Os medos e os rótulos

Você é: hétero, Homo, Trans, Bi, Ateu,  Evangélico, Católico, Hinduísta, Budista, Desempregado,  Advogado, Enfermeiro, Professor, Copeiro, Médico, Motorista, Fazendeiro, Hippie, Nerd, Pop, Gótico, Geek, Roqueiro, Hipster, Intelectual, Funkeiro, Universitário?
E então? Consegue se definir com algumas  dessas palavras? É claro que existem milhões de outras que eu poderia citar para facilitar este exercício, porém, este não é o ponto que quero trabalhar, estas palavras não são somente palavras quando usamos elas para nos descrever ou descrever outras pessoas, caso o façamos estamos transformando-as em rótulos e a existência de rótulos para as pessoas é algo questionável.

A palavra rótulo significa:” toda e qualquer informação referente a um produto que esteja transcrita em sua embalagem“. (definição do nosso querido Wikipédia) – se acha que a fonte não é confiável, se vermos no Dicionário Michaelis teremos a mesma definição, porém, numa linguagem mais formal: “pequeno impresso de formato variável, geralmente em cores, quase sempre ornamentado com filetes, gravuras etc., e que serve para colar em frascos, garrafas, latas, caixas etc., para indicar o seu conteúdo. “.

Ou seja, rótulos são usados para descrever o conteúdo de produtos e não seres humanos, quando o fazemos acontece o movimento contrário, quanto mais rotulamos tanto as pessoas quanto nós mesmos, mais distante fica o verdadeiro conteúdo, mas por quê será que isso acontece? Será que o mundo ficou tão complexo que precisamos “facilitar” o que está acontecendo à nossa volta? Será que o mundo está tão assustador a ponto de não darmos chance a um pequeno diálogo? Será que é mais fácil eu ver uma pessoa e abrir uma gaveta de rótulos para tentar escolher se vou ou não me relacionar com ela? Será que esquecemos como conversar? Estão aí algumas perguntas para refletirmos, e sei que muitos sabem bem as respostas, porém, existe algo que é fato, temos medo. Ter medo não é errado, o tão terrível medo é uma ferramenta evolutiva essencial, antes tínhamos medo dos animais que pudessem nos devorar e sem ele morreríamos, nos tempos atuais, o que nos devora é o próprio medo e parece não termos mais controle sobre isso e somos dominados por ele, lembremos a música “Miedo” de Lenine:

“O medo é uma sombra que o temor não esquiva , O medo é uma armadilha que prendeu o amor, O medo é uma alavanca que apagou a vida, O medo é uma fenda que aumentou a dor”

Sim, temos medo, porém, precisamos ter controle disso, não precisamos ter medo de tudo e viver numa bolha, na falsa ilusão de estarmos bem e justificando que não precisamos mudar nada, talvez seja pelo medo que estamos passando que não temos mais tempo para nos dar o trabalho de conhecer de verdade as pessoas e à nós mesmos, ao invés de estarmos preocupados em falar ele é tal, eu sou tal, ela é isso, eu sou aquilo, podemos parar um pouco e respirar fundo em meio à todo esse caos, entender os nosso medos e consequentemente nos entendermos, libertarmos o amor que antes estava preso e por fim, poder falar finalmente “Eu sou” e nada mais, sem dores ou pesares.

Deixo aqui uma última citação,a qual tive o prazer de descobrir recentemente numa palestra do professor Leandro Karnal. para que esta gere reflexão sobre o amor e a amizade (a verdadeira, não aquela que o Facebook gosta de nos dizer para comemorar após um certo número de anos). Micheal de Montaigne , um pensador frânces, disse sobre o seu recém-falecido amigo:  “Se me obrigassem a dizer por que o amava, sinto que a minha única resposta seria: Porque era ele, Porque era eu.”.



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Mike A. Mazurek, formado em Comunicação e Mestrando em Comunicação e Práticas de Consumo, futuro professor e escritor pelo prazer da vida.

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