Sobre a vida e os arrependimentos que carregamos

Se você não é Edith Piaf, em “Je ne regrette rien” certamente já se arrependeu de alguma coisa na vida. Nosso caminho é feito de acertos e de erros e se pudéssemos voltar no tempo e abreviar as consequências dos nossos passos tortos possivelmente o faríamos.

Quase sempre estamos correndo para cima e para baixo, tentando resolver questões práticas do nosso dia a dia, e nesse ínterim deixamos irremediavelmente coisas, pessoas e situações importantes para depois, inclusive nós mesmos.

Muitas vezes passam-se longos anos, até que lá no finalzinho resolvemos colocar tudo para fora. Tiramos todos os apetrechos, todos os badulaques, todas as neuras, calamos o orgulho e ficamos nós, assim como viemos ao mundo, e dessa forma choramos sinceramente tudo que poderia ter sido, mas não foi.

Existe hoje na internet um website denominado “Secret Regrets” no qual pessoas falam sobre o maior arrependimento que tiveram na vida. Por lá mais de vinte e cinco mil confissões anônimas sussurram os mais diversos arrependimentos:

“Eu me arrependo de ter me casado com o meu ex-marido. Ele era psicologicamente e verbalmente abusivo para mim e para nosso filho. Nós carregamos cicatrizes invisíveis até hoje”.

“Me arrependo de ter afastado as melhores pessoas da minha vida. Hoje a solidão é um lembrete que me acompanha”.

“Lamento não ser forte o suficiente para deixá-lo. Não é que você seja uma pessoa ruim, pelo contrário, mas não é com você que quero ficar pro resto da vida”.

“Eu me arrependo de não ter visto que você era o grande amor da minha vida. Hoje estamos casados e não podemos ficar juntos”.

“Eu me arrependo de não ter sido eu mesmo”.

São inúmeras confissões que se desdobram no website diariamente, e grande parte delas parece irrevogável, contudo ouso dizer que diferente do que acontece com quem está a um passo da morte, e esse não é o nosso caso (espero), sempre há a possibilidade de reverter, com muita coragem, grande parte dos pesares de nossas equivocadas decisões ou omissões passadas.

O que precisamos ter em mente é que na vida para cada escolha sempre haverá uma renúncia. Não é possível ganhar todas, contudo pensar de forma sensata antes de agir e ter energia para tal, caso seja nossa vontade, é uma boa solução para minar parte de nossos problemas futuros.

Algumas vezes somos levados a decidir de forma precipitada na vida e em outras simplesmente optamos por não decidir. Nenhuma das duas opções é vantajosa, apesar de parecerem por vezes confortáveis.

Se em algum momento paramos em um ponto não muito agradável, se estancamos em um lugar estranho às nossas vontades, sempre existe uma porta que pode ser encontrada ou uma janela que pode ser aberta, basta que olhemos atentos e corajosos ao nosso redor.

A resolução de nossos dilemas, quando possível, nos cabe, contudo só a ética nos dirá se nossas escolhas são viáveis ou não. Por bem ou por mal, apesar de morrermos sós, na vida caminhamos juntos e muitas vezes o decidir coloca na balança a nossa felicidade em contraponto com a das pessoas que nos acompanham. Somos sempre nós versus os outros no momento de decidir. O importante é que nunca sejamos apenas nós, tão pouco só os outros. Viver é muito complexo e para isso não existem fórmulas prontas, precisamos aprender a equilibrar as coisas de forma justa.

Para quem está se despedindo da vida sobra apenas uma possibilidade, a de ser autêntico e tomar como prioridade a vontade própria, doa a quem doer. Já para nós que vivos passeamos pelo mundo, existem mil possibilidades, cada qual com seu louvor e pesar.

Se acertamos e olhamos para trás com orgulho de nossas escolhas, isso é ótimo, se erramos e podemos remediar nossas decisões, o dia é hoje e o momento é o agora e se elas não podem ser remediadas, felizmente temos a capacidade plena de aprender com cada uma delas e de, quem sabe, até mesmo transmitir algum aprendizado ao próximo.

Para nossos acertos, palmas. Para nossos arrependimentos, a resolução. Para o que não pode ser mudado, nossa ponderação em forma de ensinamentos.

“Para que serve o arrependimento, se isso não muda nada do que se passou? O melhor arrependimento é, simplesmente, mudar”. (José Saramago)

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.



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Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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