Te guardei no passado

Por um tempo pensei que não conseguiria abrir a porta e ir rumo ao desconhecido. Fiquei tão presa a você que tinha a absoluta certeza que não sairia do seu lado nunca mais. Mesmo quando você mesmo me mandou ir embora, fiz questão de bater o pé e dizer que não ia a lugar algum. E quem dera tivesse sido só uma vez – aliás, quem dera tivesse sido nenhuma – eu ainda teria menos pena de mim por me colocar entre tanto sufoco assim.

Você abriu a porta me perguntando o que eu ainda estava fazendo lá e dizendo que estava mais que na hora de sair. E eu quis ir. Ah, como eu quis te deixar. Eu desejei tanto abandonar você que mal pensava em outra coisa. O único outro pensamento que eu tinha era sobre como eu queria ficar. E esse permaneceu. E ficou. E ficou. Cansei de te dizer que não ia embora e que era melhor entender isso, mas tudo o que eu sinto hoje é vontade de voltar no tempo e não só sair por aquela porta pela qual você me expulsava, mas aproveitar e me bater com ela; pra ensinar a mim mesma que amor não se pede e muito menos se implora.

Ah, como eu queria ter aprendido isso antes. Muito antes de te ligar às 4h da manhã te pedindo em meio às lágrimas que não se esquecesse de mim. E você ao mesmo tempo que vivia me abandonando, continuava me atendendo e chorando junto comigo no telefone. Isso nunca fez sentido, mas hoje entendo. Você era independente demais para estar com alguém, mas também muito apegado para ir embora. E esse seu egoísmo me consumiu por muito tempo. Você gritava pra eu ir embora, repetia tantas vezes que já não me queria como antes, mas ao mesmo tempo me puxava de volta toda vez que eu começava a caminhar em direção à saída. Eu também preferiria que tivesse me abandonado uma vez só, mas que sumisse e de você eu só tivesse lembranças, pois teria aprendido muito antes o quanto fica piedoso sair por aí implorando permanência.

Você só soube que não queria de fato que eu fosse embora quando eu atravessei a porta e a tranquei pra nunca mais voltar. Foi o maior alívio que já senti até hoje e quando você me ligou às 4h da manhã e me pediu pra eu não te esquecer, eu não tive o que responder. Não daria pra te prometer lembrança porque já tinha te esquecido.

Eu desejei por meses que você viesse atrás de mim e dissesse que permaneceria. Só isso. Meu estado de decadência era tão grande que nem queria ouvir sobre amor. Se você tivesse apenas dito que ficaria, eu já me daria por satisfeita. Mas você veio me falar de amor, veio me dizer sobre sentimentos e que queria fazer morada ao meu lado, só que disse quando eu já não tinha qualquer afeto por você, a não ser inconformidade por tudo que tinha me feito passar.

Tudo o que eu senti quando você me prometeu a eternidade, é que eu já tinha dado tempo demais. Não adiantava mais me falar sobre o amor, quando me fez perder todo o afeto que eu tinha por mim mesma enquanto esperava pelo seu. Atravessar a porta foi o melhor que já fiz por mim e não ter vontade de olhar pra trás foi o que a vida me deu de recompensa

É…te guardei por tanto tempo na minha caixinha de eternidade. Hoje você só pertence àquela gaveta -trancada à sete chaves- chamada passado.



LIVRO NOVO



"Paulista. Pisciana. 21 anos de excesso de sentimentos. Nada como um gole de café e uma dose de drama pra passar o dia. Meu bem, eu exagero até nas vírgulas."

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