Para você que enxerga o amor nas prateleiras de supermercado

“Quem sabe um dia, por descuido ou poesia, você goste de ficar.” (Chico Buarque)

O amor não está à venda, mas o desejo está. Para alguns, a vontade de ter alguém é motivo suficiente para uma mudança no status de relacionamento. Trata-se de quando não é capaz de manter a própria solidão e precisa dividi-la com o outro. Mas a sensação momentânea do carinho passa e, com ela, surge uma nova necessidade. É quase um vício, mas longe de ser amor. Relacionamentos volúveis conduzidos por abstinência. Há quem jure de pé junto estar amando naquele momento. Que a vida sorriu e trouxe a sorte para o encontro. Semanas depois, a partida. Culpa o adeus sob a justificativa do amor ter trapaceado. Foi injusto. Não merecia.

O amor não está à venda, mas o ego está. Para outros, o querer alguém é tanto que nubla os próprios sentidos. Quando imerso numa relação, resolve que o amor só é amor quando os seus pressupostos são atendidos e o seu ego alvo de carícias. Mas nem sempre a sua vontade é lei e, com ela, surge o desrespeito. É mais um vício. Este, bem mais longe de ser amor. Relacionamentos nocivos compostos por desigualdades. Há quem jure de pé junto estar querendo o bem do amor. Porque quem ama quer o bem e não faz nada menos que o certo para esse amar. Meses depois, a partida. Culpa o adeus sob a justificativa do amor ter trapaceado. Era tudo mentira. Não merecia.

O amor não está à venda, mas a cumplicidade está. Para poucos, o amor nunca foi motivo, mas escolha. Não existe dúvida, quando, dividindo afeto com alguém, a única preocupação é sobre estar entregue, aberto e transparente. Mas nem sempre o amor deparado faz poesia. Algumas vezes, em linhas tortas, o medo acena para o fim. Há quem jure de pé junto não temer. Afinal, o amar fez morada e não pretende procurar um novo lar. Anos depois, a partida. Culpa o tempo sob a justificativa do amor ter trapaceado. Ingratidão. Não merecia.

O amor não está à venda. Não imagino o amar como um produto cuidadosamente embalado e exposto em diversos tamanhos e formas. Tampouco me interessa a busca a todo custo da sua sensação. Procuro o sorriso nos pensamentos, a coreografia ideal nas falas e um senso de equilíbrio nos gestos. Se, a partir disso, nascer algo parecido com o amor, seja bem vindo. Nem preciso jurar de pé junto. Passados alguns minutos, o silêncio. O amor é de graça. Eu mereço.



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