Recado para Natália

Acompanho a psicótica Natália ( http://www.adoravelpsicose.com.br/ ) há algum tempo e apesar dela ter 27 anos e eu 38, me identifico muito com a personagem e a pessoa: a Natália psicótica e a Natália redatora, atriz e blogueira.
Sendo 11 anos mais velha considero-me uma espécie de “tia”, uma tia moderninha que ainda se vê com o frescor dos 27 e a maturidade dos quase 40 (ai meu Deus…). Sendo assim, tomo a liberdade de me sentar na cadeira da Dra. Frida e mandar um recado prá Natália, não só a psicótica, mas também a apaixonante Natália Klein, a qual admiro muito.

Querida Natália:

Lendo seus posts, assistindo sua entrevista no Jô, acompanhando seu programa no Multishow e revivendo com você meus antigos dramas consigo enxergar com clareza porque você ainda não encontrou o cara certo, um namorado prá chamar de seu. Sei porque também já fui assim: Psicótica, engraçada, sempre disposta a fazer os outros rirem das minhas desgraças e criando disfarces para minhas dores. Apesar de carregar na bagagem 3 namoros e 1 casamento que já dura 11 anos, ainda assim vivi dramas homéricos dignos de uma psicótica:

Pequenos consolos: Já fui patinho feio, Natália. Ou melhor, eu era o primo horrendo do patinho feio. Melhor ainda: Nem o primo horrendo do patinho feio queria namorar comigo.
Não que eu fosse feia. Eu era esquisita.
Usei colete ortopédico Natália, do pescoço aos quadris. Você sabe o que é isso? É 1000 vezes pior que as clássicas botas ortopédicas_que eu também usei.  Meu apelido era “Robôcop” e eu tinha 13 anos! Fiquei naquela jaula por 1 ano e meio e quem dançava no bailinho com o robôcop?… Quem beijava o robôcop?… Ninguém Natália…Ninguém…
Também usei óculos e aparelho ortodôntico, dá prá imaginar? Mas não pára por aí: Prá piorar, eu adorava queimar meu próprio filme nos cadernos de perguntas  (você é da época dos cadernos de perguntas Natália?).  Eu era uma espécie de Sandy do filme “Nos tempos da brilhantina” misturada com a Sandy irmã do Júnior. Era uma freira evangelizadora na 8a. série e aproveitava os cadernos de perguntas prá moralizar a galera_você imagina o estrago, Natália?
Depois, com a aparência melhorada e não sendo mais tão santinha quanto antes, consegui algum progresso, mas eu morava numa cidade pequena e todo mundo já tinha construído uma imagem mental péssima de mim. Não adiantava dizer que eu era moderninha ou menos esquisita… ninguém_eu disse ninguém_acreditava Natália.
Então entendi que não podia continuar sendo o “robôcop-sandy” na cidade pequena. Ali seria impossível reinventar minha vida. Prestei vestibular de odontologia com a intenção básica de criar uma nova versão de mim mesma.
Deu certo. Entrei na faculdade numa cidade diferente aos 17 . Lá, ninguém conhecia meu passado “negro” e pude mostrar que eu tinha outros atrativos também; não precisava continuar vivendo uma história em cujo roteiro eu era a gata borralheira e fingia estar me divertindo com isso. Haviam outros papéis e eu estava disposta a vivê-los.

Aí de repente você surge fazendo rir porque traz à tona aquilo que levamos anos tentando esconder. Acaba com sua reputação enquanto satiriza nossos traumas, fraquezas e dificuldades. Com leveza e bom humor, se humilha para nos redimir…

Queria poder te dar algumas dicas nessa jornada psicótica e tomei a liberdade de criar um pequeno manual:

Primeiro: Cuidado para não se sacanear demais. O pior não é os outros acreditarem nessa caricatura; o pior é VOCÊ acreditar e se auto sabotar porque sabe que esse auto-boicote  faz sucesso, diverte as pessoas, mas quando as cortinas se fecham, a história é só sua.
Morri de rir quando  disse que prefere ter razão do que ser feliz, pois “a felicidade é muito abstrata!”. Mas será que lá no fundo você não se sente como a Mercedes do filme “Divã” quando diz pro analista “E se eu lhe disser que estou com medo de ser feliz pra sempre?”
Porque é isso que eu enxergo estando de fora Natália. Você disfarça seu abandono com frases ousadas e bem humoradas, como se a vida fosse realmente uma sitcom, e nessa comédia será que um dia você terá sensibilidade para identificar seus medos? E seus desejos?

Segundo: Às vezes o namorado real pode estar passando por você nesse momento, mas acostumada que está em “não-dar-certo-com-ninguém” você pode reclamar do jeito como ele combina o tênis branco com o cinto laranja, ou alegar que ele chupa a saliva entre os dentes depois de uma refeição, ou cismar com os tufos de pelos na orelha dele,ou quem sabe criticar seu gosto musical, o toque do celular … sem perceber que está mais uma vez afastando a oportunidade de estar com o cara bacana que pode ser o final feliz da sua história. Ninguém é perfeito Natália_ninguém (quem nunca foi estranho que atire a primeira pedra!). E se você deixar, o cara esquisito pode te provar que tem mais a oferecer do que só as esquisitices dele.

Você já parou pra pensar que o grande amor da sua vida pode estar separado de você somente por uma maldita pochete na cintura?

Terceiro:  Sua amiga de infância te aconselhou a sair com vários ao mesmo tempo. Ela estava certíssima. E não é questão de desespero Natália, é estratégia, dá certo. E realmente você fica mais leve quando não se fixa só em um. Mas também não precisa ir pra cama com eles; não enquanto não for sério, com chances de virar namoro e quem sabe uma cerimônia íntima pra umas 100 pessoas…
Por trás de todo humor, você se leva à sério demais. Ninguém é muita areia pro caminhãozinho de ninguém. Pessoas aparentemente interessantes apaixonam-se por outras aparentemente irritantes e banais.

Quarto:  Pare de ser preconceituosa. Seu futuro marido pode gostar de sertanejo universitário, ter pelos nas costas e te fazer muito, muito feliz.
Eu tinha preconceitos com caras mais velhos. Aos 26 anos achava 30 o limite. Mas a vida não se interessa por nossos “fricotes” e me apresentou um “idoso” de 41 anos. Eu quase surtei quando vi que ele carregava no bolso da calça um lenço DE PANO e um pentinho de PLÁSTICO, acessórios clássicos de tiozinhos! Ele gostava de música clássica, eu adorava rock; ele era caseiro, eu saía de terça a domingo; ele falava baixo, usava calça com pregas e nunca me rejeitou_o que é um defeito enorme para uma psicótica. Mas era paciente, generoso, amoroso, presente, gentil. Tive que recolher meus julgamentos e deixar meu orgulho de lado. Estava cansada dos mesmos tipos e pensei que aquela seria a maior transgressão da minha vida, mas estava disposta a ler o roteiro até o fim. Com o tempo minhas defesas foram rompidas, me deixei cativar e é a história que tenho mais orgulho de ter vivido. Casamos, tivemos um filho, somos felizes.

Então Natália, o que quero dizer é que você é a representação da menina que carregamos dentro de nós_ seja essa uma frase clichê ou não. Vejo muito de mim em você mas não tenho saudades do tempo em que era “uma pobre torta garfada e destroçada” como você mesma disse. Torço muito por você e tenho certeza que ainda vai ser a torta preferida de alguém,”aquela que é levada dentro do pacote – o pacote completo, com todos os defeitos e qualidades” porque por trás de toda essa sua psicose, existe uma mulher fascinante que só precisa ser descoberta.

 

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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

7 COMENTÁRIOS

  1. Oi Fabíola!
    Li seu texto hoje no MMqD e me emocionei demais! Gravidinha de poucas semanas que sou, achei curioso que um texto sobre uma "fase materna" tão diferente da minha pudesse me tocar tanto…aí vim correndo ler direto da fonte, sabe?! rs
    Pois bem, cheguei e já gostei logo de cara! Me identifiquei com os títulos tirados de músicas, adorei as citações escolhidas aqui pra barra lateral…e resolvi que vou ler o blog todinho!
    Comecei do começo e logo me deparei com esse texto aqui…
    Putz! Sua descrição da sua infância "sou eu escrita"! rs O colete de robocop e tudo mais…hahaha
    (e concordo demais com o recado pra Natalia! pensei muitas vezes algumas dessas coisas enquanto lia o Adorável Psicose!)

    Engraçado como às vezes parece que "o santo bate", não?! Aqui bateu!!!
    Agora dá licença que vou continuar na minha incursão pelos seus afetos!!! =)

    Beijo!

  2. Que delícia Gabi!!! Obrigada pelo carinho, pela visita e comentário! Fui ao seu blog tb, dá uma nostalgia danada acompanhar o processo todo de gravidez… Curta muito!!! Bom saber da sua identificação, principalmente com o colete rs… Bjo gde!!!!

  3. Amei o texto. Primeiro porque me nome é Natália. Segundo por ser a garota robocop de 13 anos e por último ser ainda essa garota que de alguma forma precisa sair da caixa. Um grande abraço continue sendo essa escritora fantástica.

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