Revelando os “donos por natureza”

Existem pessoas que são mestres em possuir. Não é nada óbvio ou que venha carimbado na testa, é uma característica bem escondidinha, na verdade, maquiavelicamente mascarada por trás de uma personalidade cativante e afável. Contudo, não se engane com a amabilidade da máscara, pois eis que embaixo dela surge o “dono por natureza”.

Sem perceber, até mesmo os mais geniosos e irascíveis indivíduos, de personalidade autêntica e autônoma, caem na armadilha silenciosa de pertencer aos “donos por natureza”.

Os “donos por natureza” são pessoas que não aceitam que não podem possuir outras pessoas, mas que não abrem espaço para serem possuídas, em hipótese alguma. São bem representadas por aquele ex, que já namora firme há algum tempo e virou a página, mas que te liga, a qualquer hora do dia, sem se importar se você está acompanhada, se está trabalhando, se está em um encontro, se está namorando, se está fazendo sexo, se está dormindo ou se, simplesmente, não está a fim de atender ninguém. Ele liga uma vez, você não atende. Ele liga de novo, você não atende. Ele te manda WhatsApp, você não responde. Ele manda várias e várias vezes no WhatsApp: “Psiu”, “Oi”, “Kd vc?”… E você, ainda assim não responde. Então, ele liga pelo WhatsApp.

E liga e liga e liga. Envia SMS, liga pelo Messenger do Facebook. Ele só para quando você atende ou quando ele encontra algo mais divertido para fazer. Quando você, finalmente, atende, descobre que ele não quer nada, apenas conversar trivialidades. Simples e inocente. Não! Alerta de lobo em pele de cordeiro. Ele quer sim uma coisa: dominar. Manter o domínio sobre você, a posse. E ele faz isso porque você deu a ele o direito. Não é bonitinho seu ex fazer isso, nem meigo. É doentio! É uma forma de controle, de manter você intacta para ele.

Mas, veja bem, se você fizer o mesmo com ele, lembra que ele já virou a página e tem namorada? Então, ela vai flagrar por um acaso a única chamada que você fizer para ele, ela vai te ligar e ele vai deixar. Ela vai dizer um monte de desaforos e você vai passar pela ex recalcada e pegajosa. Ou na melhor das hipóteses, ela não vai te ligar, mas ele vai te pedir para você não ligar mais porque a fulana é muito insegura, “você entende, né?!”.

Outro exemplo desse tipo de pessoa é aquela amiga que sempre some quando tem paquera novo, não responde nem seus WhatsApps. Mas, quando o cara some, ela vem, como se sempre estivesse estado ali, com a cara mais deslavada do mundo e uma infinidade de propostas de programas para preencher a agenda, monopolizando sua companhia e reclamando se você já tiver outros compromissos: “Ah, agora você só quer saber da fulana…”. Se ela aparece em um dia em que você não está muito disposta, seja cólica, TPM, estresse ou apenas chatice mesmo e você prefere não sair com ela, ela diz: “sem problema, eu vou até a sua casa.”. E, antes que você diga que já está de pijama, embaixo da coberta, ela desligou o telefone e está a caminho.

Os “donos por natureza” não conhecem a limitação do espaço pessoal do próximo, não aceitam a necessidade que o outro tem de descansar um pouco do mundo. A única coisa que estes indivíduos conhecem é como suprir suas próprias necessidades. E o grande problema é que as pessoas que ficam do lado possuído da relação pagam um preço muito alto. Tornam-se muletas e reboques habituais, ficam sempre guardados na reserva de outro alguém e deixam de viver a própria vida, porque de certo modo, esse tipo de relação doentia cria uma expectativa surreal de que há um futuro bem-sucedido ali.

Não aceite pertencer a ninguém, além de você mesma. Não seja bengala de ninguém. Não se submeta aos telefonemas invasivos e desregrados daquele ex que já está em outra; não admita ser o step da amiga carente, que só se lembra de amizade, quando o amor não deu certo e avalie em que outras áreas da sua vida os “donos por natureza” têm agido. Não há maior liberdade que pertencer a si mesmo!



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Rândyna da Cunha nasceu em Brasília, Distrito Federal, em 1983. Graduada em Letras e Direito, trabalha como empregada pública e professora. Tem contos publicados em diversas revistas literárias brasileiras, como Philos, Avessa e Subversa. Foi selecionada no IX Concurso Literário de Presidente Prudente. Participou da antologia Folclore Nacional: Contos Regionalistas da Editora Illuminare e das coletâneas literárias Vendetta e Tratado Oculto do Horror, da Andross Editora- http://lattes.cnpq.br/7664662820933367

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