham à mudança. Deixem-se do lado avesso sim! Mudar dói, mas nos faz mais fortes. Mudar não é para os fracos. Mudar é para quem tem força de vontade para viver, é para quem não está aqui a passeio, é para quem quer fazer a diferença com a própria vida. Se você é essa pessoa, encare este desafio e trate de evoluir! Ao final da jornada, quem mais ganhará com este dolorido processo de deviniência será você.



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Rândyna da Cunha nasceu em Brasília, Distrito Federal, em 1983. Graduada em Letras e Direito, trabalha como empregada pública e professora. Tem contos publicados em diversas revistas literárias brasileiras, como Philos, Avessa e Subversa. Foi selecionada no IX Concurso Literário de Presidente Prudente. Participou da antologia Folclore Nacional: Contos Regionalistas da Editora Illuminare e das coletâneas literárias Vendetta e Tratado Oculto do Horror, da Andross Editora- http://lattes.cnpq.br/7664662820933367

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