Liberdade é poder amar sem vergonha

Por Denise Carvalho

Provavelmente já te ofereceram em alguma mesa de bar a cura pra uma grande chaga da humanidade. Não estou falando de nenhuma doença terminal, transtorno psicológico ou alergia alimentar, mas de amor. Basta começar uma conversa com “acho que tô apaixonada” que imediatamente alguém diz ter a solução pro seu dilema. Seja ela mais uma dose de tequila ou uma noitada cheia de pessoas dispostas a descobrir o mundo, mas sem a menor vontade de conhecer alguém a fundo.

É o perigo por trás da filosofia do “copo sempre cheio e o coração vazio”, que diz ser mais legal ter um coração gelado do que um habitado e que vem matando as borboletas do nosso estômago com tanto inseticida, que mais hora ou menos hora elas entrarão em extinção. Como se em um mundo onde tudo ganhou a obrigação de ser instantâneo, o amor fosse o verdadeiro problema e não a falta dele.

Passamos a acreditar que todo mundo é obrigado a ficar feliz com transas de meia hora, às vezes seguidas de uma mensagem apática de Whatsapp e outras vezes nem isso. Que nossas línguas podem tocar inúmeras outras, falar quantos idiomas for possível, mas jamais podem dizer “eu te amo”.

Algo mais ou menos assim: quem se apaixona é brega, fraco e demasiadamente carente, mas quem não está disposto a isso é o ser humano de gelo mais moderno e descolado da Via-Láctea.

O desejo de estar com alguém chega ao ponto de ser reprimido, já que o fato dele existir parece estar atrelado à perda de uma solidão transvestida de liberdade, que poucos sabem reconhecer a diferença.

Pra mim, ser realmente livre é o mesmo que podermos fazer nossas próprias escolhas, ainda que isso signifique optar por se apaixonar diariamente pela mesma pessoa ou por pessoas diferentes. É o direito de mantermos nossas relações pelo tempo que desejarmos, de chama-las de relações, de tratarmos sem indiferença alguém para quem também não desejamos ser indiferentes.

Trocarmos salivas e confidencias. Dividirmos a cama e experiências, antes de nos tornarmos a geração que aprendeu a mandar nudes, mandar à merda, mas que não é apta a mandar uma mensagem que diz “é com você que quero ficar”.

E se isso for ajudar, aceite minha absolvição pelo crime de querer ser feliz ao lado de alguém. A partir de agora está permitido planejar aquele final de semana fora da cidade que você tanto deseja, fazer ligações intermináveis só pra contar como foi seu dia, mandar mensagens a hora que você bem entender e permitir-se se envolver.

Se apaixonar de verdade pode ser a coisa mais gostosa do mundo, que você está deixando de viver por medo do que vão pensar de alguém, que na verdade só preferiu arriscar a vaga possibilidade de se machucar diante da infinita chance de aproveitar a verdadeira liberdade, que é poder amar sem ter vergonha.

Exalar frieza e impedir seu coração de bater não é sinal de força, está mais para a tentativa de reproduzir a morte enquanto há vida. Enquanto a vida te traz a oportunidade de não desperdiçá-la.

Via Isabela Freitas



LIVRO NOVO



Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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