A fila  (baseado em fatos reais.)

O mundo pode muito bem ser dividido entre pessoas de direita, de esquerda, que sobem degraus de 2 em 2 ou a todo um resto de uma miríade de dicotomias. Mas existe um único lugar onde reina a paz mundial, onde há consenso sobre a liberdade de expressão e existe sinceridade em cada palavra dita sobre esta terra em que pisamos: a fila do banheiro feminino.

Nestes recantos gregos onde feminazis e evangélicas (todas, geralmente, bêbadas) dividem espaços apertados entre cabines gorfadas e espelhos do tamanho de um retrovisor para retocarem o batom, cenas à parte de toda a realidade do resto do mundo acontecem. É comum que se instaure uma intimidade repentina entre você e sua colega ao lado quando ela, de repente, sem introduções nem lero-leros, se dirige a você com um belo sabe porque eu não gosto do cristianismo? Tem DOZE apóstolos, e nenhum me contempla!! Nenhum fala alguma coisa que eu noooooossa vdd minha vida é isso aí…

Até mesmo filas aparentemente comunais, silenciosas, típicas do caixa preferencial de um banco podem de repente retornar ao seu status quo com um repentino AI MIGAS, tá muito silencio aqui!!! COMO FAZ QUANDO ENCONTRA O EX???… Pronto. Eis que se inicia um verdadeiro debate diplomático de dar inveja a qualquer ONU da vida. Menina, encontra alguém pra dar um beijo na boca!1! adooooro… e então novas integrantes se soltam: (sussurando e encarando de olhos arregalados um ponto fixo na parede) a vida… é uma verdadeira compilação… de TOMADAS NO CU ou então, de dentro da cabine, se ouve uma (in)feliz cantando alegremente Beyoncé. E um verdadeiro coro se inicia.

Homens acharão exagero, mentira, até mesmo conspiração feminista pra incitar sororidade- mas creiam, machos: isso existe mesmo. Um lugar do mundo onde o ódio, o egoísmo e o andar isolado de cada um preso a uma tela de celular dá lugar a estranhas se ajudando a ajeitar a roupa (ai miga prende aqui pra mim BEM FORTE MESMO pra segura essas porra aqui, isso brigada… vai que eu seguro a porta e você ve se ta transparente pra mim, vai).

Ao inferno os papos sobre o calor, o futebol e todos os assuntos rotineiros que rondam as conversas-tipo-de-elevador em todos os âmbitos de nossa vida: o mundo precisa é da estatização das filas de banheiro feminino. Precisamos da universalização da sinceridade e da empatização com x coleguinhx- afinal, no fim das contas, estamos todos nós juntos aguardando chegar nada além da nossa vez também.



LIVRO NOVO



Thaís Amaral tem 22, mora no interior de SP e publica os murmúrios de seu mar de dentro no blog Sereia no Aquário (sereianoaquario.wordpress.com).

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