“A gente só enxerga o que já está preparado para ver”

Peguei a frase-título emprestada do escritor Bernardo Carvalho porque hoje tive uma grata surpresa. Descobri, da melhor maneira que eu poderia imaginar, que ainda há fome de poesia e afeto, de gratidão e gentilezas.

De vez em quando a gente só consegue enxergar aquilo que está escrito em letras garrafais. Relutamos em aceitar as entrelinhas das despedidas, do mesmo modo que demoramos para acatar a irrefutável verdade de que carregamos dons, temos potencial para sermos amados, e somos melhores do que imaginamos.

Hoje escrevi um desabafo na minha página no Facebook e no fundo esperava receber inúmeras críticas. Esperava pelo pior, pois se venho pregando valores, como posso reclamar de audiência? Será que isso não demonstra que sou uma farsa? Uma pessoa mais preocupada com números do que com conteúdo?
Mas quis bancar o desabafo assim mesmo, pois seria uma forma de entender a causa do descontentamento das pessoas. Porém, para minha grande surpresa, só recebi incentivo e carinho de todos. Nenhum comentário ofensivo ou maldoso. Nenhuma critica. Nenhum desacato.
De repente entendi que precisava receber esse retorno. Precisava ler em mais de 100 comentários que ainda há fome de afeto e poesia, e que as pessoas que acompanham a página têm muito a oferecer a mim também.

Precisei ler em letras garrafais aquilo que custei a acreditar. Que há sentido no que me propus a fazer. Que ainda há tempo e espaço para tocar o coração das pessoas. Que ainda existem pessoas desejando espalhar coisas boas.

Não enxergamos o que não estamos preparados para ver, e precisei sentir que afundava para descobrir que sabia nadar.
De todos os tempos, meu tempo tinha que ser agora.

Do mesmo modo, de vez em quando somos obrigados a nos render. A aceitar o fim de um tempo que se escancara em letras garrafais na nossa frente. A descobrir que desistir pode ser parte de nossa força também.

Pode levar algum tempo até que possamos enxergar. É preciso lapidar as defesas, aceitar o que não depende de nossa condução, deixar a chuva cair, lavar, arrastar. Então, num dia qualquer, ao olhar para trás, reparamos admirados que a verdade esteve sempre presente, a gente é que custou a perceber.

Quanto a mim, aos poucos vou lapidando minhas inseguranças. Descobrindo que meu caminho permanece florido apesar do medo que tenho das ervas daninhas. Aprendendo que cada história tem o seu desfecho, e não preciso antecipar o fim só porque tenho medo de que ele chegue até mim. Reconhecendo que é possível ser feliz mesmo quando algo sai dos eixos, e finalmente sendo grata ao descobrir que das dificuldades surgem grandes surpresas.

A gente só enxerga o que já está pronto para ver. Que nosso tempo chegue com calmaria, permitindo que as duras verdades não machuquem definitivamente; e que as boas surpresas nos ensinem com delicadeza a acreditar nos dons e milagres que carregamos…

*Imagem: Via pinterest, por Childphotocompetition.com



LIVRO NOVO



Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

14 COMENTÁRIOS

  1. Ahhh,Fabíola!
    É preciso ter muita coragem para falar sobre sentimentos!Sempre que falamos sobre eles estamos expondo o que acreditamos e as críticas doem mais.
    Em tempos onde a felicidade é obrigação dizer que não sente bem ou desabafar é bem custoso.
    Mas,é um preço que VALE A PENA por ter sido sincera com você e com as outras pessoas.
    Seus textos são humanos e sensíveis.
    Grata por poder acompanhar sua jornada! 😀

  2. Olá Tassif! Sinto o mesmo que você. Por isso o receio em declarar meu desconforto. Porém, ao descobrir que isso me aproxima das pessoas, deixo o medo de lado e me assumo mais humana e verdadeira. Obrigada pelo carinho de vir até aqui comentar. Fico feliz por ter você me acompanhando! Bjs!!!

  3. Olá Tassif! Sinto o mesmo que você. Por isso o receio em declarar meu desconforto. Porém, ao descobrir que isso me aproxima das pessoas, deixo o medo de lado e me assumo mais humana e verdadeira. Obrigada pelo carinho de vir até aqui comentar. Fico feliz por ter você me acompanhando! Bjs!!!

  4. Fabíola, adorei o seu texto. Acho que, como você disse, há fome de poesia e afeto, especialmente nos dias de hoje que estamos passando por momentos críticos que acabam nos afetando de várias maneiras.

    Gostaria de aproveitar também e chamá-la para visitar minha página. É uma proposta diferente da sua, mas espero que goste. http://www.comomamaegosta.com.br

    Grande abraço.
    Tacia

  5. Fabíola, acho que só agora descobri a verdade que sempre esteve perto de mim. Refiro-me às ervas daninhas, dos amigos invisíveis, da irmã que só pensa em si, do egoísmo que não aceito,da dureza que é fazer as pessoas acreditarem em você e não no seu carro, na suas roupas, ou no seu dinheiro. Com 29 anos é que descobri que sempre há uma segunda intenção por detrás daquele favor, ou gentileza…a cortina se abriu, e agora enxerguei o mal que nunca via…sabe de uma coisa, queria que a cortina ainda tivesse fechada…mas, não posso deixar que isso me machuque definitivamente…confesso que tá sendo difícil…porque a esperança nas pessoas tá bem pouquinha!! NUNCA me imaginei falando isso….nãoooo…"esperança a gente não pode perder"! preciso de um tempo!

  6. Você inspira tanto! Que dom e sabedoria. Continue a disseminar amor e reflexão, o mundo precisa de tudo isso é mais um pouco! Sempre paro para ler seus textos quando sinto que preciso enxergar diferente alguma situação. E tudo fica muito diferente! Agradeço pela página, e por você permitir-se ser instrumento belo de disseminação de amor e compaixão. Grata!

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