Meu status de solteira não é referência de solidão ou desespero.

Imagem Viktor Gladkov, Shutterstock

Quantas vezes eu acreditei no amor, quantas vezes eu achei que iria dar certo e, no final, era apenas mais uma decepção. Meu status de solteira não é carta branca para me envolver com qualquer história, com qualquer pessoa. Meu status não é referência de solidão ou desespero.

Quantas vezes ouvi o discurso cansado de quem acha que sou infeliz só porque estou solteira. Tentaram, inúmeras vezes, “arrumar” alguém pra mim, passando o meu telefone como quem está dando “uma ajudinha”, sem eu ao menos ter solicitado, ou de fato precisar de auxílio para essas coisas do coração. E lá estava eu iniciando uma conversa com alguém que não demonstrava interesse algum em de fato me conhecer, que aparecia com falas prontas e que não sabia desenrolar uma conversa.

O fato de curtir a foto de alguém já é motivo para piadas, brincadeiras, como se isso fosse um sinal de que estou interessada. Eu, de fato, não entendo e talvez jamais consiga entender a lógica de quem acredita que um relacionamento é sinônimo de felicidade. Em primeiro lugar, partilho da ideia de que ninguém completa ninguém. Ninguém pode jogar a responsabilidade de ser feliz nas mãos de outro alguém, pois isso é pedir para se frustrar, é deixar o outro assumir as rédeas da sua vida e se submeter a qualquer coisa, muitas vezes.

Primeiro, seja feliz. Isso, goste de você, do seu cabelo, do seu jeito e, ao trombar com alguém, partilhe isso. Que o encontro seja algo que transborde e não que complete.

Eu estou solteira, sim, porque, ultimamente, tenho esbarrado tanto no desinteresse e nas desculpas, que não tem como me envolver. Eu não quero um amor meia boca. Cansei de gente que só pensa no corpo, no sexo, no beijo, no físico. Cansei de gente que não se envolve, não se entrega, não assume. É difícil quando você acredita no amor e nas coisas bonitas e sinceras quando alguém, na verdade, não vê nada além de um rosto bonito. Não vê a sua coragem, a sua força, não vê os seus medos bobos e nem se importa quando você não está bem.

Cansei de gente que vê uma boca bonita, um cabelo arrumado, mas não vê o meu companheirismo e o quanto sou disposta quando o assunto é ajudar alguém. De gente que está do nosso lado fisicamente, mas, quando a tempestade vem, é o primeiro a soltar a nossa mão. Eu cansei de quem não vê a minha fé bonita na vida e no amor e que não percebe o quanto dou valor às pessoas e não às coisas.

Quanta gente acompanhada e, mesmo assim, anda sentindo-se tão só; quanta gente sentindo-se invisível, mesmo rodeada de pessoas, e ainda escuto o discurso de que quem está solteira, está carente e que, necessariamente, precisa de alguém para ser feliz? Que eu faço academia porque quero que alguém repare nas minhas curvas e goste delas? Quantas falas clichês que anulam as nossas histórias e escolhas e nos colocam no patamar de coração de pedra.

Eu faço todas essas coisas por mim; meu sorriso é resultado das minhas conquistas, pois, depois de tantas lutas diárias, eu esboço um riso cansado, como quem acredita que valeram a pena todos os esforços. Cuido do meu corpo, da minha saúde e, principalmente, da minha vida. Eu quero alguém que repare na curva do meu sorriso, que entenda as minhas vírgulas como pausa, como cautela, enquanto muitos entendem como ponto final e decidem partir porque acreditam que investir em alguém é perder tempo.



LIVRO NOVO



Estudante de psicologia, apaixonada por artes, música e poesia. Não dispensa um sorvete e adora um pastel de feira com muito requeijão, mesmo sendo intolerante a lactose. Tem pavor de borboletas, principalmente as no estômago.

7 COMENTÁRIOS

  1. O texto é bom, mas há um detalhe que ele não revela.

    “A autora pode não sofrer de solidão (solidão é um estado ‘momentâneo’ apenas e não algo ‘permanente’). Tudo bem quanto à isso. Ela realmente não deve sofrer de solidão (na maior parte de seu tempo).

    Mas há um sofrimento sutil (escondido). E este é inevitável.

    Estamos TODOS sofrendo. Não há uma pessoa que não esteja sofrendo aqui nesta existência. Não estou dizendo ‘um sofrimento realmente que tira lágrimas dos olhos’, mas um muito disfarçado, sutil, que a cada dia se apresenta, se estabelece e que percebemos gradualmente quando vemos ‘símbolos de nossa busca’ no mundo exterior. Sim, os símbolos que surgem e que nos faz lembrar de nossa ‘vocação’, nosso sentido de estarmos ‘acreditando em algo’.

    Do que estou falando? (e que o texto não revela; talvez revele, mas não tão claramente – posso estar sendo injusto)

    Mas estou falando que a cada ‘momento, parte do dia, dia, mês, ano, alguns anos, vários anos, muitos anos, uma parte da vida, uma parte significativa da vida, a vida toda’ que vivemos sem NOS ENCONTRAR com uma pessoa cuja AFINIDADE se estabeleça e se revele para nós (e vice-versa), são dias em que ainda não estamos completos (ou pelo menos, não nos sentimos assim; senão, nem pensaríamos mais à respeito; e não é verdade, nós ainda pensamos, ainda acreditamos, ainda observamos as pessoas em busca disto | que tanto queremos | mas não conseguimos).

    Muitas pessoas trocam uma companhia afetiva por mascotes, um bom passeio com amigos, uma boa conversa com pessoas inteligentes e sábias, etc. mas, é uma ILUSÃO acreditar que isto só aconteceria se ela estivesse ‘só’. Na verdade, há casais tão bem unidos, em tamanha fluidez que, ambos estão caminhando juntos nesta existência… e fazendo tudo o que querem juntos. Ainda não vivenciamos o real significado de UNIÃO e, a falta desta percepção nos torna ainda ‘escravos’ de uma visão enfraquecida de relação afetiva (onde há uma infinidade de regras que chamaria de cruéis; todas para achatar e enquadrar o significado de relação afetiva – exemplo: ‘cada um precisa ter sua individualidade, ambos devem fazer assim, assado, etc. é assim que um casal bom deve ser | é claro que quando a relação entra neste ‘script’ o significado VAZA pelas rachaduras |deste tão precário modo de se relacionar).

    Os níveis ‘puramente’ para trocas de prazeres sensoriais está se tornando o FOCO das relações e, INFELIZMENTE, os níveis de experiência MAIS ALTOS e SIGNIFICATIVOS estão se tornando RARO. Porquê?

    Porque as pessoas estão deixando de VER A SI PRÓPRIAS e, ao não se enxergarem, se tornam CEGAS aos demais. Tentam enxergar somente uma vida solteira satisfatória mas, não percebem que estão desperdiçando tempo. Tempo de vida que poderiam estar se desenvolvendo junto à outra pessoa, cujas metas podem até ser 100% COMPATÍVEIS (mas ela está tão enfeitiçada com suas ideias e valores norteadores que ela não percebe logo, O IMPLACÁVEL TEMPO irá consumir até mesmo estes tão belos valores de ‘solidão sem sofrimento’).

    Não acho que seja falta de oportunidade, EXISTEM MUITAS PESSOAS POR AÍ (que infelizmente estão CEGAS e DESNORTEADAS, mas são pessoas vivas, jovens, cheias de bons desejos e sonhos, mas devido à escassez de sabedoria, SOFREM em suas tentativas e sofrem em dobro quando desistem de tentar)… ISSO é apenas um SINAL DOS TEMPOS.

    Antigamente, as pessoas eram preparadas para se encontrar com uma companhia, e isso acontecia da forma mais funcional possível: existia a formação de seus valores primordiais, dentre eles, os que fazem ‘QUALQUER RELAÇÃO DAR CERTO’ = sinceridade, caráter, palavra, princípios, etc.

    Hoje, nem mesmo o ROMANCE MAIS PERFEITO daria certo porque não há “sinceridade, caráter, palavra, princípios, etc.”

    Então, VAMOS (pelo menos desta vez) NÃO SER HIPÓCRITAS. Os melhores relacionamentos não existem porque estamos IMATUROS para VIVENCIÁ-LOS.

    E é um pouco hipócrita afirmar-se feliz sem um amor e ao mesmo tempo sonhar com ele. É o que percebo nas palavras da autora. Não é uma hipocrisia real. Discordo deste nível de fala. Mas é uma Hipocrisia para consigo mesmo/a. Estamos mentindo para nós ao afirmar que estamos bem sozinhos. E, sobretudo, estamos sendo um pouco hipócritas ao defender BONS pensamentos mas não nos aprofundarmos nos VALORES que edificam uma relação afetiva. Senti muita falta disto no texto. Para tal, ainda que não aceitemos, deveríamos tentar conversar com nossos avós sobre o casamento de 50 anos deles. E perguntar-lhes porque é que deu certo.

    Iremos nos assustar com alguns relatos… alguns casamentos onde realmente houve AMOR, RESPEITO, VIRTUDES, etc. E diante destes bons casamentos, vamos perceber que FOI EXATAMENTE ONDE HAVIAM VALORES EDIFICANTES QUE OS CASAMENTOS TROUXERAM MAIS FELICIDADE.

    Hoje, fico TRISTE ao ler este texto (porque também cometo a auto-hipocrisia). Sinto que estamos envelhecendo solteiros (sem sentir ainda a solidão); mas logo vamos senti-la (a SOLIDÃO) de forma muito PESADA, e pior, sem termos encontrado o PAR com quem compartilhar sonhos, momentos, destinos, felicidade, etc.

    PRECISAMOS AMADURECER. Somente pessoas maduras desfrutam de uma vida RICA.”

    O texto é ótimo… mas eu gostaria de complementar com estas informações.

    • Dois belos textos, mas creio que o texto sobre ser solteira se define há vários tipos de situações, como por exemplo quem só teve desilusões, quem muito sofreu com relações, quem se doou mais do que deveria, quem demonstrou sentimento e o outro não soube valorizar, enfim, acarreta diversos momentos em que a pessoa passa, vive! Claro que ter alguém ao lado é ótimo, mas está tudo muito perdido, os valores estão invertidos, as pessoas (não todas, mas grande maioria) estão se vendendo ou estão comprando outras, está tudo errado e isso nos dá escudos para se defender, se fechar, pq o que queremos é apenas reciprocidade de sentimentos, de companheirismo, de afeto, carinho, amor e como diz no final do texto: …decidem partir porque acreditam que investir em alguém é perder tempo!

  2. Dois belos textos, mas creio que o texto sobre ser solteira se define há vários tipos de situações, como por exemplo quem só teve desilusões, quem muito sofreu com relações, quem se doou mais do que deveria, quem demonstrou sentimento e o outro não soube valorizar, enfim, acarreta diversos momentos em que a pessoa passa, vive! Claro que ter alguém ao lado é ótimo, mas está tudo muito perdido, os valores estão invertidos, as pessoas (não todas, mas grande maioria) estão se vendendo ou estão comprando outras, está tudo errado e isso nos dá escudos para se defender, se fechar, pq o que queremos é apenas reciprocidade de sentimentos, de companheirismo, de afeto, carinho, amor e como diz no final do texto: …decidem partir porque acreditam que investir em alguém é perder tempo!

  3. Realmente, os dois textos estão muito bem colocados. A vida perdeu o sentido real, as pessoas nao se amam mais. Está muito complicado se envolver, as pessoas estão trocando amor verdadeiro por pequenos momentos de prazer. Estão rejeitando amar e serem amados. Quando se engata uma relação a primeira preocupação é a performance sexual do parceiro, é o status social. As decepções estão alarmantes. Mas, ainda resta esperança, do verbo esperançar..”tudo ainda pode acontecer, inclusive nada.”

  4. A esperança só se esgota quando a mente e o coração param de acreditar! Acredite sempre e se espelhe em você mesmo. Você, sabe amar? Sabe respeitar? Sabe enxergar as entrelinhas das emoções humanas e ter a sensibilidade de ser construtivo, independente das circunstâncias?
    Olhe para si mesmo, se encontrar um ser humano de valor, pode ter certeza que terão outros como ti! Eu creio no AMOR, na simplicidade de um toque, um beijo na testa, de um olhar repleto de pureza, isso não está extinto!
    Busquemos sempre dar o nosso melhor, e nunca se deslumbrar com as aparências, aprendamos a ser seletivos e jamais agirmos como mendigos emocionais, a qualquer sinão de afeição arreganhamos nosso íntimo (sofrimento certo), busquemos quem nos valoriza, quem nos enxerga pela pureza talhada em nosso ser pelo criador do AMOR, JESUS CRISTO!!!
    Deus nunca dá joia rara para quem é bijuteria!!!

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