Namastê

Não poderia haver um jeito melhor de iniciar um novo post do que o(a) recebendo, caro(a) amigo(a), dessa maneira.  Entre os diversos aspectos e costumes da cultura indiana e da religião Hindu que admiro e procuro emular – ainda que na maioria das vezes apenas internamente – esse cumprimento é certamente um deles.

A saudação, que sempre vem acompanhada da união das mãos em frente ao peito ou à testa,  tornou-se mais conhecida no Brasil com a popularização do Yoga.  Namastê tem um significado muito lindo e profundo: “O Deus que há em mim saúda o Deus que há em você.” É uma saudação de sincero respeito e extremamente democrática. É o reconhecimento do brilho divino dentro de cada um de nós independentemente de sexo, raça, nacionalidade ou religião.  É tão democrática que até agnósticos e ateus poderiam usá-la se tivessem a seguinte interpretação: “O que há de melhor em mim reconhece e reverencia o que há de melhor em você”.

Claro que muita gente – acredito que muitos indianos, inclusive – repete a saudação por puro hábito, sem se dar conta de seu real significado. Da mesma maneira que muitos seguidores de outras religiões simplesmente repetem orações e preces decoradas sem se ater à mensagem.  No entanto, há também ocasiões em que o gesto não acontece e a palavra não é pronunciada, mas o sentimento e a intenção de enxergar e reverenciar o que há de melhor e mais divino no outro existem. E foi isso que me aconteceu um dia, há quase 15 anos, quando eu ainda não tinha a menor ideia do que a palavra Namastê significava.

Era um final de tarde em São Paulo e as ruas estavam abarrotadas de carros e motoristas mal-humorados. Parada na faixa do meio de uma rua larga, eu esperava o sinal verde abrir.  A janela do meu carro estava abaixada por volta de um palmo.  Sentado na sarjeta, havia um menino que tinha por volta de 14 ou 15 anos.  Sujo, maltrapilho e com cara de assaltante.  Ao cruzarmos o olhar, ele se levantou e começou a caminhar em minha direção.   “Ele vai me assaltar”, pensei.  Mesmo assim, não consegui fechar a janela na cara dele, ainda que tivesse tido tempo pra isso.  Não, eu não sou a pessoa mais pura e bondosa do mundo e naquela época era menos ainda, mas a verdade é que eu não consegui ignorá-lo e fingir que aquela pessoa não era uma pessoa. Não consegui enxergá-lo como um marginal qualquer, sem história e sentimentos.  E, por isso, sem medo algum, eu apenas sorri e disse ao vê-lo se aproximar:

– Ixi, hoje eu não tenho nada pra te dar…

De maneira rápida e agressiva, ele enfiou a mão no vão aberto da janela e colocou um caco de vidro bem perto do meu olho esquerdo, gritando:

– Não tem nada, o caralho! Me dá R$ 50,00!!!

Tentando alcançar a bolsa que estava no chão, em frente ao banco do carona, comecei a chorar.  Tão ligeiramente quanto havia colocado a mão dentro do carro, ele a tirou e num tom bem mais calmo, disse:

– Me desculpa. Eu nunca ia te machucar… Ninguém nunca sorriu pra mim quando eu chegava pra assaltar. Deus te abençoe.

E, ao invés de me assaltar, assim ele se foi, me abençoando e me deixando ainda com mais lágrimas nos olhos e um sentimento de profunda gratidão por me fazer acreditar que, no fundo, somos, sim, todos nós, seres de natureza boa e divina.

Você pode achar, com todo o direito, que só penso assim porque nada me aconteceu naquele dia. Sim, pode ser. Mas também pode ser que nada tenha me acontecido naquele dia justamente porque penso assim.  Há, ainda, quem diga que se eu sair por aí acreditando que todo mundo é bom e distribuindo sorrisos para assaltantes, vou acabar com um tiro na cara.  Em primeiro lugar, eu nem penso na possibilidade de sair sorrindo para assaltantes simplesmente porque não espero encontrá-los por aí.  Além disso, prefiro, sim, acreditar na bondade das pessoas, até daquelas que fazem de tudo para nos provar que não são boas.  Pode ser irrealista, ingênuo e até utópico, mas, se você, caro(a) amigo(a), souber uma outra maneira melhor de viver a vida que não seja a de expressar o seu melhor e reconhecer o melhor no outro, por favor, me ensine e eu a acatarei sem pensar!

Namastê!



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Formou-se em Publicidade e Propaganda, mas é professora de coração. É também praticante de Yoga e meditação - embora com muito menos frequência do que gostaria - e estudiosa de assuntos ligados ao desenvolvimento pessoal e espiritual. Tão apaixonada pelo povo e cultura orientais que, a cada chance de viagem, dá um pulo do lado de lá.

3 COMENTÁRIOS

  1. Ao ler me emocionei e chorei!! Historia emocionante!!! Prova de que ninguém por mais que viva uma vida de marginalidade é completamente mau!!! NAMASTÊ!!

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