Com o tempo, aprendi a evitar as discussões que não têm sentido

Por Valéria Amado

Talvez seja a maturidade, os anos, ou mesmo a resignação, mas sempre chega a hora em que percebemos que há discussões que já não valem a pena. É então que preferimos optar por esse silêncio que cala e sorri, mas que nunca outorga, esse que compreende, por fim, que de nada serve dar explicações a quem não deseja entender.

Agora, apesar de com frequência ouvirmos que discutir é uma arte onde todos têm a palavra, mas muito poucos o juízo, este é um problema que vai mais além. Às vezes, as discussões são como uma partitura de música que está desafinada, onde nem sempre se escuta e onde todos desejam ter a razão ou a voz principal. Às vezes é uma prática muito desgastante.

Existem discussões que antes de começar já são batalhas perdidas. Talvez sejam os anos ou simplesmente o cansaço, mas há coisas das quais eu já não tenho mais vontade de falar…

Aspectos da psicologia e da filosofia nos ensinaram por muito tempo certas estratégias para sair com leveza de qualquer discussão. Bons argumentos, o uso de métodos heurísticos (métodos para aumentar o conhecimento) ou uma boa gestão emocional seriam sem dúvida alguns exemplos disto, mas… E se o que procuramos é não começar certas discussões que já damos por perdidas desde o início?

Discussões e discursos que já não têm importância para nós

A maturidade não depende de idade, mas sim de alcançar uma etapa pessoal onde já não desejamos enganar a nós mesmos, onde lutamos por um equilíbrio interior, onde queremos cuidar das nossas palavras, respeitar o que ouvimos e meditar cada aspecto que optamos por calar. É então que somos conscientes de quais aspectos merecem o esforço e quais merecem distância.

É possível, por exemplo, que a relação com um familiar próximo fosse complexa alguns anos atrás, a ponto de que manter uma simples conversa era como cair de paraquedas no abismo da tensão, das discussões e dos maus-tratos. Agora, contudo, isso tudo mudou, e não porque a nossa relação tenha melhorado, mas sim porque existe a aceitação das nossas diferenças. Optamos por um silêncio que não outorga, nem se deixa vencer, mas que se respeita.

Eran Halperin é um psicólogo israelense especialista em discussões e resolução de conflitos no âmbito político, cujas teorias podem perfeitamente ser aplicadas no âmbito cotidiano. Segundo ele mesmo explica, as discussões mais complexas e fervorosas têm a “ameaça” como um fator psicológico, a sensação de que alguém pretende vulnerar nossos princípios ou essência.

Amadurecer também é dispor de certa confiança interior para considerar que determinadas pessoas e seus argumentos já não são uma ameaça para nós. Quem antes nos tirava do sério com suas palavras, agora já não provoca medo nem ofensa. O respeito, a aceitação do outro e essa autoestima que nos protege são nossos melhores aliados.

A arte de discutir com inteligência

Já sabemos que existem discussões pelas quais não pretendemos perder a calma, nem a energia. Contudo, também entendemos que a vida é uma constante negociação para poder viver em harmonia, para manter um relacionamento amoroso, para alcançar os objetivos no trabalho, e inclusive, por que não, chegar a acordos com nossos próprios filhos. As discussões não estão, portanto, isentas em nenhum desses âmbitos.

Aprender a escutar é natural, mas saber ouvir é fundamental.

A arte de discutir de forma inteligente e sem efeitos colaterais requer não apenas uma estratégia habilidosa, mas também uma certa gestão emocional que todos deveríamos saber aplicar em nosso próprio entorno mais próximo. Convidamos você a considerar estas simples dicas.

Um dos primeiros aspectos a considerar é que as discussões não necessariamente terminam com um ganhador; a arte de discutir com eficácia requer a sutil sabedoria de permitir que ambas as partes cheguem a um ponto em comum, a algum entendimento. Uma coisa assim só pode ser alcançada da seguinte forma:

Ouvir não é a mesma coisa que escutar. Nenhum diálogo será eficaz se não formos capazes de aplicar uma certa “escuta” empática.

A poderosa habilidade de entender a perspectiva da outra pessoa. É uma coisa que requer um grande esforço e certa vontade, mas compreender a mensagem e a visão peculiar de quem está à nossa frente é fundamental.

É preciso evitar colocar-se na defensiva. Aqui novamente entra a ideia proposta por Eran Halperin: no momento em que nos sentimos ameaçados a discussão se torna agressiva e aparecem as muralhas pessoais de cada um. Assim, o entendimento nunca poderá ser alcançado.

Autocontrole. É imprescindível realizar uma certa gestão das nossas próprias emoções. É preciso, acima de tudo, controlar inimigos como a ira ou a raiva. São bombas-relógio que gostam de estar presentes em muitas discussões.

Confiança. É importante confiar que no fim iremos chegar a um entendimento. Para isso, é preciso colocar força de vontade, ser próximo e respeitoso, e fazer uso de expressões como “entendo seu ponto”, “sei que isso é verdade”, “é possível”… Tudo isso são portas em direção ao entendimento, pequenos e delicados portais em direção a esse encontro onde todos poderemos sair ganhando.

Porque as discussões que valem a pena são aquelas que nos permitem chegar a acordos para viver em equilíbrio e felicidade.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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