A partícula de Deus

(Texto também publicado no jornal “A Folha de São Carlos”, edição no 13.770. , pág 02, do dia 07/12/2012)

Domingo passado Marília Gabriela entrevistou Marcelo Gleiser, físico e astrônomo, entre outras atribuições. Ele falou de física, filosofia e fé. Explicou sobre a “partícula de deus”_ assim, em minúsculo_ e me encantou ao falar de uma disciplina que frequenta nos EUA: “física para poetas”.

Virei fã. Pois não é todo dia que a gente se depara com um grande cientista que _ a despeito de ser conhecedor de matemática, física, matéria, massa, partículas, teoria da relatividade, “átomo primordial”, “vácuo quântico”, etc _ admite que algumas coisas só se explicam à luz da fé. A fé que nos faz crer no invisível _ e nem por isso inexistente. A fé que nos conduz a um estado de paz mesmo quando tudo desmorona e explica a coragem de seguir em frente quando toda explicação falha. A fé que justifica e valida o inexplicável, que traduz o intraduzível.

Infelizmente não é possível obter em pesquisas científicas a partícula fé.

Fé é não saber, e mesmo assim crer.

Crer na imprevisibilidade da vida, que tece um ponto aqui e arremata lá na frente;

Crer no encontro, na inexplicável certeza de que alguns caminhos tinham que se cruzar _ para o bem ou para nosso crescimento;

Crer mesmo não enxergando… confiar e acreditar na estrada mesmo quando a neblina encobre todo o caminho.

Crer que o fato de estar no lugar certo na hora exata pode ser chamado “sorte”, mas não deixa de ser providência;

Acreditar que coincidências podem ser eventos aleatórios que te conduzem a um propósito.

Não entendo nada de física mas a ciência me maravilha com suas certezas, dando nome aos fenômenos naturais, amparando dúvidas com comprovações, ensinando que a matéria não é tão sólida, que somos feitos de átomos_ prótons, nêutrons e elétrons em vibração. Somos energia, estamos em constante movimento e irradiamos calor, sensações.

Captamos fluxos, agitamos outras matérias, organizamos e desorganizamos nosso equilíbrio.

E isso nos dá a certeza de que podemos sentir uns aos outros. E sentir pode ser muitas outras coisas além do que só é visto e tocado.

É estar em harmonia com o que acontece, deixando a maré conduzir nosso barquinho em vez de tentar remar para o lado contrário;

É aceitar os revezes como parte do fluxo natural, não como acidentes de percurso;

É entender as pessoas além do que elas dizem, agem ou omitem; permanecendo”no fundo de cada vontade encoberta”, como cantou Caetano em “Força Estranha”;

É conectar-se consigo mesmo_ independente de dogmas, julgamentos, egos e leis _ buscando em si as respostas, descobrindo que você é e abriga a partícula divina.

A ciência nos coloca de volta às origens, ao que é natural, onde tudo começou.

E nos reconhecemos pequenos, partículas de Deus_ assim, com letra maiúscula.



LIVRO NOVO



Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

6 COMENTÁRIOS

  1. Oi linda, como você, acredito também no Inexplicado, no Inesperado (com maiúsculas). É a ciência de que somos um pedaçinho desse Todo que Vibra, Pulsa e É todas as coisas.

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