Melancolia consentida

Hoje eu acordei meio triste, meio melancólica, meio sem vida. Foi difícil levantar da cama, cumprir meu ritual matutino e erguer a cabeça para encarar o sol que brilhava lá fora, atrevido e todo exibido.

Fica feio admitir que deixei a preguiça tomar conta de mim? Não encontrei energia suficiente para manter a cabeça focada no banho, em retirar o carro da garagem ou até mesmo para prestar atenção na reunião importante do dia. Hoje não foi um dia como os outros. Hoje não foi um dia qualquer.

Eu sei que se a gente se esbarrar por aí e você me ver assim, vai tentar me animar. Vai me dizer para ficar feliz, fazer coisas que eu gosto e até mesmo vai me mandar procurar um médico para conseguir um antidepressivozinho para dar um empurrão. E se nada disso adiantar, você vai apelar dizendo que não é justo eu ficar assim. Tem pessoas sofrendo coisas muito mais graves, que eu devia mesmo é ser agradecida pela vida que eu tenho. E se mesmo assim nada adiantar você vai se afastar e pensar o quanto você preferia a minha velha versão.

E eu sei que você vai dizer e pensar todas essas coisas porque você gosta de mim e quer ver o meu bem. Mas eu posso pedir só uma coisa? Aceita minha melancolia de hoje. Eu não sou de ferro e tem dias que não quero sorrir pro mundo. Só quero ficar quieta e deixar passar o sentimento.

Não. Eu não vou reter o sofrimento comigo. Eu não vou sorrir só hoje. Pode ser que eu chore sem motivo. Mas isso não é motivo para alarde. Estar triste não é estar deprimido. Vamos combinar? Ficar triste é normal e eu estou aqui reivindicando o direito de ficar triste na mesma proporção que eu fico feliz.

Na mesma medida que amo dar gargalhadas, também gosto da solidão e de refletir sobre meus caminhos. Me canso da rotina, me canso do mesmo e fico frágil também. Quem não fica? O problema é que parece feio sofrer. Bonito mesmo é sair todo dia para o barzinho, viajar muito, namorar e sorrir o tempo todo. Legal é encher o Facebook e Instagram de fotos e viver la vida loca.

São feitos tantos esforços para disfarçar a tristeza, afugentar ou dominá-la. Poxa, a tristeza só que ter o direito de existir e ser sentida. Não estou falando de depressão, que é doença seria e precisa de tratamento. Estou falando é da melancolia consentida que deve ser sentida e vivida.

Óbvio que é melhor ser feliz do que triste. Mas é que tem dias que não quero brindar a vida, não quero o barulho dos amigos e nem mesmo quero ouvir a minha voz em uma conversa longa. Só quero que me deixem quieta, só quero recuperar a energia para daqui a pouco retornar e anunciar a volta da felicidade.



LIVRO NOVO



Nanda Andrade não se desgruda dos livros. É extremamente apaixonada pela escrita, pela vida e pelo marido. Queria ter muitas vidas ao mesmo tempo para experimentar o máximo que pudesse de todas as possibilidades. No fim das contas seu coração egoísta quer guardar o mundo dentro de si.

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